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Primeira colocada em exame de professores divide-se entre 2 escolas e a casa

O programa criado pela Secretaria Estadual de Educação garante aumento a 20% de um contingente de 223 mil professores

Por Paulo Saldaña
Atualização:

Todas as semanas, a professora Daura Rita Marques Guimarães, de 41 anos, cumpre 31 aulas na escola estadual Dr. José Manoel Lobo, no centro de Votuporanga - a cerca de 500 quilômetros da capital paulista. São nove salas de aula. Duas vezes por semana, outras três salas numa escola particular, Piconzé. Ainda tem a casa, o almoço, o marido, a roupa e os três filhos. Apesar da jornada tripla, a professora conseguiu um resultado invejável em uma das provas mais polêmicas do magistério estadual: foi a primeira colocada no programa de promoção por mérito, entre os 32.397 professores de 5ª a 8ª série e Ensino Médio do Estado.

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O programa criado pela Secretaria Estadual de Educação garante aumento a 20% de um contingente de 223 mil professores - os melhores classificados na prova. Este ano, receberão reajuste de 25%. A secretaria não divulgou quais foram os mais bem colocados.

 

Esse limite de 20% foi contestado por professores, e uma das motivações para que o sindicato da categoria decretasse a greve. Professora há 19 anos da rede, Daura também discorda do modelo. "O professor está desvalorizado, tinha de ser para todos", defende ela, que aderiu à paralisação por uns dias. "O principal desafio do professor é resgatar a dignidade da carreira. É algo que tem de ser pensado desde a formação até a disponibilidade do diálogo com o aluno."

 

Vocação. Daura formou-se em História em 1990, na Universidade Estadual Paulista (Unesp). A vocação para a sala de aula surgiu ainda na adolescência, por influências dos pais - ambos professores.

Ela se desdobra em duas escolas para garantir um rendimento melhor: somando os dois salários, fatura, líquido, R$ 1.898,00 por mês. Mesmo quando tem aulas de manhã e à tarde, faz questão de passar em casa na hora do almoço "para distribuir as ordens" - comprou até uma moto para agilizar seu roteiro. "Não tenho empregada, então eles ajudam. No final de semana eu lavo e passo a roupa."

 

Até os colegas de escola se impressionaram com seu desempenho, no meio dessa correria, na avaliação. "Não achei difícil, estava de acordo com a bibliografia proposta. Mas não acreditei quando vi minha classificação." Ela conta que também deu um pouco de sorte. Acabara de ler muitas das obras exigidas durante o curso de pedagogia semipresencial, que finalizou no meio do ano.

 

"A prova tem um lado bom, que faz o professor se mexer", diz ela, que confessa ser idealista. "Tenho consciência do meu papel."

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