Sono completo é fundamental para evitar "brancos"

Dormir tarde é um perigo, porque isso pode impedir a fase REM do sono, na qual as coisas aprendidas são processadas e armazenadas pelo cérebro

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Por Agencia Estado
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Vira daqui, mexe de lá e nada de o sono chegar. Leite morno, chás de camomila e dormideira... Nessas horas, o desespero faz com que até contar carneirinhos pareça uma boa idéia ? e não é. A insônia, que se une a unhas roídas, calafrios e dores de cabeça às vésperas da ?grande prova?, é de longe o pior sintoma que a ansiedade pode causar. ?Quem dorme mal está mais propenso a ter cansaço, irritação e estresse durante o dia?, adverte o pediatra do Instituto do Sono, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Gustavo Antônio Moreira. ?Além disso, quase sempre o mal causa déficit de concentração, dificuldade de assimilar coisas aprendidas e perda de memória de fatos recentes.? Já pensou se algo assim acontecer durante prova? ?Só de pensar que a prova está próxima, fico ansiosa, com medo, mesmo?, diz a estudante Mayra Assunção Calazans (foto), de 17 anos. Mayra vai tentar pela primeira vez entrar no curso de Enfermagem da Unicamp. ?Sábado vou passar o dia em casa, relaxando?, promete. ?Vou tentar ver um filme, ouvir música e deitar cedo, para chegar bem no domingo.? Tempo de repouso Dormir bem pode, mesmo, fazer a diferença entre os que buscam um lugar ao sol na prova. Para começar, um dos fatores primordiais é o tempo em repouso. Pesquisas sobre as fases do sono e sobre as substâncias reparadoras que o organismo produz durante a noite determinaram que, para manter a saúde mental e física, é preciso dormir de 7 a 8 horas por dia. ?Os processos metabólicos ocorridos durante o sono, se interrompidos, podem acarretar em desequilíbrios no organismo já no dia seguinte ao evento?, avisa Moreira. As fases do sono são enumeradas pelos pesquisadores de 1 a 5. A última, chamada REM (sigla para Rapid Eyes Movement, ou movimentos rápidos dos olhos), é justamente a mais importante para quem precisa ter dados fresquinhos na cabeça. ?Se um adolescente ficar estudando até tarde, com certeza vai eliminar a fase REM do sono. Conseqüentemente, ele vai ter ?brancos? durante a prova ? e vai culpar outros fatores por isso?, diz o especialista. Durante os ciclos do sono, o corpo trabalha para reorganizar as células e recuperar as perdas ocorridas durante o dia. A fase 1 é a chamada sonolência, que induz ao sono profundo. Na fase 2, que pode ser chamada de sono leve, a freqüência cardíaca e a respiração diminuem. Só aí os músculos ? e o corpo ? começam a relaxar. A temperatura do corpo cai. Hormônio anti-estresse Ao entrar nas fases 3 e 4, ou sono profundo, o organismo começa a produzir o hormônio do crescimento (GH), o cortisol e a leptina. O GH ajuda a manter a saúde muscular, melhora o desempenho físico, evita o acúmulo de gordura e fortalece os ossos, por exemplo. O cortisol tem especial importância nesta época do ano. Conhecido como hormônio de resposta ao estresse, é fundamental para o equilíbrio emocional às vésperas da prova. ?Além disso, o cortisol ajuda no correto funcionamento do sistema imunológico?, afirma o pediatra. O pico de liberação dessa substância marca o início do sono profundo. A leptina, por sua vez, é a agente controladora da saciedade. ?Estudos garantem que pessoas que permanecem acordadas por períodos maiores tendem a produzir a substância em menor quantidade?, diz Moreira. ?Com isso, o corpo sente a necessidade de ingerir mais carboidratos, desequilibrando a dieta e alterando o metabolismo ? o que pode ser muito prejudicial durante a prova.? Pela manhã, REM Só pela manhã o sono entra na fase REM. A freqüência cardíaca e a respiração tornam-se mais rápidas. É o momento dos sonhos. É exatamente nessa fase que as coisas vistas e aprendidas durante o dia são processadas e armazenadas pelo cérebro. ?Por isso, se uma pessoa dorme pouco, tem dificuldade para aprender coisas novas?, comenta o médico. Como dica para os dias antes das principais provas, Moreira pede que os estudantes não alterem sua rotina das noites. ?De nada adianta dormir bem o ano inteiro e, por causa da ansiedade, dormir mal antes da prova ou na semana que a antecede?, afirma. Para manter o ritmo de sono, o médico prescreve um pouco de exercícios físicos, além da eliminação de álcool e refrigerantes do cardápio. Se nada disso funcionar, porém, só há uma saída. ?O melhor que ele pode fazer é adotar atividades que o façam se esquecer da prova, como ir ao cinema e ouvir boa música?, afirma. ?Remédios para dormir podem causar amnésia. E imagino que ninguém queira ter amnésia no meio do vestibular...? leia também Contando as horas para a prova na Unicamp. E agora? Experiência não é garantia de tranqüilidade Boa redação vale pontos e uma boa vida acadêmica

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