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Professor padrão é homem, doutor e tem de 51 a 60 anos

Eles também trabalham em regime de dedicação integral; prestes a se aposentar, Miguel Reale Júnior lembra seus 52 anos de USP

Por Marina Azaredo
Atualização:

Decano da Faculdade de Direito da USP, Miguel Reale Júnior, de 69 anos, está há 52 na universidade - ele entrou em 1963 em duas faculdades: Direito e Filosofia, que acabou não concluindo. Formado em Direito em 1967, começou a dar aulas em 1969 e, desde então, afastou-se da instituição apenas por breves períodos. "O mais longo foi quando fui assessor da Presidência na Constituinte e fiquei dois anos fora. Mas houve alguns períodos breves em que me afastei, quando era secretário de Segurança de São Paulo, nos anos 80, para cuidar dos ‘rolezinhos’ da época", lembra ele, que também foi ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso.

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Reale faz parte de uma equipe de 6.046 professores que compõem o corpo docente da principal universidade do País em 2014. O professor da USP padrão é homem (62%), tem de 51 a 60 anos (32,4%), trabalha em regime de dedicação integral à docência e à pesquisa (86,65%) e tem cargo de professor doutor (50,81%).

É o caso de Maurício Carvalho Ramos, professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Aos 53 anos e com pós-doutorado pela Universidade de Montreal, ele é professor da USP há sete.

"Apesar de alguns problemas, como má distribuição das bolsas de estudo para a pós-graduação, gosto muito de dar aulas na USP. É uma universidade que tem muitos recursos materiais e humanos", diz ele, que se formou em Ciências Biológicas na extinta Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Caetano do Sul.

Outra característica da USP é o alto porcentual de doutores. De acordo com números de 2012, apenas 0,87% não tinha o título - além dos 50, 81% de professores doutores, havia 29,72% de professores associados e 18,58% de professores titulares, cargos mais elevados, que também exigem o título de doutor. Em 1989, o porcentual de doutores era de 66,3%.

Miguel Reale Júnior concluiu seu doutorado pela própria USP em 1971. Hoje ele é chefe do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito. E, ao contrário de muitos professores experientes, prefere dar aulas para a graduação. "Tenho satisfação em apresentar o Direito Penal para jovens de 18, 19 anos."

No entanto, prestes a se aposentar - ele completa 70 anos em abril, idade em que a aposentadoria torna-se compulsória -, Reale Júnior nem começará o próximo semestre letivo. "Temos de nos conformar com os passos que vão sendo dados pela existência", afirma.

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Para grande parte dos professores, deixar a instituição para a qual dedicaram a vida inteira não é fácil. "Me aposentei em 2003. Mas, desde então, tenho trabalhado para terminar um estudo começado pela minha mulher, já morta, de documentação do acervo do Instituto de Física", diz o físico Ernst Hamburger, pai do cineasta Cao Hamburger. "Vou todos os dias à universidade. Só deixo de ir quando a saúde não permite", afirma. Aos 80 anos, ele está na USP desde 1951, quando entrou na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Aos 70 anos, Maria Fidela de Lima Navarro, professora da Faculdade de Odontologia de Bauru, aposentou-se em dezembro, depois de 47 anos como docente, mas não pretende deixar o câmpus tão cedo. "Vou continuar na pesquisa, pois sinto que ainda tenho muita energia."

Épocas diferentes. Em tantos anos de USP, o perfil dos alunos da universidade também mudou. Reale Júnior enumera as diferenças entre os seus alunos dos anos 1960 e os de agora.

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"Naquela época, o mais importante não era estudar Direito, mas estar na faculdade, que era um ponto de encontro, de incentivo, de debate de Artes e Humanidades. Era muito importante viver no pátio, discutir os últimos livros, política, o marxismo e a última peça de teatro. Os estudantes não estavam tão sofregamente preocupados com o futuro profissional, eles queriam usufruir daquela convivência. E havia um grande interesse em seguir advocacia", afirma. "Hoje, 90% dos estudantes preferem um concurso público. É uma busca por segurança. Há um desânimo do jovem. Ele se define hoje pelo que vai ser daqui a 35 anos, quando se aposentar."

 

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