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'Os cursos presenciais vão continuar necessários’, diz especialista

Para professor, a socialização traz o aprendizado além do conteúdo formal

Por Alex Gomes
Atualização:

A experiência virtual vai fazer com que os alunos de ensino superior não queiram mais cursos completamente presenciais? Como fazer com que as metodologias de ensino remoto sejam mais inclusivas? Como transformar os encontros a distância em momentos menos cansativos? Essas e outras questões são abordadas nesta entrevista com o professor Derick Casagrande Santiago, coordenador do Núcleo de Educação a Distância (Nead) da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Confira a seguir:

Derick Casagrande Santiago, coordenador do Núcleo de Educação a Distância da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Foto: FESPSP

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Como você vê a perspectiva de aumento do ensino híbrido na educação superior?

Dadas as necessidades impostas pela pandemia, as práticas educacionais foram repensadas e adaptadas. Passaram a se basear na adoção de tecnologias digitais e na adoção de metodologias ativas, elementos fundamentais do ensino híbrido. As experiências adquiridas no período fortaleceram esse modelo como uma forma de, além de proporcionar inovações no ensino-aprendizagem, reavaliar projetos, programas e currículos. Consequentemente, a perspectiva de aumento do ensino híbrido na educação superior consiste na possibilidade de ampliação de práticas mais flexíveis e diversificadas, acompanhando o conjunto de transformações pelas quais as sociedades vêm passando.

Isso pode levar à extinção de cursos totalmente presenciais?

Mesmo frente à crescente possibilidade de expansão do ensino híbrido, as mudanças na esfera educacional não tornarão os cursos presenciais desnecessários. A tendência é que sua organização e dinâmica sejam redefinidas. Além disso, o ensino presencial proporciona, por meio da socialização entre diferentes indivíduos, aprendizagens além dos conteúdos curriculares, também de extrema importância para a formação. 

Há exemplos pelo mundo de boas práticas de ensino híbrido?

Há exemplos mais consolidados de práticas de ensino híbrido nos Estados Unidos, onde esse modelo começou a ser difundido. Pode-se indicar o caso da Summit San Jose. Lá, além de adotar o modelo, estabeleceu-se um processo contínuo para sua inovação, não se limitando à adoção de equipamentos tecnológicos na instituição escolar. No caso do processo de inovação, a instituição recorreu a um conjunto de dados dos estudantes e professores, devolutivas e reflexões de forma a caracterizar o programa com o perfil da escola.

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Nas aulas síncronas, alunos reclamam do cansaço em passar horas com o professor falando, sem as interações que são comuns no modo presencial. Como seriam essas ‘lives’ ideais?

Para que as aulas remotas síncronas sejam melhor aproveitadas pelos estudantes, é necessário considerar o tempo de duração e as dinâmicas que nela serão usadas. Realizar umas aula remota síncrona totalmente expositiva por parte do professor pouco contribuirá para a participação e a reflexão do estudante. Não se trata de transplantar a aula presencial com o uso de ferramentas de videoaulas. É válido lembrar que há ferramentas criadas para atender especificamente as necessidades educacionais, além das ferramentas usadas no âmbito corporativo e comercial que têm sido adaptadas para o uso educacional.

Quanto às práticas pedagógicas, quais são as principais diferenças entre o ensino remoto e o presencial?

No ensino presencial, a ênfase, em grande parte, ainda se concentra no conteúdo. As aulas mantêm um modelo tradicional, sendo expositivas durante a maior parte do tempo, se não em sua totalidade. Nesse formato, poucas são as oportunidades para que os estudantes desenvolvam um protagonismo no próprio processo de construção do conhecimento, a partir de propostas diferenciadas de atividades, práticas e projetos. O ensino remoto privilegia, por sua vez, uma participação mais ativa e colaborativa por parte dos estudantes. O tempo de aula tende a ser reduzido, de forma a manter a concentração dos estudantes e esse aluno recebe um incentivo maior às interações e discussões, além de dinâmicas em que o conhecimento seja compartilhado e construído colaborativamente.

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