Vestibulinhos são condenados por especialistas

É difícil achar quem defenda os exames para crianças, mesmo nas escolas que usam este recurso

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Por Agencia Estado
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Especialistas em educação e infância são praticamente unânimes em condenar a aplicação de vestibulinhos em crianças que buscam uma vaga na 1.ª série do ensino fundamental. Para eles, o Conselho Nacional de Educação (CNE) acertou quando decidiu proibir exames desse tipo. A prática é usada atualmente em várias escolas particulares de São Paulo onde há excesso de procura em relação ao número de vagas. Alguns dos colégios também consideram as provas inadequadas, mas alegam ser difícil encontrar outra solução para o problema. Eficácia duvidosa Para a pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), os vestibulinhos ferem a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente por não permitirem igualdade de condições para acesso e permanência na escola. Além disso, ela questiona a eficácia de teste para crianças que, em alguns casos, não passaram por processo de alfabetização. "Como é possível exigir que a criança esteja alfabetizada antes de entrar na primeira série?", diz. "Essas provas vão contra princípios pedagógicos e legais." Segundo a pedagoga, a eliminação num teste logo no início da vida escolar pode criar no aluno um medo de avaliação e acabar afetando seu desenvolvimento educacional. "Quando é reprovada num vestibulinho, a criança pode ser rotulada como alguém que não aprende e isso não é verdade." Imaturidade e desgaste Na opinião da especialista em educação infantil Neide Noff, também professora da PUC-SP, não há necessidade de crianças de 6 a 7 anos sofrerem um desgaste tão grande. "O fato de passarem em uma prova não significa que serão boas alunas", alerta. Ela acha que os exames não têm sentido. "Isso pode causar um trauma que vai impedir as crianças de produzirem em uma situação de tensão." Neide acredita, no entanto, que escolas que aplicam vestibulinhos poderão desrespeitar a decisão. Outros critérios Fazer provas para selecionar crianças é uma atitude discriminatória, segundo a pesquisadora Zoraide Faustinoni, do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). "A boa escola é aquela que trabalha com todos", destaca. "Se a escola não tem vagas, tem de adotar outros critérios." De acordo com ela, os vestibulinhos podem ser substituídos por sorteios ou listas de chegada. Zoraide explica que as crianças costumam ficar nervosas e não têm maturidade suficiente para enfrentar os exames. A proibição, segundo a pesquisadora, deve servir de alerta para os pais, que deveriam questionar se vale a pena matricular seus filhos em estabelecimentos de ensino que utilizam esse tipo de seleção. "Para mim, isso já é um indicativo de que a escola não serve para o meu filho." "Solução necessária" Escolas que costumam fazer vestibulinhos acham o exame necessário, embora não o considerem a solução ideal. O diretor administrativo do Colégio Palmares, Hélio Marcos Toscano, explica que no local as crianças passam por um teste lúdico, que não parece uma prova. "Não existe aquela pressão." O monge Geraldo Gonzalez y Lima, vice-reitor do Colégio Santo Américo, concorda com as críticas feitas ao sistema. "Mas as saídas também não são fáceis", diz. "O debate precisa ser ampliado." leia também Conselho de Educação proíbe vestibulinhos para crianças Ministro indica que homologará a proibição

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