E o ano chegou ao fim. Desejamos muito que ele terminasse logo e, para isso, fomos caminhando na espera por etapas.
Quando o isolamento consequente da pandemia começou, esperamos a Páscoa chegar porque pensávamos que tudo voltaria ao normal então. Não voltou.
Depois, esperamos as férias dos filhos porque acreditávamos que, no segundo semestre, as escolas seriam abertas e as aulas presenciais voltariam. Não voltaram.
Foi então a vez de esperar pelos feriados prolongados para, finalmente, levar adiante nossas vidas normalmente. Os feriados passaram e continuamos com o mesmo contexto de pandemia, de escolas fechadas, devidamente municiados de máscaras e álcool em gel, higienizando as mãos frequentemente e mantendo, sempre que possível, o distanciamento físico.
Chegou a vez de esperar pelas festas de fim de ano, e vamos ter de passar por elas de maneira bem diferente do que estávamos acostumados. E aqui estamos nós: cansados, esgotados, inseguros, tensos e finalizando um ano que mudará o restante de nossas vidas e está destinado a ser um ano que não terminará com o calendário.
Os mais novos - crianças e jovens - foram muito afetados por esses acontecimentos todos. Estão também cansados, tristes, tensos, desanimados, com muitas perguntas que não sabemos como responder. Então, é a eles que dirijo os meus votos de ano-novo.
Faço votos para que todas as crianças - independentemente de classe social e econômica, de raça, de gênero etc - possam ser tratadas como crianças em todos os contextos, até no da pandemia. Que tenham tempo e espaço para brincar, que não precisem trabalhar ou se dedicar aos estudos em demasia em detrimento de sua infância, que possam frequentar com segurança parques e praças ao ar livre para ter contato com a natureza e encontrar-se com outras crianças.
Para que esses votos se tornem realidade, preciso fazer um dirigido aos adultos. Faço votos que os adultos tenham amor à vida, na prática, e que a respeitem acima de tudo. Esses votos são dirigidos a todos os adultos: desde os que convivem diariamente com as crianças até os que governam nosso País.
Faço votos para que os adolescentes continuem a crescer e a amadurecer seguindo seu destino, mas que tenham espaço para aproveitar o que ainda lhes resta de vida sem todos os compromissos e responsabilidades que a vida adulta impõe. Que contem com os pais e outros adultos para superar os momentos difíceis, como este de pandemia, e não sejam por eles subestimados em sua potência e possibilidades, como muitos costumam fazer.
Faço votos para que todas as crianças e adolescentes possam ir à escola com toda a segurança possível. O retorno às aulas tem sido defendido por muitos, mas é preciso, antes, dar como garantia - que ainda não temos - escolas com classes ventiladas, com menor número de alunos, com adultos em número suficiente para cuidar do ambiente e dos alunos, e que todos no espaço escolar tenham os materiais necessários para se proteger da infecção pelo vírus da pandemia.
Esses votos são dirigidos principalmente aos estudantes das escolas públicas e das pequenas particulares já que a maioria dos alunos está nelas matriculada. Para entender a importância desses votos, peça aos trabalhadores das instituições escolares públicas que mostrem, por fotos ou vídeos, a situação das escolas em que trabalham.
Faço votos para que as crianças tenham mais recursos disponíveis - em casa e na escola - para expressar suas emoções, tão conturbadas nesta época, e se entender melhor. Para tanto, as artes em geral são de imensa valia. Música, instrumentos musicais, dança, teatro, filmes, material diverso para elaborar pinturas, literatura etc, e que os adultos lhes façam boa companhia nessas atividades.
Faço votos para que todas as crianças e todos os adolescentes tenham a vida respeitada por nós, adultos. Que tenham alimentos de verdade e saudáveis para experimentar e consumir e que as porcarias das quais tanto gostam sejam exceção em suas refeições. Que tenham sua saúde física e mental cuidada por nós, adultos, e que saibamos lidar com empatia e compreensão com as transgressões que, inevitavelmente, cometem; que aprendam a arcar com as consequências de seus atos com nossas atitudes educativas e não com castigos.
Finalmente: faço votos para que sejamos uma geração de adultos em quem os mais novos possam confiar. E que isso ocorra em todas as funções, em todas as profissões, no exercício de todos os papéis. Ficarei um mês em descanso, retorno nossas reflexões em fevereiro. Saúde!