Os sonhos e os desafios de quem é professor no Brasil

Neste Dia do Professor, o 'Estado' ouviu docentes em diferentes fases da carreira

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Por Isabela Palhares
Atualização:

“Quando comecei a dar aula, ouvia muito que só fica na profissão quem tem muito amor. É claro que gostar e amar o que se faz é importante, mas a gente não exige isso das outras profissões. Temos de dar condições para o ensino: valorização da sociedade, respeito, salários melhores, condição de trabalho. Não é só amor”, conta o professor de História Caco Neves, de 52 anos, 32 deles em sala de aula. Para este Dia do Professor, o Estado ouviu quatro docentes da educação básica em fases diferentes da carreira e todos contaram ter o mesmo desejo - a valorização de quem ensina.

Neves conta que, quando decidiu cursar História e dar aulas, não sofreu resistência ou crítica de nenhum colega ou parente. “Agora, isso é comum. Nenhum jovem quer ser professor e os poucos que têm esse desejo são desencorajados porque as condições estão cada vez mais difíceis”, diz.

Professores Victor Sobreira que começou a lecionar recentemente ao lado do veterano Caco Neves (camisa estampada) - ambos professores de história do Colégio Santa Cruz Foto: NILTON FUKUDA/ ESTADÃO

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A situação acontece frequentemente com seu colega Victor Sobreira, de 33 anos, também professor de História no Colégio Santa Cruz, zona oeste de São Paulo. “Minha família e amigos nunca criticaram, mas, sempre que conheço alguém e me apresento como professor, a reação é sempre de surpresa, me perguntam porque não escolhi outra carreira que pagasse melhor ou tivesse mais prestígio”, conta.

Para Rafaella Derballe, de 28 anos, professora do 3.º ano do ensino fundamental no Colégio Santa Maria, na zona sul, a certeza pela profissão veio cedo, quando ainda era alfabetizada e tinha como brincadeira favorita dar aulas para as suas bonecas. “Eu nuncapassei mais de um ano longe da escola e isso me deixa muito feliz. Eu terminei o ensino médio e já entrei na Pedagogia, e no mesmo ano eu já estava estagiando”, conta. 

Rafaella diz não se imaginar longe da sala de aula, mas lembra que a profissão exige muito mental e fisicamente. “O professor é professor em tempo integral. Ele sai da escola e continua pensando nos alunos, em como melhorar suas aulas, a forma de ensinar, de se aproximar da turma.”

Neves dá aula para alunos do ensino fundamental 2 (do 6.º ao 9.º ano) e também destaca a exigência física. “Prender a atenção e interesse de 34 adolescentes por 50 minutos exige muito do corpo. Você precisa andar, se movimentar pela sala, ter projeção de voz.”  Professora dos anos iniciais do ensino fundamental há 30 anos, Patrícia de Almeida, de 50 anos, se assusta com o crescimento de cursos de Pedagogia e Licenciaturas na modalidade a distância. “Não é possível ser um bom professor sem ter contato com a sala de aula”.

Patrícia conta que os anos em sala a ensinaram a entender gestos, expressões e olhares dos alunos e acredita que esse seja o motivo de conseguir fazer com que aprendam e se interessem pela escola. “Não consigo me ver trabalhando de outra maneira, sem essa aproximação com as crianças”, disse a professora, que se aposentou neste ano, mas não planeja parar de dar aula. 

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