1 em 5 vagas para ingresso via Enem na USP não é preenchida

Principal motivo foi nota mínima alta fixada para alguns cursos; 11 carreiras ficaram sem candidatos selecionados pelo Sisu

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Por Victor Vieira
Atualização:
Das 1.489 vagas da USP reservadas para disputa pelo Enem, 22,8% não foram preenchidas por meio da prova federal Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

SÃO PAULO - Das 1.489 vagas da Universidade de São Paulo (USP) reservadas para disputa pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste ano, 340, ou 22,8%, não foram preenchidas por meio da prova federal. O motivo foi a nota mínima alta fixada para alguns cursos. Com isso, a concorrência por essas vagas voltou para a Fuvest, tradicional sistema de seleção da USP.

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A disputa via Enem foi feita pelo Sisu, sistema de seleção digital do Ministério da Educação (MEC) que reúne vagas públicas. A USP usou esse modelo pela primeira vez. O objetivo era diversificar as formas de ingresso para atrair talentos de outras regiões do País e incluir mais alunos da rede pública. 

Quando terminou o prazo de inscrições do Sisu, 11 carreiras - com notas mínimas entre 650 e 700 pontos - ficaram sem candidatos selecionados, além de parte das cadeiras ociosas em outros sete cursos. No fim de janeiro, balanço parcial da universidade mostrava que 10% das vagas não haviam sido preenchidas por meio do Enem.

Após a primeira fase de matrículas, porém, essa taxa subiu, segundo dados da Fuvest de março. Das 140 opções de carreira da USP (que contam turnos distintos do mesmo curso) no Sisu, 42 não tiveram ao menos parte das vagas preenchidas.  A reitoria disse que só comentaria após consolidar os dados. E não informou se as vagas transferidas do Sisu para a Fuvest foram totalmente ocupadas. 

Reavaliação. Larissa Souza, de 20 anos, nem conseguiu concorrer à vaga em Veterinária, na capital. “Pediam mínimo de 700 pontos em todas as matérias e só consegui isso na Redação. Mas não fui mal nas outras, fiquei com 600, 650 pontos”, conta ela, aluna da rede pública. 

Para a jovem, os requisitos foram exagerados. “É muito difícil para quem sai da escola pública tirar essa nota. Onde eu estudava, por exemplo, faltavam professores, e o ensino era fraco”, conta. Ela é recepcionista e faz pré-vestibular à noite. A Comissão de Graduação da Veterinária disse que pretende participar novamente do Sisu e ainda vai avaliar os resultados. Dos 80 calouros do curso, 23 são da rede pública. 

A Escola Superior de Agricultura (Esalq) da USP, em Piracicaba, colocou 56 vagas no Sisu, mas não recrutou ninguém pelo sistema. “Há frustração. Talvez a pontuação mínima tenha sido realmente alta”, afirma Luiz Eduardo Aranha, presidente da Comissão de Graduação da unidade. “Havíamos observado as notas de corte de outras boa faculdades de Agronomia e colocamos um pouco acima.” 

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Segundo ele, a tendência é que a nota mínima diminua no próximo ano. Uma equipe está comparando o desempenho do Enem entre os aprovados na Esalq pela Fuvest para estabelecer uma exigência mais realista. 

A reitoria da USP deu liberdade para as unidades decidirem as notas mínimas, a proporção de vagas oferecidas no Sisu e se haveria reserva de vagas para a rede pública ou pretos, pardos e indígenas. A adesão ao modelo também era opcional. Algumas unidades tradicionais, como a Medicina da capital e a Escola Politécnica, rejeitaram a ideia.