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Universidades federais têm até risco de desabar

Instituições fluminenses, UFF, Unirio e UFRRJ vivem crise, com aulas em jardins e em contêineres; também há relatos de roubos e estupros

Por Danielle Villela
Atualização:

RIO - Prédios condenados, obras abandonadas e falta de equipamentos. Aulas em contêineres ou nos jardins das universidades. Estupros e assaltos dentro e no entorno dos câmpus. Este é o cenário de penúria das universidades federais do Estado do Rio.

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Alunos do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Câmpus Valonguinho, centro de Niterói, estudam com medo de o prédio desabar, por exemplo. Com o peso dos aparelhos dos laboratórios, as lajes dos 2º e 3º andares cederam e as divisórias das paredes de compensado envergaram. Há remendos nos tetos e fissuras nos pilares externos.

O prédio foi interditado por 15 dias, em agosto de 2014, após vistoria da Superintendência de Arquitetura e Engenharia da UFF. O parecer técnico recomendou a remoção imediata de todos os equipamentos dos andares superiores e a transferência emergencial dos laboratórios. “Um engenheiro falou que se ouvirmos barulho de vidro trincando é para sairmos correndo”, disse Gustavo Farés, de 21 anos, do 5º período de Biologia. Depois disso, equipamentos passaram a ser guardados em contêineres e os refrigeradores com materiais de pesquisa se amontoam nos corredores. 

Instituto de Biologia da UFF. Lajes cederam, há remendos nos tetos e fissuras nos pilares Foto: Wilton Junior/Estadão

A nova sede do instituto começou a ser construída em 2012 no Câmpus Gragoatá. Orçado em R$ 21,7 milhões, o prédio deveria ter ficado pronto em 2013. Há atrasos nos institutos de Arte e Comunicação Social e de Química. As obras em andamento somam R$ 250 milhões – novas sedes para mais quatro institutos e dois prédios em Campos, a 275 km do Rio. 

O Diretório Central dos Estudantes acusa atraso no pagamento de bolsas do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). E os bandejões fecharam semana passada por débito de R$ 12 milhões com a firma Luso Brasileira. 

Unirio. Há obras paradas também na Universidade Federal do Estado do Rio (Unirio). Contratada em 2012, a obra da nova sede do Centro de Ciências Humanas e Sociais (Urca, zona sul) nem sequer começou. O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou irregularidades na licitação e no projeto, orçado em R$ 19,7 milhões. “Temos turmas com 120 alunos, uma situação caótica de espaço físico”, disse o professor Leonardo Castro, da Associação dos Docentes da Unirio. 

Na Escola de Música, o número de vagas dobrou com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Não há espaço. “Fizemos prova no jardim. É constrangedor”, disse Juliana Marins, de 21 anos.

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Déficit. Em Seropédica (50 km do Rio), turmas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) têm aulas em escola estadual, por falta de salas. Segundo o professor Alexandre Mendes, há déficit de microscópios, soluções para conservação de peças anatômicas e reagentes químicos. “Tiramos verbas das pesquisas e até do próprio bolso para a graduação.”

A violência é outro problema em Seropédica e no vizinho município de Nova Iguaçu. Em janeiro, duas alunas foram estupradas em Seropédica. “Não há corpo da guarda universitária suficiente”, afirmou o aluno Rodrigo Fonseca. Em nota, a Administração Central da UFRRJ informou que há projeto de licitação para a construção de novas salas neste ano e também para a instalação de câmeras. 

O Ministério da Educação informou, em nota, que as universidades têm “autonomia administrativa e de gestão financeira e patrimonial”. Em 2015, foram repassados R$ 52 milhões à UFF, R$ 20,2 milhões à UFRRJ e R$ 8,3 milhões à Unirio. UFF e Unirio não se pronunciaram.

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