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O exemplo de Setubinha

Estudo divulgado um dia depois que Abraham Weintraub deixou o MEC mostra que 82% das redes municipais estão oferecendo aulas ou conteúdos durante o fechamento das escolas

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Por Renata Cafardo
Atualização:

O Brasil se livrou na semana passada de um ministro da Educação que nada se importava com Educação. Deixemos então Abraham Weintraub de lado, agora que ele finalmente se foi. E falemos do que as cidades brasileiras fizeram em suas redes de ensino durante a pandemia, mesmo sem qualquer articulação do governo federal. 

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Estudo divulgado um dia depois que Weintraub deixou o MEC mostra que 82% das redes municipais estão oferecendo aulas ou conteúdos durante o fechamento das escolas. Claro que se pode olhar o copo meio vazio e dizer que 18% não conseguiram fazer nada. Mas diante da total falta de ajuda do ministério, é uma vitória. 

A pesquisa “A Educação não pode parar” foi feita pelo instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) e pelo Comitê Técnico de Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB). Foi ouvida uma amostra de 232 municípios. Os números por região mostram que Sudeste e Sul, as mais ricas, têm 100% das suas cidades com ensino remoto. No Norte e Nordeste, fica em torno de 75%. 

A pesquisa traz relatos como o da cidade de Setubinha, em Minas Gerais, que fica a 500 quilômetros da capital e tem 11 mil habitantes. Toda semana, os professores elaboram atividades, tiram cópias na secretaria da Educação e entregam aos pais ou aos próprios alunos na escola. Nesse dia, os docentes explicam a atividade nova e recebem as que foram feitas na semana anterior.

“Se, por acaso, algum aluno não devolve, o professor vai até a casa dele, procura saber o que aconteceu e resolve o problema”, conta o responsável pelo programa em Setubinha. A cidade é extremamente pobre e rural. A prefeitura percebeu que não seria possível cobrar o uso do computador ou do celular dos alunos. Setubinha “resolveu o problema”.

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Houve também municípios que criaram 0800 para se tirar dúvidas, grupos e grupos de WhatsApp ou até passaram com carro de som avisando os pais sobre a importância de ajudar os filhos.

E exemplos de extrema organização, como Guajará Mirim, em Rondônia, que estabeleceu exatamente as funções do professor neste momento de escolas a distância: “1. Planejar as aulas não presenciais a serem desenvolvidas; 2. Apresentar à supervisão escolar com antecedência as atividades elaboradas para apreciação”... e seguia até a última, que é “registrar as atividades pedagógicas remotas desenvolvidas em portfólio, constando relatórios descritivos e fotográficos das ações, com gráficos do resultado do rendimento do estudante”.

A pesquisa mostrou ainda que 79% dos municípios já criaram estratégias para evitar o abandono escolar, indicado como um dos maiores riscos em tempos em que a escola fica fechada – seja em guerras, desastres naturais ou greves. Muitas delas ligam com frequência para os alunos que deixam de fazer contato. E 84% já têm projetos sobre como vão organizar a volta às aulas, coisa que muita escola particular ainda não sabe como fazer. A maioria planeja uma avaliação diagnóstica dos alunos para ver o que aprenderam no período em casa, medida recomendada por dez entre dez especialistas. 

“Sucesso absoluto não é nossa meta, mas já observamos bons resultados, pois os alunos estão procurando pelos professores, solicitando ajuda e alguns pais procuram por nós para agradecerem pelos filhos estarem dedicando uma parte do seu tempo, em casa, aos estudos”, completa o relato da secretaria de Setubinha.

Mesmo com a falta de estrutura, a cidade fez na pandemia o que se espera de uma escola. Manteve-se preocupada com seus alunos e se esforçou para que aprendessem sob qualquer circunstância. Valores simples, mas que nunca passaram perto do nosso ex-ministro da Educação.

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