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Opinião|Votos em meio à pandemia

Que sejamos uma geração de adultos em quem os mais novos possam confiar

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Atualização:

E o ano chegou ao fim. Desejamos muito que ele terminasse logo e, para isso, fomos caminhando na espera por etapas.

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Quando o isolamento consequente da pandemia começou, esperamos a Páscoa chegar porque pensávamos que tudo voltaria ao normal então. Não voltou.

Depois, esperamos as férias dos filhos porque acreditávamos que, no segundo semestre, as escolas seriam abertas e as aulas presenciais voltariam. Não voltaram.

Foi então a vez de esperar pelos feriados prolongados para, finalmente, levar adiante nossas vidas normalmente. Os feriados passaram e continuamos com o mesmo contexto de pandemia, de escolas fechadas, devidamente municiados de máscaras e álcool em gel, higienizando as mãos frequentemente e mantendo, sempre que possível, o distanciamento físico.

Chegou a vez de esperar pelas festas de fim de ano, e vamos ter de passar por elas de maneira bem diferente do que estávamos acostumados. E aqui estamos nós: cansados, esgotados, inseguros, tensos e finalizando um ano que mudará o restante de nossas vidas e está destinado a ser um ano que não terminará com o calendário.

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Os mais novos - crianças e jovens - foram muito afetados por esses acontecimentos todos. Estão também cansados, tristes, tensos, desanimados, com muitas perguntas que não sabemos como responder. Então, é a eles que dirijo os meus votos de ano-novo.

'Faço votos para que todas as crianças e adolescentes possam ir à escola com toda a segurança possível' Foto: Werther Santana/Estadão

Faço votos para que todas as crianças - independentemente de classe social e econômica, de raça, de gênero etc - possam ser tratadas como crianças em todos os contextos, até no da pandemia. Que tenham tempo e espaço para brincar, que não precisem trabalhar ou se dedicar aos estudos em demasia em detrimento de sua infância, que possam frequentar com segurança parques e praças ao ar livre para ter contato com a natureza e encontrar-se com outras crianças.

Para que esses votos se tornem realidade, preciso fazer um dirigido aos adultos. Faço votos que os adultos tenham amor à vida, na prática, e que a respeitem acima de tudo. Esses votos são dirigidos a todos os adultos: desde os que convivem diariamente com as crianças até os que governam nosso País.

Faço votos para que os adolescentes continuem a crescer e a amadurecer seguindo seu destino, mas que tenham espaço para aproveitar o que ainda lhes resta de vida sem todos os compromissos e responsabilidades que a vida adulta impõe. Que contem com os pais e outros adultos para superar os momentos difíceis, como este de pandemia, e não sejam por eles subestimados em sua potência e possibilidades, como muitos costumam fazer.

Faço votos para que todas as crianças e adolescentes possam ir à escola com toda a segurança possível. O retorno às aulas tem sido defendido por muitos, mas é preciso, antes, dar como garantia - que ainda não temos - escolas com classes ventiladas, com menor número de alunos, com adultos em número suficiente para cuidar do ambiente e dos alunos, e que todos no espaço escolar tenham os materiais necessários para se proteger da infecção pelo vírus da pandemia.

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Esses votos são dirigidos principalmente aos estudantes das escolas públicas e das pequenas particulares já que a maioria dos alunos está nelas matriculada. Para entender a importância desses votos, peça aos trabalhadores das instituições escolares públicas que mostrem, por fotos ou vídeos, a situação das escolas em que trabalham.

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Faço votos para que as crianças tenham mais recursos disponíveis - em casa e na escola - para expressar suas emoções, tão conturbadas nesta época, e se entender melhor. Para tanto, as artes em geral são de imensa valia. Música, instrumentos musicais, dança, teatro, filmes, material diverso para elaborar pinturas, literatura etc, e que os adultos lhes façam boa companhia nessas atividades.

Faço votos para que todas as crianças e todos os adolescentes tenham a vida respeitada por nós, adultos. Que tenham alimentos de verdade e saudáveis para experimentar e consumir e que as porcarias das quais tanto gostam sejam exceção em suas refeições. Que tenham sua saúde física e mental cuidada por nós, adultos, e que saibamos lidar com empatia e compreensão com as transgressões que, inevitavelmente, cometem; que aprendam a arcar com as consequências de seus atos com nossas atitudes educativas e não com castigos.

Finalmente: faço votos para que sejamos uma geração de adultos em quem os mais novos possam confiar. E que isso ocorra em todas as funções, em todas as profissões, no exercício de todos os papéis. Ficarei um mês em descanso, retorno nossas reflexões em fevereiro. Saúde! 

Opinião por Rosely Sayão
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