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De sala de xadrez a 'cantina delivery': escolas de SP se adaptam para receber 100% dos alunos

Colégios particulares têm de resolver 'quebra-cabeça' para atender todos os estudantes e garantir distanciamento de um metro

Por Julia Marques
Atualização:

Com a régua na mão, o diretor tira medidas das salas de aula e tenta resolver um novo “quebra-cabeça” da pandemia: colocar mais alunos na escola, com distanciamento entre eles. O governo paulista liberou os colégios para receber até 100% dos estudantes, desde que não fiquem próximos. No jogo de encaixe das escolas para o segundo semestre, vale até adaptar a biblioteca, dar aulas na sala de xadrez e transformar a cantina em “delivery” para evitar as aglomerações. 

Em boa parte dos colégios paulistas, o segundo semestre letivo começa nesta segunda-feira, 2, sob expectativa de alunos e medo de contaminação por parte dos professores. Diferentemente do que ocorreu até agora na pandemia, não há mais limite de ocupação das escolas em São Paulo: na prática, cada colégio pode receber todos os seus alunos, desde que garanta o distanciamento de um metro entre eles para reduzir o risco de contaminação pelo coronavírus. 

Espaço de xadrez virou sala de aula no Domus Foto: Werther Santana/Estadão

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Pesquisas realizadas pelos colégios com as famílias indicaram alta adesão ao ensino presencial no segundo semestre, principalmente entre os alunos mais novos, que não acompanham bem as aulas remotas. No Colégio Domus Sapientiae, no Itaim-Bibi, zona sul de São Paulo, o interesse pela volta ficou na faixa dos 80%. Para acomodar todos que querem voltar, o diretor saiu à procura dos melhores espaços no colégio. 

“Percorremos toda a escola para resolver esse ‘pepino’”, conta o diretor Antônio Lamounier. As planilhas nas mãos da equipe indicavam os alunos que estariam de volta. O trabalho era medir as salas para saber se caberiam. “Vimos que, em alguns casos, a sala não tinha condição de atender com um metro de distância. Então, fizemos realocações.” Na sala de xadrez, mais espaçosa, as bancadas do jogo deram lugar às carteiras. E os alunos do 5.º ano foram transferidos para um prédio maior, com estudantes mais velhos.

Até a biblioteca foi adaptada em uma das unidades do Colégio Pentágono, na zona oeste, para virar sala de aula. “A biblioteca é um grande espaço. Tiramos os livros, as prateleiras. Colocamos a lousa e todo o equipamento necessário”, conta a diretora pedagógica, Patrícia Nogueira. A escola, que recebeu a adesão de 94% das famílias ao ensino presencial, também prevê separar uma turma em duas salas quando os alunos não couberem em uma só classe com o distanciamento exigido.

Varandas cobertas em algumas salas de aulas, biblioteca, teatro, quadras e jardins são usados pelo Colégio Santa Cruz, na zona oeste, para atividades pedagógicas. O segundo semestre letivo na escola começou na quinta-feira. Uma das preocupações é garantir não só a distância entre os alunos, mas a ventilação dos ambientes. 

Área arejada no mezanino do teatro é usada para atividades pegadógicas Foto: Colégio Santa Cruz

Estudos já demonstraram que a principal forma de contaminação do coronavírus é pela transmissão aérea - e não pelo contato com superfícies. Pequenas partículas suspensas no ar, liberadas durante a fala ou pela respiração, são capazes de infectar, mesmo quando as pessoas estão distantes entre si. Espaços abertos facilitam a dispersão dos vírus e, por isso, investir em áreas arejadas e boas máscaras é mais importante do que limpar sapatos ou mochilas. 

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Nesse ponto, as escolas preveem dificuldades “meteorológicas”. O frio recorde em São Paulo será um desafio para arejar ambientes. “Torcemos pela melhora do clima porque temos de manter as janelas e portas abertas”, diz Patrícia. Outra preocupação é com a hora do recreio, quando os alunos tiram as máscaras para comer e tendem a se juntar.

Santa Cruz realiza atividades ao ar livre para evitar contágio Foto: Colégio Santa Cruz

Uma das unidades filiadas da Red House, recém-inaugurada no Ipiranga, zona sul, foi planejada com dois refeitórios por causa da pandemia. Haverá revezamento no intervalo. Nas unidades da Luminova, um esquema de “cantina delivery” promete evitar aglomerações no recreio. Os alunos pedem o que querem comer por um aplicativo e a cantina entrega nas mãos do aluno, dentro da sala, explica o diretor acadêmico da rede, Yan Navarro.

Os colégios pretendem manter a estratégia de “bolhas” adotada até agora - quando um grupo de alunos não tem contato com outro - para facilitar o rastreio em caso de infecções. Agora, a diferença é que as bolhas cresceram em tamanho: uma turma inteira será uma bolha. No colégio Albert Sabin, na zona oeste, haverá escalonamento para entrar na escola, que conta com nova portaria. Carteirinhas de cores diferentes ajudam a separar os fluxos.

Cartazes no Domus indicam necessidade de distanciamento Foto: Werther Santana/Estadão

Toda essa engenharia é para evitar surtos, ganhar a confiança dos pais e garantir um fim de ano escolar sem novas restrições Em março, apenas um mês após o início das aulas, o avanço da segunda onda suspendeu atividades escolares e muitos colégios registraram infecções. Agora, o avanço da vacinação - inclusive entre professores - é um alento para a volta às aulas, mas os colégios tentam manter os dois pés no chão. “Voltaremos felizes, sim, com uma escola mais viva, movimentada”, diz Lamounier, do Colégio Domus Sapientiae, associado à Inspira Rede de Educadores. “Queremos virar a página da pandemia, mas temos de lembrar que ela ainda está aí, não acabou.”

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Volta na rede estadual teve baixa adesão

O segundo semestre na rede estadual paulista também começa nesta segunda-feira, 2. O cálculo de alunos será feito conforme a estrutura física das unidades. A distância entre carteiras será de um metro. No primeiro semestre, a adesão à volta presencial foi baixa e um dos desafios será atrair estudantes para a escola e conquistar a confiança dos pais.Pesquisa do Sindicato dos Professores do Estado (Apeoesp) indicou que 80% dos entrevistados, entre pais, alunos e professores, têm medo de contrair a covid no retorno às aulas presenciais. 

Outros Estados também planejam a reabertura das escolas públicas em agosto. Para monitorar o cumprimento de protocolos, a Frente Parlamentar Mista da Educação vai realizar, a partir de segunda-feira, 2, uma "blitz". Será aberto um canal de denúncias sobre a retomada das atividades presenciais. A própria comunidade escolar poderá enviar comentários pelo e-mail blitzretornoseguro@frentedaeducacao.org.br ou pelas redes sociais da @frente.educação sobre descumprimentos dos procedimentos sanitários durante a volta às aulas.

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Como saber se a escola é segura contra a covid? Tire suas dúvidas

1. As escolas agora têm limite de ocupação? Não. No início de julho, um decreto do governador João Doria (PSDB) desobrigou escolas públicas e privadas de seguirem um porcentual máximo de ocupação. Até então, o limite era de 35%. 

2. Qual deve ser o distanciamento entre os alunos? As escolas devem garantir o distanciamento de um metro entre os alunos – antes, a regra era 1,5 metro. 

3. O uso de máscaras continua obrigatório nas escolas? Continua obrigatório, para estudantes e professores. Os colégios também devem evitar aglomerações na entrada.

4. A volta às aulas é obrigatória para todos os alunos? Não. Os pais podem decidir se mandam ou não os filhos para a escola. Quem ficar em casa deve ter acesso ao ensino remoto. Para setembro, o secretário estadual da Educação já afirmou que pretende tornar o retorno obrigatório. 

5. O que devo observar na escola do meu filho para saber se é segura contra a covid-19? A escola deve ser capaz de garantir o distanciamento entre os estudantes. Também deve ter atenção à ventilação dos ambientes. As salas não devem ser fechadas e é melhor privilegiar espaços abertos, como quadras e jardins. Outro ponto importante é verificar se a escola faz o rastreio de infecções e isola estudantes ou professores contaminados. 

6. A escola deve fornecer álcool em gel? Continua importante manter a higiene das mãos, mas é preciso atenção: o álcool em gel, sozinho, não garante proteção. Medidas como tapetes sanitizantes na entrada, adotadas por algumas escolas, são pouco eficazes. Mais importante do que limpar sapatos e mochilas é garantir a ventilação dos ambientes e o uso correto de máscaras. Especialistas recomendam que pelo menos os professores usem máscaras profissionais do tipo PFF2, que filtram mais partículas e são mais indicadas contra a variante Delta do coronavírus. 

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7. As escolas públicas também vão receber 100% de alunos? As escolas estaduais vão determinar o número de alunos de acordo com a capacidade física, e o distanciamento será de um metro. O mesmo vale para escolas municipais da capital. Na rede municipal, apenas as creches terão limite de ocupação, de 60%. 

8. O que fazer em caso de sintomas da covid-19? Caso a criança apresente sintomas da covid-19 (como febre, tosse e coriza), a recomendação é não mandá-la para a escola e informar o colégio. Crianças que tiveram contato com pessoas infectadas também não devem frequentar as aulas, mesmo que não apresentem sintomas. 

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