USP terá cursinho gratuito em vez de cota

Universitários darão aulas a 5 mil estudantes de escolas públicas da zona leste de SP. Número de candidatos isentos vai aumentar

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Por Agencia Estado
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A Universidade de São Paulo (USP) vai inaugurar em julho um cursinho pré-vestibular gratuito na zona leste da capital. Serão 5 mil vagas apenas para estudantes de escolas públicas da região. A iniciativa é uma alternativa da instituição ao sistema de cotas, uma política ainda rejeitada pela USP e defendida pelo Ministério da Educação (MEC). O projeto do cursinho foi apresentado ao ministro Tarso Genro, que esteve na universidade na segunda-feira. "O reitor tem uma visão distinta da nossa", disse Tarso, ao deixar a reunião com o reitor da USP, Adolpho José Melfi. O ministro, no entanto, quis deixar claro que o projeto do governo de cotas para negros não será imposto. "Existem várias formas de se operar políticas afirmativas." Ele elogiou e pediu que a instituição enviasse seus projetos - entre eles o do cursinho - ao MEC. 60 mil isenções Segundo Melfi, outra iniciativa da USP será a concessão neste ano de 60 mil isenções da taxa do vestibular da Fuvest para estudantes de baixa renda. No ano passado, foram 20 mil. Outros 30 mil comprovaram carência e não puderam receber a isenção da taxa de R$ 75. "Muitos alunos nem chegam a prestar a Fuvest porque acham que não vão passar", diz Melfi. Em 2003, 34% dos inscritos eram alunos do ensino médio público. Entre os aprovados, o índice foi de 18%. E só 2% tinham renda familiar inferior a R$ 500. Aulas e material As aulas do cursinho - chamado de Pró-Universitário - serão dadas por alunos da USP. Eles vão receber capacitação e bolsa em dinheiro. Os professores prepararão também o material didático que, segundo a pró-reitora de Graduação, Sonia Penin, proporcionará uma revisão das nove disciplinas do ensino médio. As aulas devem ser dadas em salas ociosas da rede estadual de ensino e estão marcadas para começar em 1.º de julho. Segundo o reitor, a preferência pela zona leste está ligada à carência da região e ao conseqüente fracasso de seus moradores em vestibulares de universidades públicas. Recursos O financiamento será feito pela secretaria estadual da Educação, parceira da USP no projeto. É ela também que fará a seleção dos alunos que estudarão no cursinho, cujo método ainda não foi definido. Apesar de a USP já estar distribuindo panfletos com detalhes do projeto e o logotipo do governo do Estado, a Assessoria de Imprensa da secretaria diz que o cursinho vai existir, mas sua organização ainda está em estudo. Não há, portanto, estimativa de quanto será investido. Inédito Essa é a primeira vez que a USP organiza um cursinho comunitário. Outras iniciativas que surgiram dentro da universidade vieram de atuais ou ex-alunos e, muitas vezes, cobravam mensalidades. No início do mês, o Ministério Público recomendou que os três cursinhos que funcionam no campus deixem de cobrar taxas dos alunos. Críticas "É pelo menos contraditório que o próprio governo esteja fazendo um cursinho para seus alunos da rede pública. Estão dando um atestado de que o sistema não têm qualidade", diz o coordenador do Movimento dos Sem Universidade (MSU), Sérgio José Custódio. Mesmo assim, ele considera o projeto "uma boa notícia" para quem não tem acesso ao ensino superior e não pode pagar cursinhos particulares. "Pena que não sejam 5 mil vagas na USP." Para o coordenador da ONG Educafro, Cleyton Borges, a USP está "maquiando o problema da exclusão" com o cursinho. "Cinco mil vagas é uma migalha para a universidade", diz. Ele compara o número com os 9 mil alunos carentes que a Educafro atende em seus cursinhos comunitários. A ONG também defende veementemente uma política de cotas para negros.

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