‘O desafio do Enem tem o tamanho do País’

Entrevista: Luiz Cláudio Costa, presidente do Inep

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Por Redação
Atualização:

Quarto presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) desde 2009, Luiz Cláudio Costa assumiu o cargo em fevereiro do ano passado com a tarefa de conduzir uma edição do Enem sem falhas. Para Costa, aperfeiçoados os sistemas de aplicação e segurança, o desafio agora é aprofundar a discussão pedagógica. “O processo do Enem nunca acaba. Termina um e já estamos pensando no outro”, conta.

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O Enem tem hoje um grande número de treineiros e candidatos que repetem a prova. O exame já é mais um vestibular do que um sistema que avalia o ensino médio? Não. O Enem atinge seus objetivos básicos de dialogar com as escolas e dar acesso aos programas federais de ensino superior. O fato de vários alunos fazerem a prova antes - no primeiro e no segundo ano do ensino médio - mostra o papel norteador, de revelar pontos fortes e fracos às escolas e aos próprios alunos. Também dá mais oportunidades a classes vulneráveis. A maioria dos candidatos que faz mais de uma vez vem de escolas públicas e não teria condições de participar ou repetir o vestibular normal, por causa do deslocamento ou da taxa de inscrição. Ainda existe a necessidade de certificação do ensino médio, para atender às pessoas que, por diversas razões, não concluíram os estudos e estavam excluídas.

O exame superou a crise de credibilidade? O desafio do Enem tem o tamanho do País. É um processo em que aproveitamos muito as experiências anteriores. Houve uma discussão importante sobre a avaliação, feita pela imprensa e pela sociedade, mas um pouco injusta. Se observarmos exames da mesma natureza - como o francês, o chinês e o americano (mais informações nesta pág.) -, todos têm problemas. Se roubam uma prova, não é questão de gestão, mas um crime, e alguém deve ser punido. Nos Estados Unidos, por exemplo, tiveram de prender pessoas por causa de fraude. Ano passado não tivemos problemas logísticos. 

O Inep já tem a expertise necessária para fazer e aplicar a prova? Sim. Avançamos bastante nos aspectos logísticos e pedagógicos. O debate sobre as redações, por exemplo, foi positivo tecnicamente. É a primeira vez no País que um vestibular libera a consulta às notas e às avaliações. 

O que o Inep faz para tentar tornar a Teoria de Resposta ao Item (TRI), método de avaliação dos resultados, mais acessível a todos? Fazemos eventos e dialogamos com as redes estaduais, os alunos e os professores, para que verifiquem e incorporem a importância do método. Ele é difícil, porém mais justo e internacionalmente reconhecido.

O Enem já induziu mudanças nas escolas? Temos um diálogo mais justo, democrático. Antes, três grandes vestibulares definiam o currículo no Brasil e as informações ficavam restritas a cursinhos e escolas, na maioria privadas. Hoje, o Enem define as matrizes de habilidades e competências de todas as instituições, principalmente as públicas. A tendência é de que o ensino médio se reestruture, com ajustes ao longo do tempo.

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