‘Vaquinhas’ online priorizam educação, mas faltam projetos

Estudo sobre o chamado crowdfunding revela que, em uma lista de 26 áreas, o ensino é a que atrai mais doadores e recursos

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Por Barbara Ferreira Santos
Atualização:

SÃO PAULO - No mundo das vaquinhas online, o chamado crowdfunding, a educação é a área em que as pessoas mais querem doar dinheiro. No entanto, é também aquela em que há um menor número de projetos. É o que mostra uma pesquisa do site brasileiro de Crowdfunding Catarse, chamada de Retrato do Financiamento Coletivo do Brasil.

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Um questionário foi apresentado a 3.336 pessoas de agosto a setembro do ano passado. Na pesquisa, educação ficou à frente em uma lista de 26 áreas, que incluíam Religião, Negócios Sociais, Mobilidade e Transporte e Ciência e Tecnologia. O engajamento na internet para ajudar projetos voltados ao ensino ou ao financiamento de estudos é tão grande que plataformas de financiamento coletivo direcionadas exclusivamente a propostas de educação vêm sido criadas.

Nos EUA, a DonorsChoose (em tradução livre, "doadores escolhem") faz enorme sucesso com projetos propostos pelos professores de escolas públicas. A plataforma existe há mais de dez anos e é uma das mais experientes no ramo de crowdfunding. Ao todo, já arrecadou mais de US$ 243 milhões para mais de 458 mil projetos, ajudando 11,4 milhões de estudantes de 55 mil escolas. 

Formigueiro, de Renan Ferreirinha, ajudou 250 crianças em 9 meses Foto: Arquivo Pessoal

Segundo o pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e especialista em crowdfunding Rodrigo Davies, agora novas plataformas estão surgindo em países onde o sistema público de educação não tem recursos suficientes. “No Peru, por exemplo, a PeruChamps arrecada dinheiro para promissores jovens que não têm recursos para realizar seus projetos”, conta.

Universitários. No Brasil, a primeira plataforma de crowdfunding voltada à educação foi fundada por três estudantes universitários. Gabriel Richter, Pedro Thomas e Renan Ferreirinha montaram no ano passado o site O Formigueiro. Inspirada no DonorsChoose, a plataforma só possui projetos de escolas públicas e com baixo custo de execução, de até R$ 2 mil. Em nove meses, a organização que nasceu despretensiosamente em um sofá de Starbucks no Rio já juntou R$ 8 mil para seis projetos e ajudou 250 crianças e jovens de diversas partes do País. 

“A gente lançou o site em agosto, com diversas dúvidas se ia funcionar, mas está dando muito certo. O meu sonho é que cada escola pública brasileira tenha ao menos um projeto financiado pelo O Formigueiro”, afirma Ferreirinha, de 20 anos. Ele é estudante do 2.º ano da Universidade Harvard e pretende, no futuro, trabalhar com educação. “Eu fiz uma escola pública de qualidade semelhante às mais caras do Rio. Fui transformado pela educação e quero multiplicar isso.”

Na semana passada, ele viajou a Sobral, no Ceará, e estabeleceu a primeira parceria do site com uma rede de ensino público. Agora, todas as escolas da rede municipal da cidade do sertão nordestino podem inscrever projetos educacionais para serem financiados coletivamente. 

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A rede de Sobral é considerada referência no ensino no País. As reformas lá implementadas desde 2000 elevaram em mais de 90% o índice de alfabetização e zeraram a taxa de abandono até a 5.ª série do ensino fundamental. Uma das principais mudanças foi a maior participação de diretores e professores na reestruturação do sistema. 

O valor arrecadado para cada projeto no site - que chega a até R$ 2 mil - pode parecer pouco para promover um impacto significativo na vida dos alunos. Mas, em Sobral, os professores estão acostumados a fazer muito com pouquíssimo dinheiro. Nas escolas de meio período, o repasse da secretaria para despesas de manutenção (que não inclui o salário dos funcionários) é, em média, de R$ 2,5 mil por unidade escolar. “Há um compromisso na rede de fazer com qualidade e gastando pouco. Em outras palavras, somos pobres, sabemos disso, mas temos um compromisso de ser os melhores”, afirma o secretário adjunto, David Pitombeira.

Universidade nos EUA. Outra modalidade de crowdfunding que cresce no Brasil são as vaquinhas para financiar o estudo de jovens que passaram em universidades dos Estados Unidos. Com sistema diferente do nosso, as melhores universidades americanas são particulares e também as mais caras. Elas chegam a custar, para alunos internacionais, até US$ 70 mil por ano só com as mensalidades. Aprovado em quatro universidades dos EUA (Yale, Columbia, Cornell e New York University) e mais cinco no Brasil (USP, Unicamp, ITA, IME e UFRJ), a história de Luis Fernando Machado Poletti Valle, de 17 anos, virou até reportagem do Estado há dois meses (clique aqui para ler). “Meus pais não têm condições de pagar. O crowdfunding é a minha última opção.” Com ele, um grupo de jovens na mesma situação busca recursos pelo site Benfeitoria.

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