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Brasil perde liderança no ranking das melhores universidades da América Latina

PUC chilena assume liderança; especialistas e reitores veem ligação entre corte de verba nos últimos anos e recuo no desempenho

Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - Pela 1.ª vez, o Brasil não lidera o ranking das mais prestigiadas instituições de ensino superior da América Latina. A PUC do Chile alcançou o topo, nos últimos anos ocupado pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade de Campinas (Unicamp). O ranking de reputação acadêmica da revista britânica Times Higher Education (THE) foi publicado nesta terça-feira, 18. 

Para especialistas e reitores, a perda de capacidade de investimento das instituições públicas no ensino e na pesquisa, em meio à redução orçamentária vivida nos últimos anos, é um dos fatores que pesam na perda de posições no ranking. 

Unicamp, que nos últimos dois anos liderou o ranking, caiu para a 3ª posição Foto: Antonio Scarpinetti/Divulga

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A PUC chilena alcançou a liderança, após três anos em terceiro. Segundo o relatório da revista, as universidades chilenas tiveram maior pontuação por terem investido na titulação de professores. A USP permaneceu em 2.º e a Unicamp caiu da 1ª para a 3ª posição. Mas o relatório destaca que as duas instituições melhoraram na pontuação, mas não o suficiente para manter o status anterior. Ou seja: a PUC do Chile teve melhora mais rápida e mais forte que as paulistas. 

A avaliação do THE utiliza informações como número de citações em pesquisa, o nível de internacionalização, o grau de titulação dos professores, a transferência de conhecimento para a sociedade, dentre outros aspectos - são 13 no total.

Marcelo Knobel, reitor da Unicamp, diz que a flutuação no ranking é natural e destaca a melhora na pontuação da universidade. Mas diz que a perda de liderança brasileira é um alerta importante. “Para as instituições e o País, porque muitos desses parâmetros de avaliação de fato não temos conseguido melhorar, por causa de restrições orçamentárias. No nosso caso, por exemplo, não conseguimos melhorar a relação professor-estudante”, afirma. 

Segundo Knobel, as três universidades paulistas estão com orçamento semelhante ao de dez anos atrás, quando tinham menos cursos e estudantes. A Unicamp, por exemplo, abriu um novo câmpus e tem 2,5 mil alunos a mais que há uma década, mas mantém o mesmo patamar de recursos. “Com essa situação financeira, não temos como fazer investimento agressivo e competitivo em pesquisa e ensino.” USP, Unicamp e Unesp são financiadas por uma cota fixa de 9,57% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - o que resulta em perda de receitas em períodos de crise econômica. 

Segundo os dirigentes, outra diferença está no porte das instituições do topo. “Deve-se atentar que as coirmãs que compartilham conosco os primeiros lugares têm tamanho e abrangência menor que a nossa”, diz Vahan Agopyan, reitor da USP. A PUC de Santiago, privada, tem 29 mil alunos. A USP tem mais de 90 mil na graduação e na pós.

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Alerta

De 150 instituições do ranking, 52 são brasileiras - país com maior número de classificadas. Apesar disso, 13 importantes universidades brasileiras caíram no último ano, como as federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Rio (UFRJ), da Bahia (UFBA), de São Carlos (UFSCar), entre outras. 

“Esta instituição (Unicamp), bem como várias outras brasileiras, teve menor pontuação por impacto de citações (em pesquisas científicas) este ano, o que sugere que o País deve dar mais atenção à qualidade da pesquisa para evitar queda maior no futuro”, diz o relatório.

Há ao menos dois anos, a THE alerta para a necessidade de mais e melhores investimentos do Brasil em ensino e pesquisa. Na edição anterior, o relatório dizia que “apesar do domínio regional contínuo, a situação econômica brasileira coloca o sistema de ensino superior em posição precária”. Este ano, o bloqueio de verba para as federais, imposto pelo governo Jair Bolsonaro, fez professores e alunos irem às ruas em protesto. O Ministério da Educação (MEC) não se posicionou até as 19 horas desta terça. 

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Tendência é de novas quedas, dizem especialistas

Especialista em ensino superior da Unicamp, Leandro Tessler diz que a queda de prestígio está associada a menos investimentos. “Estamos caindo nesse e em outros rankings. Infelizmente, a tendência é de piorarmos ainda mais porque até agora os rankings estão captando uma desaceleração da melhora, já que eles trazem o quadro de dois ou três anos atrás.”

Simon Schwartzman, da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior, também afirma que a tendência é de queda das instituições nos rankings. “A tendência é de que os recursos públicos para o ensino superior não aumentem. É difícil, mas as universidades terão de pensar em alternativas”

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Veja o ranking com as 10 primeiras universidades abaixo

A tabela completa pode ser acessada no site da THE

1º - PUC do Chile

2º - USP

3º - Unicamp

4º - PUC-Rio

5º - Instituto de Tecnologia de Monterrey (México)

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6º - Unifesp

7º - Universidade do Chile

8º - UFMG

9º - Universidade dos Andes (Colômbia)

10º - Unesp