Pouco glamour e muito estudo, inclusive nos fins de semana

Quem quer tentar entrar na área a partir de agora precisa correr mais para se familiarizar com os temas

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A economista Solange Dias da Silva estava habituada a lidar com o orçamento de investimentos da Sabesp até que se viu com uma missão além-fronteiras: negociar uma parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "Decidimos fazer estudos sobre o aproveitamento da água como fonte de energia e analisamos a viabilidade econômica de uma cooperação internacional", lembra. Ela sempre teve em mente fazer um mestrado, e a oportunidade serviu como incentivo para chegar ao programa de Relações Internacionais do consórcio Unesp/Unicamp/PUC-SP. No mestrado, Solange pesquisa as relações políticas, econômicas e comerciais entre Brasil e China para produzir um estudo sobre uma possível parceria estratégica entre os dois países. Este material deverá integrar a biblioteca dos graduandos em Relações Internacionais nos próximos anos, mas Solange não tem ilusão quanto a uma vida de celebridade acadêmica ou de super-executiva que vive em aeroportos e hotéis pelo mundo. "A realidade destes profissionais, pelo menos por enquanto, é de muito esforço, perdendo fins de semana com suas pesquisas e estudos, sem aquele glamour que os mais jovens podem imaginar que haja na atividade", adverte o coordenador do programa paulista, Tulo Vigevani. Quem é graduado em Relações Internacionais já sabe disso, segundo o professor. Quem vai tentar entrar na área a partir de agora precisa entender que, além do trabalho duro, terá de correr um pouco mais para se familiarizar com os temas. "A prática mostra que os formados em Relações Internacionais são os melhores alunos na pós-graduação", atesta Vigevani. Línguas e negociação Além de muita disposição, os egressos de outras áreas precisam ter um perfil pessoal minimamente adequado. Entre os quesitos, pesam muito a capacidade de articulação e negociação, além da indispensável fluência em uma segunda língua. "É fundamental se ´aculturar´ e se construir como um internacionalista", recomenda Feliciano de Sá Guimarães, colega de Solange. Dedicado aos estudos, ele conta que será bolsista da Capes/Fapesp por dois anos, período em que não poderá ter um emprego. Trata-se de um compromisso no sentido de estudar e produzir material acadêmico. Sua pesquisa é sobre as razões que levaram países como o México a liberalizar seu mercado à economia internacional enquanto outros, como a Índia, não o fizeram na mesma medida. Vocação descoberta Assim como um "newcommer" pode descobrir que Relações Internacionais não é bem aquilo que esperava, o contrário também acontece. Antes de imaginar que estaria numa pós-graduação em Relações Internacionais, Paulo Pereira, hoje com 22 anos, achava que sairia da PUC-SP como sociólogo. O que mudou em sua perspectiva profissional, de 1999 para cá, foi a descoberta de uma vocação. "Eu não estava vocacionado para atuar em Relações Internacionais desde o início, mas durante a graduação o interesse foi surgindo", conta ele. Foi estudando que ele começou a perceber do que se tratava. "Só fazendo fui começando a saber..." O viés acadêmico não mudou: quer crescer como pesquisador e professor, e aposta que vai "ganhar o suficiente" na profissão. Mas Pereira também não ignora que o mercado possa lhe abrir algumas portas fora da academia. "Esta área abre muitas possibilidades", resume ele.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.