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Reitoria da UFSM fará culto ecumênico na volta às aulas, segunda-feira

Universidade planeja construir memorial para lembrar alunos mortos; docentes se perguntam como terminar semestre

Por Elder Ogliari , de Porto Alegre , e Carlos Lordelo e de São Paulo
Atualização:

O Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) não será o mesmo quando a instituição retomar as aulas na semana que vem. O alegre burburinho dos corredores do prédio 42, localizado em área verde a 10 quilômetros do centro da cidade, dará lugar ao ar de perplexidade, dor e consternação que se alastrou pelo País nos últimos dias, pois estudantes e professores terão de conviver com o vazio provocado pela ausência de 64 colegas, mais da metade dos 106 alunos da instituição que morreram no incêndio da boate Kiss.

 

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Para receber a comunidade acadêmica, a reitoria realizará um culto ecumênico no câmpus. A universidade planeja construir um memorial em homenagem aos estudantes mortos.

 

Em todos os cursos, as turmas que mais sofreram foram as do segundo semestre, que perderam dez alunos na Agronomia, nove na Tecnologia em Alimentos e cinco na Medicina Veterinária. Eram alunos que haviam feito um acordo com a boate para ficar com parte da arrecadação dos ingressos como forma de levantar fundos para a formatura.

 

Os cursos de Ciências Rurais são muito procurados por estudantes de regiões com vocação agropecuária, um setor que puxa a economia gaúcha.

 

“Não há como descrever o que estamos sentindo”, diz Guinter Jacobi, de 25 anos, aluno do sexto semestre de Agronomia que perdeu o amigo Leonardo Karsburg. “É triste pensar que muitos dos nossos conhecidos não realizarão um sonho comum a todos nós, que era o da formatura.”

 

A estudante do sexto semestre de Veterinária Alessandra Bridi, de 21 anos, chamou a família de Vista Alegre para acompanhá-la. “Se eu fosse para a minha cidade, acho que ficaria louca”, diz. Rafael De Bem, de 22 anos, do quarto semestre do mesmo curso, concorda: “Aqui estamos com amigos que sofreram a mesma dor e consolamos uns aos outros”, conta o aluno, natural de Palmeira das Missões.

 

Os estudantes da UFSM repetem que “a ficha ainda não caiu”. “Não dá para acreditar que foi aqui, com a gente”, afirma Rafael Beck, de 20 anos, também do quarto semestre de Veterinária e morador de Santa Maria. “Parece que eles (as vítimas) foram para casa e voltarão de um período de férias nos próximos dias.”

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Enquanto isso, professores se perguntam como terminar o semestre letivo após a tragédia que deixará carteiras vazias em várias turmas. Muito abalado, Alessandro Arbage, de 45 anos, resolveu encerrar as disciplinas que estava lecionando. Mandou e-mail para as turmas e informou que os alunos com número de faltas dentro do permitido e nota mínima para aprovação estavam passados. “Não tenho condições de dar aulas agora”, diz.

 

Arbage é professor de Agronomia, curso que teve o maior número de vítimas: 26. “De alguma maneira, nós encaramos os alunos um pouco como se fossem nossos filhos.”

 

Colega de Arbage, Airton dos Santos Alonço, de 58, também não conteve as lágrimas quando conversou com a reportagem por telefone. “Como a gente vai entrar na sala agora e notar que está faltando alguém ocupar um lugar? Como os alunos vão terminar o semestre olhando para as cadeiras vazias?”, questiona.

 

Alonço perdeu um orientando de iniciação científica. O estudante Victor Datria Macagnan tinha 19 anos e era “extremamente dedicado”, segundo o professor. “Ele queria vencer na vida por meio do estudo, mas teve o sonho interrompido na boate.”

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