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PUC-SP perde 361 alunos por ano e terá reestruturação

Perto dos 70 anos, universidade desativará câmpus em Barueri, fechará 1,3 mil vagas e abrirá cursos de Engenharia e Arquitetura

Por Paulo Saldaña e Victor Vieira
Atualização:

SÃO PAULO - Depois de passar por um processo de perda de alunos na graduação, a um ritmo médio de 361 por ano, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) começa a pôr em prática um plano de reestruturação que envolve o fechamento de 1,3 mil vagas e a desativação de um câmpus. Planeja também criar duas novas graduações e expandir a oferta de especializações. A instituição, uma das mais tradicionais do País, completa 70 anos no ano que vem.

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O número de alunos de graduação da PUC-SP passou de 16 mil, em 2009, para 13,8 mil no ano passado. São 2,2 mil alunos a menos, queda de 14%. Como comparação, o número de alunos da rede privada de ensino superior cresceu na média 28% entre 2009 e 2013 (último dado disponível). Na rede pública, saltou 29% no período.

A universidade traçou um plano de desenvolvimento institucional até 2019 para tentar reverter esse quadro. Haverá a extinção de 23 cursos, que somam as 1,3 mil vagas que serão fechadas. Quatro são do câmpus de Barueri, que será desativado neste ano. A decisão é reflexo da ociosidade de turmas.

A instituição planeja expandir o número de alunos, mas sem abertura de unidades. A experiência com Barueri, criada em 2005, não foi bem-sucedida e por isso será fechada. A oferta de pós-graduação lato sensu (especializações), no entanto, deve ocorrer em regiões onde a universidade não atua, segundo o plano. Além disso, dois cursos novos estão planejados: Engenharia e Arquitetura, conforme o Estado apurou.

Na última década, a PUC-SP viveu problemas financeiros. Em 2006, a universidade tinha um déficit de R$ 4 milhões mensais. O resultado foi a demissão de mais de 800 funcionários na época. Segundo a Fundação São Paulo, entidade da Igreja Católica que mantém a PUC-SP, a dívida bancária é de R$ 74 milhões – em 2010, estava em R$ 109 milhões. A reportagem apurou que a demissão de 50 professores, em dezembro, compensou uma ação trabalhista de cerca de R$ 30 milhões, por causa de um dissídio não pago em 2005.

Celso Antônio Bandeira de Mello, professor emérito da PUC-SP, discorda das transformações recentes. “Resolvi ir embora porque aquela não era mais a PUC da qual eu havia feito parte”, disse, aposentado há cerca de dois anos. “Colocaram professores da melhor qualidade para fora. Mudou o respeito ao corpo docente. Também caiu a qualidade de ensino, mas isso não é só na PUC.”

Mercado. Além das questões internas, a universidade enfrenta um contexto de mercado desfavorável. Grandes grupos educacionais têm ganhado alunos com preços mais baixos e marketing agressivo. Ao mesmo tempo, faculdades se fortaleceram em áreas tradicionais da PUC-SP, como a Fundação Getulio Vargas (FGV) em Direito e o Insper em Economia.

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Para o consultor Roberto Lobo, ex-reitor da USP, o desafio é grande para as universidades comunitárias e confessionais, como a PUC-SP, porque elas mantêm uma estrutura de universidade pública, de investimento, pesquisa e contratação, mas dependem das mensalidades. “Elas estão encurraladas. Com o Reuni (projeto de expansão das universidades federais), aumentaram as vagas públicas. Ao mesmo tempo, a rede privada está praticando preços baixos e trabalha em escala”, afirmou.

Mesmo com a queda de alunos, a universidade manteve corpo docente qualificado e programas de pesquisa. Mais de 90% dos professores têm titulação de mestre, doutor e livre-docência. Só de doutores, são 57% – na rede privada, a taxa é de 18%. Coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, Francisco Borba também ressalta a dificuldade de manter a sustentabilidade financeira. “É difícil garantir um ensino que procura ser público e coloca o serviço à comunidade como prioridade.”

A PUC-SP tem 7% dos alunos com bolsas próprias, 12% do Programa Universidade Para Todos (ProUni) e 11% têm Financiamento Estudantil (Fies) do governo federal. No entanto, as mensalidades giram em torno de R$ 2 mil, motivo de queixas dos alunos.

A reitora Anna Cintra não atendeu ao pedido de entrevista. O sindicato dos professores, a Apropuc, também não respondeu à reportagem.

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