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'Para alguns alunos, eu deveria ser semianalfabeto’

Alunos bolsistas do Prouni passam por preconceito em salas de aula

Por Mariana Lenharo
Atualização:

José Geraldo da Silva Junior, de 29 anos, entrou em 2005 no curso de Publicidade na Universidade Metodista de São Paulo como bolsista. Era o ano de estreia do ProUni. Seu semestre letivo já começou diferente do dos outros alunos: o grupo de bolsistas passou a frequentar as aulas uma semana e meia após o início das aulas.

 

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“Não conseguimos nos integrar nos grupos de trabalho, já formados. Fiquei isolado com os outros bolsistas. Estava excluído”, conta. Junior sentiu-se sozinho naquele mundo diferente do dele, em que os colegas recebiam uma pequena fortuna de mesada, tinham carro do ano e não precisavam trabalhar. Veladamente, comentavam o fato de que, enquanto eles pagavam a mensalidade, os bolsistas tinham tudo de graça.

 

Na lista de chamada, os nomes dos bolsistas não apareciam em ordem alfabética, vinham embaixo de todos os outros. “São pequenas coisas, mas elas acabaram contribuindo para que eu me sentisse diferente dos demais”.

 

Também aluna da Metodista, Ana Paula Pascoaletto, 20 anos,do curso de Jornalismo, viveu outra história de exclusão. “Eu e alguns amigos montamos uma chapa para o diretório do Centro Acadêmico. Ficamos tachados de ‘Chapa ProUni’. Na internet, alguns alunos diziam: ‘Não podemos deixar a Chapa ProUni ganhar’”.

 

No caso da estudante de Direito da PUC-SP Nayla Paganini, de 24 anos, o que incomodava eram suas roupas, mais modestas do que as das colegas. “Não ia arrumada como as meninas da sala, então acabava sempre sendo alvo de olhares e comentários. Um dia, me perguntaram se eu estava de pijama”.

 

Já o estudante de Engenharia Elétrica da PUC-PR Matheus Lincoln dos Santos, de 23 anos, conta que teve de provar que tinha capacidade de acompanhar o curso. “O que os incomodava mais era eu ter estudado em escola pública. Para alguns professores e colegas, eu deveria ser semianalfabeto”, lembra.

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