Quais as graduações mais buscadas? Licenciaturas, ambiente e comunicação estão em alta

Direito ainda é curso mais procurado, mas Pedagogia é o que dá o tom online; área de Saúde e tecnólogos também estão em alta

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Por Vanessa Fajardo
Atualização:

Embora haja cada vez mais opções de cursos de ensino superior, seja na modalidade bacharelado e licenciatura ou tecnólogo, as graduações tradicionais continuam sendo as mais buscadas pelos estudantes que querem fazer faculdade. Segundo o Mapa do Ensino Superior no Brasil de 2022, produzido com dados do Inep pelo Instituto Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior de todo o País, Direito é o curso com mais alunos matriculados na rede privada. Já entre as instituições públicas, ele aparece em segundo lugar – o primeiro é o de Pedagogia.

Um dos destaques no top 10 da rede privada é a graduação em Psicologia, que subiu da quarta para a segunda colocação de 2019 para 2020, com aumento de 3,1% nas matrículas. “Até 2019 o segundo curso mais procurado era Administração, hoje é Psicologia. Acho que se deve ao fato de ter um campo de trabalho interessante. Hoje o atendimento psicológico não está mais restrito às classes mais ricas, é uma questão de saúde pública. Houve um crescimento do problema de saúde mental”, analisa Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.

Encerramento do Congresso de Iniciação Científica PIBIC da Unicamp:graduações tradicionais continuam sendo as mais buscadas pelos estudantes que almejam fazerfaculdade. Foto: Unicamp/Divulgação

Capelato reforça que o “bloco de cursos na área da Saúde” aparece como tendência no ensino superior, até como reflexo das oportunidades no mundo do trabalho, que não param de crescer. Entre as dez graduações presenciais mais procuradas na rede privada, quatro são cursos na área de Saúde: Enfermagem (quarto lugar); Fisioterapia (sexto); Medicina (sétimo) e Odontologia (décimo). Na pública, único entre os dez é Medicina, em quarto lugar entre os cursos mais requisitados entre os universitários.

EAD e Licenciatura

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Já nos cursos de EAD (ensino a distância), tanto entre instituições privadas quanto públicas, Pedagogia é a graduação mais procurada, segundo a publicação do Instituto Semesp. Na rede pública, representa 22,7% do total de matrículas; já na particular, 19%. Outra particularidade nessa modalidade é a presença de cursos de licenciatura, que formam professores. Entre os dez primeiros estão: Matemática (segundo lugar); Letras (terceiro lugar); Biologia (sexto lugar); e Geografia (nono lugar). Ao considerar os 20 cursos mais procurados, ainda aparecem: História (11.º); Física (13.º); Química (14.º); Educação Física (16.º); Letras (18.º); e Filosofia (19.º). “Acho que esse cenário pode ser uma tendência da recuperação da carreira docente”, aposta Rodrigo Capelato.

Ainda na modalidade a distância, outra peculiaridade é a presença mais constante de cursos de tecnólogos, que são curtos e com currículo mais voltado ao mercado de trabalho. Apesar de ainda não aparecer nas pesquisas do Semesp, já que foram feitas com base nos dados mais recentes do Inep, de 2020, Capelato lembra que os cursos na área de TI (Tecnologia da Informação) estão sendo muito buscados. Isso porque, segundo ele, a área é promissora, paga bons salários e está com carência de profissionais com formação superior.

“Faltam profissionais que pensem estrategicamente a tecnologia, que estejam preparados para ocupar cargos de gerência, de diretoria dentro de uma empresa, que saibam liderar uma equipe. Sem formação de nível superior, ele não tem acesso a esse tipo de conteúdo”, afirma o diretor.

Ambientalização

A preocupação com as questões ambientais e a necessidade de haver cada vez mais ações sustentáveis em diversos âmbitos da sociedade aqueceu o mercado das profissões ligadas às Ciências da Natureza. “Agrônomos ou gestores ambientais, por exemplo, tendem a ser profissionais muito valorizados porque aplicam a sustentabilidade dentro de um negócio”, reforça Capelato.

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Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os cursos de graduação têm abordado as questões ambientais de forma transversal. “É o que chamamos de ‘ambientalização’ do currículo, que é incluir disciplinas relacionadas às questões ambientais de forma transversal em quase todos os cursos. Nossa preocupação não é apenas fortalecer cursos como Biologia ou Engenharia Agrícola, mas fortalecer as disciplinas de cunho ambiental em diferentes faculdades”, explica Roberto Donato, cientista social e professor de Ciências Aplicadas da Unicamp.

Segundo o docente, um determinado curso não orienta mais uma carreira de forma definitiva, e sim pode ser um caminho para percorrer um mesmo tema sob diferentes óticas. “Por isso é necessário abordar as questões ambientais porque elas representam idiomas comuns entre os diferentes cursos dentro de uma forma heterogênea”, diz o professor.

De acordo com Roberto Donato (foto), ocurso de graduação éum caminho para percorrer um mesmo tema sob diferentes óticas. 

Uma característica dentro da instituição, entretanto, tem sido, segundo Roberto Donato, a de trabalhar também esses temas de forma mais prática dentro dos projetos de pesquisa e extensão. “Não adianta ter um conjunto de disciplinas que dá para o aluno uma sensibilidade, se eu não consigo fazer um esforço pedagógico para que esses estímulos atinjam o dia a dia de sua profissão, a prática. Por isso, há uma sensibilização para que eles realizem projetos ambientais, desenvolvam soluções técnicas que abordem ainda outros temas, como diversidade”, explica.

“A gente vê no mercado um discurso forte de cabeças voltadas para a inovação. O nosso papel é qualificar esse discurso para essa dimensão da inventividade e das cabeças dinâmicas, que nosso aluno esteja preparado, não apenas detendo o conteúdo, mas com uma postura de transformação. Ter instrumentos para se adequar às transformações, sendo um agente, de forma ativa, olhar para caminhos que ainda não foram criados. Essa é a tônica da universidade.”

Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as questões ambientais são abordadas nos cursos de graduação de forma transversal. 

Comunicação

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Dentro das Ciências Humanas, no campo da comunicação, a internet e o mundo digital criaram novas necessidades de mercado e de consequente formação profissional. Uma das apostas para preencher essa lacuna foi feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV) ao criar a graduação de Comunicação Digital que é oferecida pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação, com sede no Rio.

O curso, que ainda receberá sua primeira turma neste ano, vai mesclar áreas como Ciências Sociais, Ciência de Dados e Linguística. O conteúdo foi desenhado com base em uma década de pesquisa feita por um departamento da própria FGV, com base em dados de monitoramento e análise de redes sociais de assuntos sobre política, meio ambiente, migração, segurança, entre outros, e seu impacto nos tradicionais veículos de comunicação, impressos ou digitais.

“Chegamos à conclusão de que havia uma lacuna nessa formação de comunicação digital e a Fundação poderia preencher. Nossa preocupação é delimitar nosso escopo; nossa escola não quer rivalizar com grandes escolas de comunicação, veio para complementar”, explica Ana Lucia Guedes, vice-diretora da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV.

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Ela salienta que muitos profissionais podem estar atuando em setores de comunicação sem formação específica. “Todas as organizações hoje têm seus perfis nas redes sociais, usam esse canal. O fato de ter um profissional que analisa um grande volume de dados é importante em todos os setores. Por isso, é uma tendência buscar capacitação nessa temática.”

A FGV (foto) criou a graduação de Comunicação Digital,oferecida pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação. 

Lifelong e Learning

É fato que a graduação oferece uma boa e imprescindível base para a formação, porém tem sido cada vez mais importante investir no chamado “lifelong learning”, que é a educação continuada. “A tendência é a de continuar estudando a vida toda. A graduação vai dar a base de habilidades e competências, vai ajudar a desenvolver o pensamento crítico, mas é necessário continuar a se atualizar e se ambientar sobre os assuntos mais críticos”, afirma Capelato, do Semesp.