Dono de duas lojas de brinquedo na zona norte de São Paulo, André Teles da Silva, de 34 anos, ficou surpreso quando a filha completou 3 anos. De aniversário, ela ganhou da avó uma boneca, mas preferiu a caixa de papelão que embalava o presente. Maria Valentina vê nas lojas do pai uma infinidade de jogos, ursinhos e brinquedos e, no entanto, sua escolha é sempre por correr, brincar com o cachorro da família e andar de bicicleta.
“Eu vivo e respiro brinquedo todos os dias e pensava que ela teria uma coleção de Barbies e bonecas. Ela tem tudo isso à disposição, mas dá muito mais atenção para interagir com outras pessoas do que com os brinquedos”, contou Silva.
Desde 1 ano, Maria Valentina vai para a escola Tarsila do Amaral, onde, segundo o pai, aprendeu a dar valor para as interações. Foi a proposta pedagógica com valorização no brincar que atraiu a família. “Eu estudei a vida toda em escola tradicional, fiz uma faculdade que detestei por cinco anos, tudo conforme manda a educação formal. Para os meus filhos, eu queria algo diferente. Vimos muitas escolas que prometem explorar todo o potencial do bebê já pensando no vestibular, eu não queria isso”, disse Silva.
Na escola, a menina tem como espaços preferidos a quadra de esportes e um pomar com pés de jabuticabeira, onde brinca com os colegas e aprendeu a subir em árvores. O desenvolvimento da filha mais velha foi tão satisfatório para a família que eles decidiram antecipar a entrada do caçula, Davi, na escola, já aos 7 meses.
“Ele é muito apegado à mãe, então achamos que seria importante ir para escola. Em três semanas de aula, foi impressionante ver como ele está mais atento, ativo, independente.”
As brincadeiras não são valorizadas só na escola, mas também em casa, segundo Silva. Apesar da rotina corrida da família, todos os dias os pais reservam ao menos uma parte do tempo para brincar com as crianças. “É assim que criamos uma relação. Todo dia brincamos, nem que seja cantando no carro na ida para a escola.”
Aprendizado. Mauro Luís Vireira, professor de Psicologia e criador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil (NEPeDI), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), disse que desde os primeiros meses de vida as crianças já brincam e desenvolvem habilidades dessa forma. “Educar e cuidar são conceitos interligados quando falamos de crianças. Ao trocar uma fralda, os pais podem brincar com a criança, seja falando, tocando, fazendo caretas. E, nesse processo, a criança está aprendendo.”
Para Vieira, a brincadeira estreita os laços entre o adulto e a criança. “Hoje, as famílias dão muito valor à inteligência formal, mas quem ensina os aspectos sociais? A brincadeira ensina tudo isso e estimula o cérebro a fazer conexões que favorecem o aprendizado imediato e futuro.”
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