Sistema de ciclos esbarra na desinformação

Organização pedagógica consagrada é baseada na avaliação constante e não em notas e repetência. Mas implantação é falha

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Por Agencia Estado
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É mais uma história da boa idéia que foi mal aplicada e mal entendida. Não há educador que seja a favor da simples repetência, mas a falta de discussão e preparação para a organização pedagógica em ciclos e a progressão continuada no País fez surgir sistemas de ensino falhos e manchou o nome de uma concepção de educação consagrada. Atualmente, 20% dos alunos do ensino fundamental estudam em sistema de ciclos, mas muitos pais, professores e até o presidente da República ainda não entendem a proposta. O modelo, no entanto, é adotado nas boas escolas particulares brasileiras e na rede pública de países desenvolvidos, como Inglaterra, Espanha e França. Adequado ao aluno A idéia, discutida no mundo todo durante os anos 90, é a de que a escola precisa se adequar aos estágios de desenvolvimento da criança ou do adolescente. No lugar das séries, que definem em um ano o tempo no qual o aluno precisa aprender determinado conteúdo, entram os ciclos, com períodos de dois a quatro anos. ?Possíveis atrasos ou defasagens do aluno são compensados nos períodos seguintes baseados numa avaliação constante?, diz o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Vitor Paro. Abandono caiu Especialistas deixam claro que a repetência, baseada num sistema punitivo, apenas desestimula mais um aluno já pouco motivado. Em todos os lugares em que a progressão continuada foi adotada, os índices de abandono escolar diminuíram. ?As escolas particulares não reprovam, mas evitam dizer que optaram pelo sistema de ciclos por causa da estigmatização do nome?, diz a educadora da USP Lizete Arelaro. Ela explica que os professores das boas escolas particulares fazem uma acompanhamento individual dos alunos e avaliações constantes, como pede o sistema. Paulo Freire Lizete integrou a equipe do consagrado educador Paulo Freire, quando Luiza Erundina era prefeita de São Paulo. Freire preparou a rede municipal ? com discussões e uma diminuição da jornada do professor ? para os ciclos. ?Infelizmente, o prefeito seguinte (Paulo Maluf) não acreditava nos ciclos?, diz Lizete. ?Basta saber o que é progressão continuada para ver que no Estado de São Paulo isso não existe?, afirma Paro. Segundo educadores, o sistema não foi explicado nem discutido com os professores da rede antes de ser posto em prática, há cerca de sete anos. As salas de aula chegam a ter mais de 40 alunos e os professores têm jornadas de trabalho estendidas por causa dos baixos salários, problemas que praticamente inviabilizam o sistema de ciclos. ?Aprovação automática? A polêmica sobre o que já é chamado de ?aprovação automática? chegou aos debates políticos durante campanhas eleitorais e pôs a opinião pública contra a progressão continuada. ?Não há um lugar no mundo onde se defenda a repetência. Também não há mais professores da rede contra a progressão continuada?, garante o secretário estadual da Educação, Gabriel Chalita. Segundo ele, há deficiências ainda no processo de aprendizagem no Estado, mas não são causados pelo sistema de ciclos. Desempenho Estudos do Ministério da Educação mostram que não existe diferença de desempenho em exames nacionais de alunos de escolas seriadas ou em ciclos. Mesmo assim, há duas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou a progressão continuada pela baixa qualidade de ensino no País. leia também Maior resistência está entre os pais Aprovação automática é coisa da escola antiga

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