'O desafio do EAD é garantir que tudo o que está no papel ocorre'

Professora da PUC-RS, do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Tecnologias Digitais e Educação a Distância, diz que é preciso olhares distintos para diferentes cursos; ensino à distância já ultrapassou vagas presenciais no ensino superior

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Por Alex Gomes
Atualização:

SÃO PAULO - Em 2018, pela primeira vez o total de vagas ofertadas no ensino superior a distância ultrapassou as oferecidas na modalidade presencial. Dados do Censo de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC) mostram que foram 7,1 milhões de vagas EAD ante 6,4 milhões presenciais. Isso apenas na graduação. Se somar as ofertas de curso livre e pós-graduação a distância, já são quase 10 milhões de vagas EAD.

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Se, por um lado, a pulverização do ensino a distância diminuiu o preconceito contra a modalidade e possibilitou que muita gente conseguisse incluir o estudo na rotina puxada, por outro alguns processos têm de continuar a ser aperfeiçoados, casos da avaliação dos cursos e da oferta de materiais com linguagem e formatos adequados.

Também é preciso um olhar distinto para os diversos tipos de cursos. Não dá para usar a mesma regra para um Mooc (da sigla em inglês, Massive Open Online Course), que é um curso livre, e para uma graduação. "São cursos com perfis, objetivos e demandas diferentes. Definir um padrão para ofertas tão diversificadas é complicado e reducionista", afirma Lucia Maria Martins Giraffa, professora titular na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), onde lidera o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Tecnologias Digitais e Educação a Distância. Confira a entrevista.

Lucia Maria Martins Giraffa é professora da PUC-RS elidera o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Tecnologias Digitais e Educação a Distância Foto: PUC-RS/Divulgação

O que caracteriza um bom curso a distância? É possível elencar alguns tópicos? Tem de ter estrutura curricular bem organizada, materiais diversificados e com conteúdo correto; bons professores conteudistas para garantir o conteúdo atualizado e adequado ao propósito do curso; equipe de designers instrucionais/gráficos que organizem as matérias de reforma multimodal; equipe de mediação com feedbacks adequados; tempo curto de respostas às dúvidas dos alunos. Não é uma lista definitiva, mas são dicas a serem observadas para ter resultado com qualidade. Por fim, algo bom é conversar com quem já é aluno ou fez curso na instituição de ensino e saber como foi a experiência.

Com o passar dos anos, os cursos a distância já tratam das mais diferentes áreas. Em geral as experiências são positivas ou algumas áreas ainda demandam o ensino presencial? As experiências positivas se apoiam em cursos ofertados por instituições tradicionalmente com credibilidade e que possuem excelência também nos presenciais. Tem áreas que já estabeleceram, via seus conselhos, a regulamentação da oferta. Creio que em cada área existem prós e contras. Em algumas, como saúde, é complicado fazer totalmente virtual. Com a tecnologia que temos à disposição, não sei se haverá um curso totalmente assim.

E a estrutura também difere de acordo com o tipo de curso, não é? Um curso livre é muito diferente de um mestrado EAD. A oferta EAD sempre requer uma equipe diversificada e competente, com experiência em materiais multimodais e que organizem a linguagem para oferta. Mas é importante destacar as diferenças entre cursos: extensão, lato sensu e graduação virtual. São cursos com perfis, objetivos e demandas diferentes. Colocar um padrão para ofertas tão diversificadas é complicado e reducionista. Os cursos, no seu projeto, devem contemplar o público-alvo, especificidade, matérias, infraestrutura de apoio, técnica e pedagógica, e tipo de formação. Um curso massivo, tipo Mooc(ofertado por vários players de educação online), é uma coisa. Outra coisa muito distinta é um processo de formação associado a uma graduação.

Qual sua opinião sobre o stricto sensu EAD, autorizado pela Capes e cujo primeiro edital recebeu 17 propostas de cursos? Esta é uma questão ainda crítica a ser discutida. Precisamos ter mais elementos e regulação para garantir ofertas de qualidade.

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A evasão ainda é um grande problema em cursos a distância. O que fazer para combatê-la? É a pergunta de um milhão de dólares. Os mitos de que é mais fácil, mais barato e mais rápido ainda permeiam o imaginário das pessoas. Um curso de qualidade nessa modalidade vai requerer do aluno uma postura muito comprometida, disciplinada e organizada. Porque é fácil se perder na agenda quando não se tem a obrigatoriedade da presença e da "cobrança", que estão acostumados a ter no presencial.

Como vê a questão da avaliação dos cursos? O que é preciso melhorar no processo de acompanhamento da modalidade? Avaliação é sempre a parte mais crucial a ser observada em todo tipo de oferta. O desafio foi, e sempre será, ter um número de avaliadores capazes de dar conta das avaliações in loco para garantir que tudo o que está no papel ocorre de fato.

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