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USP abre novas portas para o ingresso, mas Fuvest ainda exige resistência

Uma das formas de entrar na disputada universidade, exame cobra conteúdo e equilíbrio físico e mental

Por Brida Rodrigues
Atualização:

Por 40 anos para entrar na Universidade de São Paulo (USP) havia apenas o exame da Fuvest. Em 2016, a universidade passou a aceitar o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que considera as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na edição passada, a Fuvest fez mudanças significativas, que vão da inscrição por cotas a menos um dia de prova. Agora, a universidade tem outra novidade: as vagas destinadas a estudantes classificados em olimpíadas acadêmicas nacionais e internacionais.

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Apesar do aumento nas portas abertas para a USP, o exame da Fuvest ainda exige resistência física e mental, além de muito conhecimento teórico.

“As mudanças não mudam o estilo da prova e das questões, quando comparamos com as provas anteriores. Portanto, o modo de preparação se mantém”, explica Giba Alvarez, diretor do Cursinho da Poli e presidente da Fundação PoliSaber. “A Fuvest exige um bom conhecimento das disciplinas. É fundamental que o aluno estude, faça simulados para saber o estilo das questões, faça redação desde já e resolva integralmente as provas dos últimos cinco anos pelo menos.”

Estudante Maria Fernanda Storion, aluna do Anglo Foto: Divulgação/Colégio Rio Branco

Desde a edição passada do exame, algumas novidades estão valendo no vestibular da USP: a inscrição por modalidades (para estudantes de escolas públicas e cotas raciais), a tecnologia de reconhecimento facial dos alunos nos dias de prova, a extinção da reescolha e o fim da prova de conhecimentos gerais na segunda fase.

“A prova não ficou mais ou menos difícil, apenas justa e equilibrada. As dificuldades para o aluno não mudaram. Ele continuará precisando ter domínio e muito conhecimento sobre a prova”, afirma Vera Antunes, coordenadora pedagógica do Colégio Objetivo.

Segundo Marcio Guedes, coordenador do Curso Poliedro de São José Campos, o vestibular da Fuvest não sofreu uma alteração negativa, tampouco tão radical.

“No fundo, a cobrança, as exigências, o preparo, o conteúdo, a habilidade de resolver a prova, que exige 3 minutos por questão, e a boa elaboração da prova dissertativa, que é bem mais complexa, ainda permanecem os mesmos”, diz Guedes.

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Menos um dia

A aluna Maria Fernanda Storion, que há dois anos se prepara no cursinho pré-vestibular do Anglo para disputar uma vaga em Medicina na USP, conta que seu estudo ficou mais focado em certas disciplinas com o fim da prova de conhecimentos gerais na segunda fase.

“Vou responder a questões de Biologia, Química e Geografia”, comemora. “Também posso priorizar mais Português, que é metade da segunda fase, em vez de matérias em que tenho dificuldade e não são tão ligadas ao meu curso, como Matemática e História.”

Fernando Kruglensky Lerner, aluno do 3.º ano do ensino médio do Colégio Palmares, acredita que a redução no número de dias ajuda os estudantes a enfrentarem a maratona de provas do fim do ano.

“Muitos prestam vários vestibulares. Assim, o aluno consegue fazer as provas mais tranquilo, mental e fisicamente.”

O preparo da mente, aliás, é essencial, segundo o diretor do Cursinho da Poli.

“É muito comum o candidato não ir bem porque ficou nervoso durante o exame. Controlar a ansiedade é o segredo do sucesso”, garante Alvarez. “Pode-se aprender isso usando técnicas de respiração, reservando espaços semanais para lazer e, principalmente, relaxando nos dias antes da prova. Um bom sono e alimentação adequada também ajudam no controle da ansiedade.”

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Para Gerson Fernandes Gonçalves, coordenador de Geografia do fundamental e do médio do Palmares, agora a Fuvest demanda menos esforço físico e pode ter uma avaliação mais justa, concentrada em disciplinas específicas e língua portuguesa.

“A retirada de Conhecimentos Gerais da segunda fase não compromete a avaliação do candidato, pois o peso da primeira fase aumentou de 25% para 33,3%, passando as provas a terem pesos iguais.”

Dicas práticas

A recomendação de Rodrigo Dionisi Capellié, professor de Geografia do Cursinho FEA-USP, é ter atenção às diferenças entre as duas etapas.

“Na primeira fase, é importante sempre ler o comando da questão e entender direitinho o que está sendo pedido. Às vezes, é para assinalar a verdadeira, em outras, a incorreta”, ensina. “Por ser uma prova muito extensa, que exige um nível de concentração muito elevado, a dica que damos é a eliminação das alternativas incorretas.”

Segundo o professor, mesmo quem não tem pleno domínio da questão sabe que certas situações são impossíveis. “Brincamos e dizemos que é o chute científico.” 

Já na segunda fase, de acordo com Capellié, é importante identificar o subtema da questão para não errar. “Identifique o que é cada coisa para responder adequadamente e não misturar os assuntos.”

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Ingresso por cotas

Ao todo, são 11.147 vagas abertas na USP, sendo 2.830 por meio do Sisu (com as notas do Enem) e 8.317 para seleção da Fuvest. Desde a edição passada, foi adotada a inscrição por modalidades, para estudantes de escolas públicas e cotas raciais. Do total de vagas pela Fuvest, 5.424 estão disponíveis aos candidatos em geral (modalidade ampla concorrência), 1.857 vagas são reservadas a alunos de escola pública e 1.036 são destinadas a estudantes do ensino público que se declaram pretos, pardos ou indígenas.

Candidato nesta última modalidade, Ageu Andrade sonha com uma vaga em Administração.

“Eu vim de escola pública, com várias defasagens. Estar em pé de igualdade com pessoas que tiveram acesso a uma educação de ótima qualidade é uma grande oportunidade”, afirma o aluno do Cursinho FEA-USP. “Terei acesso a diferentes pontos de vista sobre o mundo e o mercado de trabalho, podendo ajudar no avanço econômico brasileiro e financeiro da minha família.”

Medalha pode valer vaga na faculdade

Rafaela Siqueira Ciaccio participa da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) de 2019 e já está na segunda fase. Além da possibilidade de uma medalha, ela comemora a chance de ganhar pontos na Fuvest. No vestibular de 2019, a Universidade de São Paulo (USP) adotou mais uma forma de ingresso: as vagas destinadas para estudantes classificados em olimpíadas acadêmicas nacionais e internacionais.

“Esta nova oportunidade me deixou muito feliz, pois permite que meu ingresso no ensino superior possa vir de uma prova focada na disciplina em que tenho maior interesse e habilidade: Matemática”, comenta a aluna do 3.º ano do ensino médio do Colégio Rio Branco, que deseja cursar Engenharia de Produção.

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Estudante Rafaela Siqueira Ciaccio, do Colégio Rio Branco, sonha com Engenharia Foto: Divulgação/Colégio Rio Branco

Nesta seleção deste ano, a USP abriu inscrições para 113 vagas em 60 cursos da universidade, para alunos que se sobressaíram em competições de Ciências do ensino médio. As graduações em geral pertencem às áreas de Exatas e Engenharia. No entanto, também há cursos de Humanas (entre eles, Gestão de Políticas Públicas e Design) e de Biológicas (como Farmácia, Ciências Biológicas e Ciências Biomédicas). A seleção por meio dessa modalidade será realizada de acordo com um sistema de pontuação que se baseia no desempenho do aluno na competição, valendo de 1 a 6 pontos, conforme a classificação.

O professor Rodrigo Dionisi Capellié, do Cursinho FEA-USP, vem estimulando seus alunos a participarem dos campeonatos. Na primeira participação neste ano, ele conta que os estudantes conquistaram medalhas de bronze nas Olimpíadas de Geografia. A ideia é de que os alunos possam, cada vez mais, representar o Brasil nas competições internacionais. 

“A fala de um aluno dessa olimpíada me chamou a atenção. Apesar de ele não ter ganho a medalha, disse que aprendeu mais sobre Geografia com sua participação e também aprendeu a fazer pesquisa na internet”, diz o professor. “Esse estímulo às olimpíadas é fundamental, tanto para a sociedade quanto para o aluno. Isso é importante, pois estimula o saber científico, as formas de pensar, e a usar a internet para pesquisas, e não só para o entretenimento.”

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