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Quem confia no Enem desse MEC?

Em meio às denúncias, Inep diz que quer repetir questões usadas em outros anos

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Por Renata Cafardo
Atualização:

O desmonte é tamanho que a impressão é a de que o Ministério da Educação (MEC) já ruiu e agora só pode voltar a funcionar em 2023, em um próximo governo. A reboque dos pastores, da Bíblia e do ouro, vieram as obras paradas, escolas fake, ônibus escolar superfaturado. Mas a educação brasileira ainda precisa ficar oito meses nas mãos dessa turma e, no meio do caminho, há um Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).  A prova, além do desenho e metodologia complexos, que muita gente no MEC não entende até hoje, é esperança de futuro para milhões de jovens no País. Define vagas em todas as federais e na Universidade de São Paulo (USP), entre muitas outras. Em meio às denúncias de corrupção, o Inep, que faz parte do MEC e já havia passado pela maior crise da sua história em 2021, avisou que quer usar questões repetidas no Enem este ano porque tinha acabado o estoque de perguntas. 

Estudantes chegam para realizar o Enem em colégio na Avenida Paulista, São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão - 21/11/21

Mesmo no meio dessa tempestade, o governo Bolsonaro preferiu fingir que estava tudo bem e oficializou o secretário executivo do ex-ministro Milton Ribeiro, Victor Godoy, como titular do MEC. Apesar de ele ter estado nas reuniões com pastores e prefeitos, a “equipe de marketing” do presidente julgou que o nome de Godoy não havia aparecido fortemente nas denúncias na imprensa. Dava então para continuar tocando o barco de mãos dadas com o Centrão e jogar tudo nas costas dos pastores.  E como fica a credibilidade de um exame que define as vagas das melhores universidades do País feito por esse MEC? Técnicos do Inep explicaram que usar questões de outros anos, como quer a gestão atual, pode comprometer os parâmetros da prova.  Para cada pergunta do Enem há um “comportamento” esperado a partir de pré-testes sigilosos, algo que muda muito quando uma questão já foi usada. A calibração da prova é prejudicada, pode ser enviezada. E é daí que vem a nota do aluno – e não de uma contagem simples de quantas questões foram acertadas. A ideia de repetir perguntas pode deixar menos precisas as notas e as listas de aprovados.  E isso tudo porque, nos últimos anos, o governo Bolsonaro se ocupou em barrar, por ideologia ou ignorância, questões de um banco de itens já conhecido por ser escasso. Colocou gente no Inep que nada sabe de estatísticas e avaliações e não investiu em novas perguntas e pré-testes. E ainda minou um corpo técnico que há anos vinha construindo um órgão essencial para auxiliar as políticas públicas de educação. Apesar da sensação de terra arrasada, infelizmente, muita coisa pode ainda dar errado no MEC.