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Se precisar, o rapaz da foto vai à Justiça provar que é negro

No 1.º dia de inscrição para vestibular da UnB, estudantes divergem sobre a cota racial: repara injustiça ou causa discriminação?

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro dia de inscrição do vestibular da Universidade de Brasília (UnB) deu uma amostra do quanto o sistema de cotas ainda provoca polêmica entre os candidatos - sejam eles beneficiados ou não. A universidade, que pela primeira vez reservou 20% das vagas para negros, criou uma regra que, segundo os responsáveis, evitaria abusos. Ao fazer inscrição, candidatos que optam pelo grupo das cotas têm de tirar uma fotografia, que será avaliada por uma comissão. "Tipos de negros" "Existem 200 tipos de negros. Se eu não for aprovado, recorro à Justiça", afirmou o estudante Ricardo Zanchet, de 18 anos, que pela terceira vez concorre a uma vaga para o curso de Química. O rapaz reconhece que seus traços nem de longe lembram os da raça negra. "Não importa." Como forma de protesto contra o sistema de cotas, Zanchet pensou em ir com o rosto pintado de preto. "Mas pensei bem e percebi que teria minha inscrição indeferida. Não quis perder a chance." Cota discriminada Viviane Ramos de Souza, de 17 anos, contou ter pensado duas vezes antes de concorrer ao vestibular pelo sistema. Candidata ao curso de Jornalismo, a estudante disse temer sobretudo a discriminação dos colegas, no caso de ser aprovada no vestibular. "Errei ao preencher a inscrição e resolvi arriscar." Para ela, o sistema de cotas é em parte injusto, porque impede que candidatos mais bem preparados sejam aprovados. Reparar injustiças Não é o que pensa Anderson Rosa Nascimento, de 20 anos. Ele está convicto de que tal sistema poderá reparar injustiças históricas e ampliar a participação de negros no mercado de trabalho. Principalmente em profissões em áreas valorizadas, como Medicina e Direito. "Precisamos aumentar essa participação, para ter mais influência nas decisões do País." A estudante Edimarcia Ramos Araújo também não tem dúvidas de que as cotas são um instrumento para reparar injustiças. "Sou neta de negros. Inscrevi-me como cotista, mas sinceramente não sei se isso é o melhor", afirmou Júlia Mello, de 18 anos. Colégio particular Concorrendo a uma vaga no curso de Administração, ela sabe que tem grandes chances de se sair bem. Estudou em um dos melhores colégios particulares de Brasília, atualmente freqüenta um cursinho bem conceituado. "Muitos candidatos brancos não tiveram estas oportunidades. O critério econômico seria mais justo." Mesmo assim, ela decidiu aproveitar a chance. Só não vai espalhar para colegas. "Não quero ser estigmatizada."

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