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Uma nova geração de ativistas da aids

Estudantes de universidades como Harvard e Yale se unem para cobrar de Obama repasse de verba para combate à doença

Por Sheryl Gay Stolberg
Atualização:

Em meio à desordem de seu quarto na Universidade Yale, David Carel mantém evidências de sua vida como ativista  antiaids: pôsteres, banners e a filipeta pedindo “US$ 50 bilhões para a Global AIDS” que escondia no casaco, num sábado de outubro, quando entrou num comício  da campanha democrata em Bridgeport. Ali, fez uma coisa que “jamais teria imaginado”: cortou a palavra do presidente dos Estados Unidos.

 

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Cameron Nutt, estudante de antropologia médica em Dartmouth, diz que apoia o presidente Obama “100%”. Mas, irritado com o fato de o presidente “não  cumprir” a promessa de campanha de gastar US$ 50 bilhões em cinco anos combatendo epidemias de aids no exterior, interpelou Obama num comício em Boston.

 

Um quarto de século após homossexuais masculinos se erguerem para pedir acesso a remédios contra o HIV, uma nova cepa de combatentes contra a aids está  surgindo, formada por jovens estudantes de saúde pública. A maioria é heterossexual. São raros os que perderam amigos ou parentes para a doença. Mas, estudando com proeminentes profissionais da saúde, testemunharam o custo da epidemia em verões e semestres passados em países devastados pela aids como Ruanda, Tanzânia e Uganda.

 

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No Dia Mundial de Combate à Aids, no último dia 1º, estudantes de todo os Estados Unidos participaram de atividades de arrecadação de fundos. Mas um  grupo de duas dezenas de alunos de universidades de ponta, a maioria de Harvard e Yale, está usando táticas mais agressivas, além de conexões fortes, para arranjar encontros com funcionários de alto escalão da Casa Branca, num esforço para pegar no pé de Obama.

 

Seus protestos surgem enquanto muitos na comunidade de combate à aids se perguntam em voz alta se Obama está tão dedicado à sua causa quanto seu antecessor, George W. Bush – o número dos que recebiam os remédios subiu de 50 mil para mais de 5 milhões hoje.

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Apesar de os gastos globais com aids terem aumentado e de os Estados Unidos continuarem sendo o maior contribuinte, analistas dizem que será difícil  Obama cumprir a promessa, ainda mais com o Congresso de maioria republicana.

 

Usando dados da Health Gap, grupo de defesa associado à aids, os estudantes estão determinados a cobrar Obama. Quando Ezekiel Emanuel, bioético e  consultor de saúde do presidente, falou em Yale, há um mês, se estranhou com Carel durante café da manhã na Hillel House no câmpus, uma refeição arranjada  por uma ex-aluna de Yale, filha de Emanuel.

 

Ele diz que os estudantes ignoram a ênfase do governo em gastar o dinheiro de maneira mais eficiente e na oferta de serviços que podem reduzir a  propagação do HIV. A reação do presidente ao ser interrompido em Bridgeport mostrou que ele ficou irritado. “Vocês têm aparecido em todos os comícios que fazemos”, queixou-se, dizendo-lhes que aquela não era “uma estratégia útil”.

 

Carel diz que pensou muito no caso. Foi sua primeira manifestação; seus pais lhe disseram que gostariam que ele fosse “mais respeitoso”. Seus amigos  ficaram chocados. Mas valeu a pena, acredita. “Há pouquíssimas maneiras de ter acesso a ele. Foi um jeito de chegar ao ouvido de Obama.” / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

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