Pais antecipam compra de material escolar

De olho nos gastos de janeiro, famílias utilizam várias ‘técnicas’ para completar a lista já em dezembro

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Por Mariana Mandelli
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SÃO PAULO - De feiras de troca de livros à reutilização dos lápis e canetas do ano anterior, passando por compras coletivas, vale tudo para minimizar o impacto que os custos do material escolar têm no orçamento. Mas em um ponto as famílias e escolas são unânimes: quanto mais cedo for feita a compra - que pode custar o valor de uma mensalidade -, maior o alívio na planilha de gastos. Por pedido ou até mesmo pressão dos pais, grande parte das escolas passou a divulgar a lista de material já em dezembro - o que, segundo as famílias e os próprios colégios, facilita o parcelamento e a negociação de preços.“Liberamos a lista em novembro e incentivamos a compra agora por um único motivo: os preços são muito mais em conta e as famílias podem comprar com tranquilidade. É a melhor hora”, diz Sueli Conte, diretora do Colégio Renovação, que tem quatro unidades na zona sul de São Paulo. Segundo pais e escolas, comprar os que as crianças vão usar no ano que vem entre novembro e dezembro evita a avalanche de outros gastos que já é velha conhecida do mês de janeiro: IPTU, IPVA, contas e prestações a perder de vista. Para o contador Cicero da Silva, de 43 anos, pai de três filhos em idade escolar, além de divulgar as listas ainda mais cedo, os colégios deveriam trocar menos itens de um ano para o outro. “Todos os anos, cerca de 30% da lista é de coisa nova, que não dá para conseguir de segunda mão”, afirma ele, que participa da associação de pais da escola - o Colégio Santa Amália -, que organiza uma feira de livros. Alternativas. Algumas escolas afirmam que, para facilitar a vida dos pais, fecham parcerias com as livrarias que oferecem os materiais e livros com maior desconto. Mas, segundo órgãos de defesa do consumidor, a técnica só é válida se não for obrigatória (mais informações nesta página).É o caso do Colégio Magister, que dá a opção de comprar os itens relacionados na papelaria da escola por um preço menor do que o valor de mercado. Outros colégios destacam nas listas quais livros continuarão em uso no ano seguinte e estimulam o empréstimo entre alunos.Na Escola Viva, uma das iniciativas é divulgar para os pais links com indicações de sebos. “A lista dos sebos está permanentemente disponível no nosso blog e, quando a escola envia mensagem sobre adoção de um novo livro, reforçamos isso no texto do comunicado”, afirma Marta Campos, coordenadora de comunicação da escola. Trocas. Cada vez mais comum, a organização de feiras de livros usados ganhou adeptos em diversos colégios. As famílias e as escolas afirmam que a ação é sustentável, já que promove reciclagem e reaproveitamento de materiais. “A ideia não é só economizar, mas também divulgar uma consciência ecológica”, afirma João Boani, diretor da associação de pais do Colégio Santa Amália.As feiras podem ser informais ou organizadas pela escola ou pelas associações de famílias e mestres. Algumas mães conseguem economizar até R$ 1.500. “Tem mãe que sai daqui com 15 livros debaixo do braço”, conta Mary Elizabeth da Rocha Azevedo, coordenadora da “Bibliotroca” do Colégio Pio XII. Segundo ela, quanto antes o colégio faz a divulgação d a lista de materiais, mais tempo os pais têm para se organizar para trocar.Os paradidáticos - como as obras literárias - são alguns dos itens de maior sucesso nas trocas - especialmente porque, geralmente, estão em bom estado, sem rasuras. “Economizei R$ 300 só trocando paradidáticos”, afirma a designer Fernanda Ambrósio, mãe de duas crianças.Problemas. Apesar dos benefícios, as feiras de troca também podem causar dor de cabeça. Para as escolas e para os pais. Um exemplo é a data em que ela é realizada. Segundo os colégios, se as feiras ocorrerem no início das aulas, muitas pais não compram os livros em lojas, com a expectativa de encontrar tudo no evento. Se não acham, acabam encomendando nas livrarias quando as aulas já iniciaram - o que pode atrapalhar o calendário escolar.“Por isso, muitas vezes, os pais ultrapassam os prazos, estabelecidos por nós, em que os professores se planejam para não usar os livros”, explica Luciana Fevorin, diretora do Colégio Equipe. De acordo com Luciana, outra dificuldade que a troca de livros traz é que, de um ano para o outro, algumas editoras promovem mudanças pontuais nas edições - como alterar a sequência de exercícios e páginas, por exemplo. “Parece bobagem, mas isso faz toda a diferença para o professor em sala de aula, lidando com crianças”, conta. “Em uma turma com alunos que possuem várias edições do mesmo livro, a simples instrução ‘abra na página tal’ acaba desorganizando o trabalho”, explica ela.

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