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Summer job no Brasil

Alunos das melhores universidades americanas vêm ao País em busca de estágio

Por Jacyara Pianes
Atualização:

O bom desempenho da economia brasileira nos últimos anos, aliado à oportunidade de conhecer uma nova cultura, tem atraído estudantes de renomadas universidades americanas para um período de trabalho em empresas daqui. Eles aproveitam as férias de verão no hemisfério norte e vêm para summer jobs que duram, em média, de 40 a 60 dias. Quando vão embora, deixam portas abertas para uma futura oportunidade profissional.

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Maria Brewer, americana de 27 anos, já escolheu o que fazer quando concluir seu MBA em Harvard: quer voltar ao Brasil, onde está desde o fim de maio, em um summer job. A estudante ficará até meados de agosto na 21 212, empresa carioca que acelera startups brasileiras com know how desenvolvido nos Estados Unidos. Ela acompanha a rotina de alguns clientes, analisando mercado e propondo pitchs - descrição do negócio em poucos minutos para apresentá-lo a investidores e parceiros.

Maria já conhece os mercados da China e da Índia, dos quatro anos em que trabalhou na General Electric (GE), antes de iniciar seu MBA. Foi quando descobriu os desafios e ambiguidades dos países emergentes. E gostou. No ano passado, já durante o curso de Harvard, fez um estágio na Índia. Morou por dois meses em Bangalore e trabalhou em uma startup da área de saúde. Voltou aos Estados Unidos, retomou o MBA e soube da 21 212 por meio de conhecidos. Candidatou-se a uma vaga de summer job de olho no bom momento para o empreendedorismo por aqui.

A americana diz que fará propaganda positiva do Brasil em Harvard. “Provavelmente vou dar algum feedback para a universidade e participar de painéis com alunos que estejam pensando em fazer estágios similares e contar como foi minha experiência", afirma Maria, um exemplo de que os próprios estudantes estão se mobilizando, sozinhos, para se inserir em um mercado promissor, sobretudo nas áreas de tecnologia e empreendedorismo.

Procura

Segundo Isabella de Arruda Botelho, gestora da Endeavor, nos últimos dois anos cresceu o interesse dos estudantes estrangeiros pelo Brasil. Ela diz que todas as principais instituições dos Estados Unidos, como Harvard, Columbia, Yale e MIT, já buscam este tipo de intercâmbio. Para as empresas, o custo de receber estes jovens não é alto, já que eles estão interessados na experiência, e não em salários. Geralmente, elas pagam as despesas da viagem e uma ajuda de custo.

“Os jovens estrangeiros olham o momento da economia lá fora e veem que o Brasil está em crescimento. É uma oportunidade para montarem suas próprias redes de interesses”, completa Isabella. A Endeavor, uma instituição global de apoio ao empreendedorismo, desenvolve o programa e-MBA desde 1998, no qual estudantes de MBA podem optar por projetos de summer job em um dos 12 países onde a organização atua. O Brasil está na lista desde 2001.

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Das 56 empresas brasileiras que fazem parte da rede da Endeavor atualmente, 42 delas já receberam intercambistas. Para os dois postos abertos no País este ano, nas empresas Arizona e iCarros, 42 alunos estrangeiros se candidataram.

Bruno Schrappe, diretor de produção da Arizona, empresa sediada em São Paulo que oferece serviços e soluções integradas em comunicação, tem experiência em trazer intercambistas. Ao todo, já foram 12 estudantes desde o fim de 2007. Atualmente ele conta com o trabalho de um estudante indiano que faz MBA em Cornell, nos Estados Unidos, Uday Tumuluri. “A Arizona está fazendo um trabalho que em várias áreas é de vanguarda. Precisamos trazer conhecimento especializado, acadêmico, de pesquisa”, diz Bruno.

Já Fernando Ortemblad, superintendente de Operações da iCarros, está recebendo estagiários gringos em sua empresa pela primeira vez. Pretende repetir a experiência após observar o desempenho do americano Anthony Muljadi, de 26 anos, que ficará 10 semanas na companhia. Recém-graduado em seu MBA em Harvard, ele veio para São Paulo motivado pela economia acelerada, com muitas oportunidades de crescimento, e pela propaganda do estilo de vida, língua e belezas naturais do Brasil. Aqui, desenvolve projetos principalmente em marketing e vendas. “O conhecimento funcional e de indústria que eu adquiri neste estágio vai ajudar a minha futura carreira onde quer que eu trabalhe com consultoria, gerenciamento geral ou negócios internacionais”, diz o americano.

Além disso, Anthony também faz questão de fazer de sua experiência profissional um intercâmbio cultural, aproveitando para fazer amigos, apreciar a comida, viajar – já esteve no Rio e em Florianópolis -, e até se rendeu às novelas. “O Brasil é, definitivamente, um dos principais destinos para os talentos no mundo.”

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Conforme destaca o doutor em Economia e conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo, Marco Antônio Sandoval de Vasconcelos, embora o momento não seja dos melhores, a tendência da economia brasileira é melhorar. “Apesar de estar estacionado, o Brasil ainda oferece perspectivas mais positivas que a Europa, excetuando um ou outro país."

Pedidos

Frederico Lacerda, sócio da 21 212 (empresa na qual trabalha Maria Brewer), diz que a companhia ficou conhecida no mercado americano em pouco tempo, o que ajudou a atrair estudantes estrangeiros para summer jobs. A aceleradora de startups começou a atuar no mercado em setembro do ano passado, trazendo táticas dos Estados Unidos que podem ser aplicadas em empreendimentos brasileiros. A companhia tem escritórios no Rio (código telefônico 21) e em Nova York (código 212).

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Em abril a 21 212 recebeu o primeiro intercambista. Agora, está com Maria e Leroy Cole III, americano de 22 anos que acabou de se formar em Economia em Yale. Mais dois universitários devem vir ainda este ano, um de Duke e outro de Tucson, duas instituições também dos Estados Unidos. “Eles não chegam com tanta experiência profissional quanto o brasileiro, mas a bagagem acadêmica é muito forte”, diz Frederico.

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Leroy Cole está empolgado com aquela que é, de fato, sua primeira imersão no mercado de trabalho. Ele está aqui desde o fim de abril acompanhando algumas empresas aceleradas pela 21 212 e deve ter uma experiência um pouco maior do que a maioria dos intercambistas, cerca de cinco meses.

Por já ter noções de português e ser interessado nas economias emergentes da América Latina, a oportunidade de estagiar na 21 212 entrou no radar de Leroy Cole. Foi então que, também por iniciativa própria, entrou em contato com a empresa. “Nos Estados Unidos existe uma grande tradição de empreendedorismo tecnológico e há muito que a gente pode oferecer para os empreendedores brasileiros. Acho que é uma ótima hora de estrangeiros virem trabalhar no Brasil.”

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