
14 de novembro de 2017 | 05h00
SÃO PAULO - As escolas municipais de São Paulo ensinarão a partir de 2018 as chamadas habilidades socioemocionais, que incluem criatividade, empatia e abertura à diversidade, por exemplo. O Estado teve acesso à parte introdutória do novo currículo da rede que está sendo finalizado pela Secretaria de Educação. Não haverá uma aula à parte para essas competências; elas devem permear todas as disciplinas já tradicionais da escola.
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As habilidades socioemocionais vêm sendo discutidas no mundo todo como uma necessidade para se formar melhor o estudante para os desafios do século 21. Críticos sustentam, no entanto, que os professores atualmente ainda não sabem como inserir essas competências em suas aulas. Há também a dificuldade em se avaliar a prática.
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Segundo o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, os professores da rede farão uma formação especial para o novo currículo também no ano que vem. O documento ainda trará orientações didáticas, no modelo “como fazer”, para ajudar os docentes. “Estamos muito seguros de que isso vai acontecer (colocar o currículo em prática)”, diz Schneider.
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O novo currículo menciona nove competências com características socioemocionais. Além de nomear a habilidade, o texto indica para o que ela serve. Por exemplo, ao descrever o item “empatia e colaboração”, o documento menciona que o estudante precisa ser ensinado a “trabalhar em grupo, criar, pactuar e respeitar princípios de convivência, solucionar conflitos, desenvolver a tolerância à frustração e promover a cultura da paz”. No tópico “abertura à diversidade” fala-se em “agir com flexibilidade e sem preconceito de qualquer natureza, conviver harmonicamente com os diferentes”.
“Ele não vai a fundo em muitas das questões fundamentais, fala da diversidade, mas não do compromisso ético com o diferente. Acho que foge um pouco dessa radicalização atual, da polêmica em torno de um currículo ideológico”, diz o coordenador de projetos sobre Educação Integral do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Alexandre Isaac.
Ele ainda questiona que tipo de avaliação será feita dessa parte. “Como medir se alguém adquiriu mais experiência, se é amável, se é extrovertido?” Segundo ele, muitos professores da rede também consideram que seria preciso investir mais em formação de conteúdos de Português e Matemática, no lugar da formação para habilidades socioemocionais.
Segundo a gerente executiva de educação do Instituto Ayrton Senna, Simone André, o desenvolvimento dessas atividades afeta até a aprendizagem geral do estudante. “Os estudos indicam que boa parte das nossas realizações na vida depende fortemente dessas competências, no mundo do trabalho, nos relacionamentos”, completa.
O Instituto Ayrton Senna realizou workshops para a Secretaria de Educação sobre o assunto durante a discussão do currículo e vai pesquisar seu efeito em algumas escolas.
Professores e estudantes da rede também foram consultados sobre o que consideravam importante estar no novo currículo. São 57 mil professores nas escolas municipais e 16 mil opinaram.
Para o presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), Claudio Fonseca, a Prefeitura precisa “ter cuidado para que o currículo não se torne mais um modismo, que não muda a escola”. “O currículo acontece no dia a dia, todos os profissionais precisam estar envolvidos.”
O texto já considera objetivos estipulados pela Base Nacional Curricular Comum (BNCC), apesar de o documento ainda estar sendo analisado pelo Conselho Nacional de Educação. Depois de aprovado, todas as redes precisam elaborar seus currículos, de acordo com as orientações da Base.
O Pisa, o maior exame internacional do mundo, vai avaliar na sua próxima edição algumas habilidades socioemocionais. A prova atualmente cobra conteúdos de Ciência, Leitura e Matemática e é feita por estudantes de 15 anos de cerca de 70 países.
O próximo exame será realizado em 2018. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que realiza a prova, anunciou que vai avaliar o que a entidade chamou de “competências globais” do aluno.
Segundo os documentos divulgados, a ideia do Pisa é analisar se os sistemas de ensino dos países estão “tendo sucesso em ensinar os jovens a entender o mundo globalizado, que muda rapidamente”. A maneira como isso será mensurado ainda está sendo desenvolvida.
A intenção é a de checar habilidades como a de agir criativamente e eticamente, colaborando com outras pessoas. Os novos questionários do Pisa também pretendem analisar atitudes como respeito ao próximo, responsabilidade e diversidade cultural.
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