Universidade demora a usar tecnologia na educação

TI permite criar bibliotecas digitais e sistemas avançados de pesquisa, mas universidade particular ainda concentra seu uso na administração

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Por Agencia Estado
Atualização:

As universidades particulares vêm investindo na compra de computadores para as salas de aula, mas as tecnologias que permitem criar bibliotecas digitais, bancos de dados científicos e outros recursos para melhorar a pesquisa e o aprendizado ainda estão longe de chegar aos seus alunos. A primeira sondagem feita no Brasil sobre uso de tecnologias de informação (TI) nestas instituições mostra um atraso considerável na implantação de sistemas de educação a distância e mesmo de gestão administrativa. A amostragem é de apenas 18 instituições de quatro regiões do Brasil ? as particulares somavam 1.705 em todo o País em 2003 -, mas dá um bom retrato: somente 41% das universidades pesquisadas têm sistemas de TI implantados e, destas, só 2% estão aplicando seus recursos tecnológicos para possibilitar cursos virtuais, portais de suporte aos alunos, sistemas de gestão de conhecimento e outros serviços diretamente ligados à qualidade do aprendizado. A maioria (52%) ainda está com os recursos focados nos sistemas de contabilidade, cobrança de mensalidades, registros acadêmicos e coisas do gênero. Pior: grande parte das universidades particulares está gastando para ?costurar a colcha de retalhos? formada por vários sistemas diferentes, que vieram desenvolvendo por conta própria ao longo dos anos. Conhecimento retido Isso significa que as novas tecnologias nestas instituições devem demorar um pouco mais a beneficiar professores e alunos. ?O conhecimento daquele professor brilhante vai ficar só no cérebro ou na casa dele, porque não há na universidade um arquivo acessível com suas aulas e apresentações em power-point?, exemplifica explica Luiz Botelho, responsável pela área de desenvolvimento de talentos da E-Consulting Corp, coordenador da sondagem. Até a comunidade perde, segundo ele. ?Estudantes que fazem trabalho voluntário precisam de sistemas que organizem o contato com a comunidade, e quando isso falta a universidade deixa de fazer a aplicação prática de suas expertises?, explica. Deixa também de fidelizar sua comunidade acadêmica, como fazem instituições estrangeiras. ?O ex-aluno que mantém contato com a universidade pode voltar para fazer uma pós-graduação ou fazer um curso a distância? Costura No balanço geral do uso de tecnologias de informação, a educação a distância é prioridade para apenas 5% das universidades particulares, e outros 5% privilegiam o gerenciamento eletrônico de dados, área em que são estruturadas as bibliotecas digitais e demais bancos de conteúdo. Para se ter uma idéia, 80% das universidades dos Estados Unidos e Europa aplicam a maior parte de seus recursos de TI em projetos diretamente ligados à melhoria do desempenho dos professores e alunos, segundo Botelho. Na amostragem brasileira, dos 52% que priorizam aplicações administrativas a parcela mais elevada (16%) é exatamente dos que priorizam a chamada ?integração de sistemas e redes?, ou a costura da ?colcha de retalhos?, como define o coordenador da pesquisa. ?São aqueles que foram desenvolvendo seus sistemas e descobriram que esses sistemas não conversam uns com os outros, o controle de mensalidades não é compatível com os dados dos alunos etc?, explica. ?Hoje, estão gastando mais para arrumar a casa do que para oferecer tecnologia aos alunos.? Investir mais Somados aos 9% que priorizam a atualização da infra-estrutura administrativa, tem-se 25% com seus recursos tecnológicos ainda não aplicados propriamente na educação. O grupo que prioriza a informatização das salas de aula tem razoáveis 10%, mas hoje já está claro que não basta ter computadores e conexões para fazer a tecnologia beneficiar suficientemente a educação. O dado positivo apurado pela pesquisa da E-Consulting é a disposição de 54% das instituições de investir mais de 3% de seu faturamento de 2004 em tecnologias de informação. Este grupo inclui uma fatia de 41% que pretendem investir mais de 5% do faturamento neste ano. Nos últimos cinco anos, estima Botelho, o investimento esteve entre 1% e 3%. A sondagem não obteve respostas de universidades da região Centro-Oeste. leia também Instituições precisam repensar modelo de ensino Atraso também é problema em países desenvolvidos

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