Um em cada 4 alunos do 2º ano não sabe escrever uma palavra de 3 sílabas, mostra prova federal

Resultado de avaliação aplicada pelo Inep a alunos de 8 anos indica ainda que 17 Estados ficaram abaixo da média nacional em Língua Portuguesa nessa etapa

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Por Julia Marques
Atualização:

Um em cada quatro alunos do 2.º ano do ensino fundamental (7 anos) não sabe escrever de forma correta uma palavra de três sílabas a partir de um ditado. Esse e outros dados fazem parte dos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgados nesta quarta-feira, 4, pelo Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). 

A avaliação, feita de modo amostral no ano passado com 5,6 milhões de estudantes, apontou que 27,5% estão nos níveis 1, 2 e 3 de desempenho (em uma escala de 1 a 8) ou abaixo até do nível 1. O levantamento indicou que 17,8% dos alunos estão no nível 4 – em que são capazes, por exemplo, de escrever palavras trissílabas ou localizam informações explícitas no final de um texto muito curto – e 55% estão nos níveis de 5 a 8 (de maior desempenho em leitura e escrita).

Os dados evidenciam também desigualdades em relação às zonas rurais e urbanas e às regiões do Brasil. Em Língua Portuguesa, 10 Estados tiveram resultados acima da média nacional, de 750 pontos. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Só 5% chegaram ao nível 8, o mais avançado, em que o aluno é capaz de inferir informações em textos longos. Os resultados foram divulgados por níveis de proficiência, mas não foram indicados quais patamares são considerados adequados. 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento de 2017 que detalha o que os alunos devem aprender em cada etapa, define que a alfabetização das crianças deverá ocorrer até o segundo ano do ensino fundamental – antes, a expectativa era de alfabetização até o 3.º ano do fundamental.

A aplicação do Saeb para essa etapa foi mediada – os aplicadores leram partes das questões para a turma. A ideia era que o desempenho em tarefas mais básicas de leitura pudesse ser medido mesmo que o estudante ainda não estivesse alfabetizado. Foram avaliadas competências como a apropriação do sistema de escrita alfabética, leitura e produção textual. 

Já em Matemática, os resultados do Saeb para o 2.º ano do ensino fundamental indicam que metade está nos níveis de 1 a 4 (em uma escala de 1 a 8) ou abaixo até do nível mínimo. Alunos com esse desempenho não são capazes, por exemplo, de identificar, em um calendário de determinado mês, o dia da semana em que o mês se inicia.

Os dados evidenciam também desigualdades em relação às zonas rurais e urbanas e às regiões do Brasil. O desempenho, de modo geral, é melhor nas áreas urbanas, em relação às rurais, e nas capitais se comparado ao desempenho de estudantes de cidades do interior. 

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Em Língua Portuguesa, dez Estados obtiveram resultados acima da média nacional, de 750 pontos. Esses Estados são: Ceará, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e o Distrito Federal. Os demais ficaram abaixo da média. Houve diferença de 52,76 pontos na avaliação de Português entre o Estado com a maior média na prova (Ceará) e o Estado com a menor nota (Amapá). As regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul também obtiveram os melhores desempenhos em Matemática no 2.º ano – a exceção fica, novamente, com o Ceará, que lidera em Matemática em todo o País, bem acima da média nacional, de 750 pontos. 

O Saeb vem sendo aplicado para estudantes do 5.º e 9.º ano do ensino fundamental e para o 3º ano do médio. Os resultados das provas, juntamente com as taxas de aprovação, reprovação e abandono compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). 

Essa é a primeira vez que a prova foi a aplicada para avaliar os estudantes do 2.º ano. Por esse motivo, não é possível fazer uma comparação dos resultados obtidos agora com outras provas. A última delas, a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), de 2016, apontou que metade dos alunos do 3.º ano do fundamental tinha níveis de leitura insuficientes. 

Alavancar os indicadores de alfabetização é apontado pelo governo Jair Bolsonaro como uma prioridade. A gestão demonstra predileção pelo método fônico de alfabetização – que dá ênfase no som das letras – e aposta em um programa que incentiva a leitura para crianças pelos pais, em casa. 

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Em um evento online de divulgação dos resultados nesta quarta, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que o Saeb “passa a incorporar o desafio da avaliação dos níveis de alfabetização” no segundo ano o fundamental. “A partir desses dados poderemos produzir indicadores sobre as condições de oferta de ensino e a contribuição para a melhoria da qualidade e redução das desigualdades.”

Para Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), os dados são importantes para nortear políticas públicas na área da alfabetização. Sobre o porcentual de crianças que não adquiriram quaisquer habilidades de leitura e escrita, ela diz ser "preocupante, considerando que todos têm o direito de aprender".

"Isso mostra que tem um trabalho a ser feito, políticas a serem desenvolvidas, planejamentos pedagógicas no nível da escola e professores que precisam rever seus planos de aula. Escolas e professores precisam de apoio técnico", diz a especialista. Anna Helena acrescenta, ainda, que os resultados não são uniformes pelo País, mas marcados pelas desigualdades socioespaciais e econômicas. Também destaca que bons resultados, como os do Ceará, são obtidos por meio de políticas consistentes e duradouras, que promovem a integração entre Estado e municípios. 

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Ciências

Também foram divulgados nesta quarta os resultados das provas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza do Saeb, aplicadas para o 9.º ano do ensino fundamental (14 anos de idade). Em ambas as disciplinas, a média nacional ficou em 250 pontos. Em Ciências Humanas, 17% dos estudantes não chegaram nem mesmo ao nível 1 (o mínimo). 

Em Ciências da Natureza, que mede o letramento científico dos alunos, mais da metade (52%) tiveram desempenho nos níveis 1, 2 ou mesmo abaixo do nível 1. Isso significa que essa parcela de estudantes não é capaz, por exemplo, de interpretar resultados de experimentos científicos apresentados em tabelas e gráficos simples ou reconhecer a importância das vacinas na prevenção de doenças (competências do nível 3).

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