Vera Cruz muda, mas mantém espírito crítico

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Por Carlos Lordelo
Atualização:

Papo cabeça. Marina: lições de vida

 

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Marina Dantas Allegro, de 16 anos, está "incomodada" com a Escola Vera Cruz, onde estuda desde 2000 e atualmente cursa o 3º ano do ensino médio. Segundo ela, a proposta pedagógica do colégio da zona oeste de São Paulo "mudou um pouco de uns tempos para cá" por ter priorizado cada vez mais a preparação para o vestibular. "Logo o Vera, que sempre se opôs ao vestibular como método de seleção, fazendo até rankeamento de alunos? Isso pegou mal e está sendo revisto", diz.

 

A estudante conta que, no primeiro semestre deste ano, a escola divulgou uma lista com nomes de 25 alunos que obtiveram as melhores notas em exames simulados. O grupo foi convidado para participar de uma espécie de "turma especial" com aulas à tarde, focada na "resolução de problemas complexos". Uma atitude considerada "estranha" por Marina, uma dos 120 alunos de 3º ano do Vera Cruz.

 

O Vera é conhecido por ter foco além do vestibular, e sempre defendeu essa postura crítica, diz Marina. "Há vários colégios que se dizem construtivistas, mas o Vera realmente estimula a independência do aluno", ressalta a estudante. "Apesar de estar mudando, continua com o mesmo discurso crítico em relação ao vestibular. Mas não há outra saída para quem quer fazer faculdade que não seja ser avaliado por meio de uma prova", reconhece.

 

Ela ainda não bateu o martelo, mas tudo indica que tentará arquitetura na Fuvest - seus pais estudaram na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e querem que a filha faça o mesmo. Mas Marina também se divide entre jornalismo ou moda. "De todas as aulas, as que presto mais atenção são português e história. Estou de recuperação em matemática, física e química", adianta. A psicóloga da escola tem ajudado a garota a tomar a decisão e uma das atividades programadas pela coordenação é, justamente, levar os alunos até as universidades, para facilitar a escolha.

 

Marina estuda com praticamente a mesma turma desde que entrou no Vera, na 1ª série do ensino fundamental. Conta que nunca pensou em sair da escola, a não ser quando sua melhor amiga deixou o Vera e foi para o Equipe, há dois anos. Mas ela preferiu ficar. "Aqui, todo mundo te conhece pelo nome, sabe quem são seus pais. Quase todos os funcionários são os mesmos e os professores se preocupam em valorizar o potencial de cada aluno", justifica.

 

A estudante destaca as viagens de campo como diferencial da escola. No 1º ano, a turma foi a Poços de Caldas, em Minas, aprender sobre a produção de minérios e, no 2º, esteve em Ribeirão Preto, no interior paulista. Lá, eles conheceram o funcionamento de uma usina de etanol e tiveram a oportunidade de conversar com cortadores de cana, os boias-frias. "São nesses momentos que você vê as várias contradições do sistema", aponta Marina. "Os alunos do Vera têm essa vocação de questionar, de perceber o conteúdo, e não apenas receber. São ensinamentos que vou levar por toda a minha vida."

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FALA, PAI!

Ricardo Allegro, de 45 anos, arquiteto

 

"Na hora da matrícula, são os pais que devem se identificar com os valores da escola. E eu queria que a Marina estudasse num colégio com foco humanista e que privilegiasse um olhar mais individualizado sobre o aluno. Já conhecia o Vera e também recebi ótimas referências de amigos, inclusive educadores, que tinham filhos estudando lá.

 

Eu fui aluno do Dante Alighieri a vida inteira, e não queria o mesmo para a Marina. Preferi um lugar mais moderno e aberto à diversidade, características marcantes do Vera. Valeu a pena ter investido nessa ideia, embora nem todas as expectativas tenham sido atingidas. Não há escola perfeita, mas estou mais satisfeito do que insatisfeito.

 

Quando pus a Marina no Vera, não existia esse ranking de melhores escolas a partir das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mesmo que houvesse, não mudaria a minha decisão, porque tem escolas que preparam o aluno exclusivamente para o vestibular, só para fazer marketing. No Vera, a preocupação é outra - está na formação desse futuro cidadão."

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