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Recuperação contínua evita estresse em colégios de São Paulo

Escolas apostam em reforço ao longo do ano para evitar correria na reta final; conteúdo revisado é importante para períodos seguintes

Por Isabela Palhares
Atualização:
Independência. Ângela Cristina passou a ajudar a filha Letícia só em momentos de dúvida Foto: Daniel Teixeira/Estadão

SÃO PAULO -Para muitos pais, a chegada do fim do ano letivo é motivo de pesadelo. Com o acúmulo de notas baixas, os alunos precisam correr nas últimas duas semanas para rever todo o conteúdo do ano e tentar recuperar o tempo perdido. Para evitar a tensão e garantir que os estudantes aprendam todo o conteúdo, algumas escolas particulares de São Paulo adotaram métodos de recuperação contínua desde o início do ano.

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No Equipe, em Higienópolis, no centro de São Paulo, a expectativa da direção é de que pelo menos 60% dos alunos fiquem de recuperação em ao menos uma disciplina. A escola oferece um roteiro de recuperação ao longo do ano, que contém exercícios que devem ser entregues ao final da recuperação e cuja nota é incorporada à avaliação feita na prova.

A diretora da escola, Luciana Fervorinni, conta que a estratégia é diferente para cada aluno. “Logo que percebem que um aluno não está acompanhando o restante da classe, os professores montam um roteiro de estudos específico para cada estudante, porque cada um tem as suas dificuldades. Não dá para fazer um plano geral”, diz.

“Para aquele aluno que está realmente com dificuldade na matéria, o roteiro dá a oportunidade de estudar e aprofundar mais nos conceitos. Já para aquele que está de recuperação porque tem dificuldade de se organizar, pode ser um problema, porque ele tende a deixar para fazer os exercícios na última hora.”

O estudante Gustavo Beckenkamp Almeida, de 17 anos, teve dificuldade em Física e Matemática desde o início das aulas. Em vez de esperar o fim do ano, passou a fazer a recuperação há alguns meses.

Em Matemática, Gustavo conseguiu acompanhar o conteúdo e não vai precisar fazer a recuperação final. “Foi bom ter feito esse acompanhamento desde o início, porque consegui melhorar em Matemática. Em Física eu tenho mais dificuldade mesmo, mas pelo menos agora tenho só uma preocupação”, diz ele, aluno do 3.º ano do ensino médio.

Luciana Fervorinni, a diretora, diz que a medida evita a “surpresa” de pais e alunos no fim do ano com a recuperação. Para os alunos do ensino fundamental II (do 6.º ao 9.º ano), a recuperação começa no final do primeiro trimestre. Já para os alunos do ensino médio, a recuperação tem início no final do primeiro semestre.

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Orientação. No colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, zona sul, os alunos que apresentam dificuldade são convocados para uma orientação de estudos.

“Esse trabalho envolve os pais e leva em consideração todas as atividades que eles fazem fora da escola”, diz Vera Malato, coordenadora de orientação educacional do colégio. Ela conta que a “convocação” nem sempre é bem vista pelos alunos, que tendem a resistir ao programa montado, mas depois entendem que é a melhor forma de recuperar o conteúdo.

Já no Colégio Santa Maria, na zona sul, antes de chegar à recuperação final, o aluno passa por outras duas etapas organizadas pela escola. Primeiro, o estudante do ensino médio recebe um reforço para a “aprendizagem de pré-requisitos”, no início do ano letivo, para rever conceitos não aprendidos em anos anteriores. Se a dificuldade persiste, ele então é encaminhado para a recuperação contínua com atividades extras no período normal de aulas. “Isso requer do professor maior atenção, mais tempo e contato com o conhecimento apresentado”, diz Silvio Freire, diretor do colégio.

Crianças. Já para os alunos menores, do ensino fundamental I (do 1.º ao 5.º ano), os coordenadores dizem que é preciso cuidado para não estigmatizar e pressionar a criança. Adriana Meneguello, coordenadora do colégio Mary Ward, afirma que o mais importante é o diálogo com o aluno, explicando por que ele está fazendo recuperação. “Mostramos que ele é importante para a professora, para a escola, e queremos que acompanhe o resto da turma.”

A designer gráfico Ângela Cristina Dória, de 44 anos, conta que a filha Letícia, de 10, ficou muito assustada ao descobrir que estava de recuperação de Matemática e Geografia. Ela estuda no Mary Ward desde o 1.º ano e é a primeira vez que fica de recuperação. “Ela ficou bem preocupada, mas aí mudamos a rotina de estudos. Eu ajudava muito e ficava em cima quando ela fazia lição. Agora, eu só ajudo na hora das dúvidas, para que ela fique mais independente.”

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