Pela primeira vez desde 2009, o número de ingressantes no ensino superior caiu no Brasil. Em 2015, entraram nos cursos presenciais de graduação 2,2 milhões de alunos – 6,6% a menos do que em 2014. Com a queda, 42,1% das 6,1 milhões de vagas para aquele ano foram preenchidas. Os dados são do Censo da Educação Superior 2015, divulgados nesta quinta-feira, 6, pelo Ministério da Educação (MEC).
A redução de ingressantes aconteceu ao mesmo tempo que o governo restringiu o acesso ao Financiamento Estudantil (Fies), colocando como regras, por exemplo, a exigência de nota mínima de 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os dados do censo mostram que 9,9% dos alunos, que ingressaram no ensino superior em 2015, não atingiram a pontuação mínima.
A rede privada, que concentra a maioria das matrículas, foi proporcionalmente a que mais perdeu novos alunos: de 1,9 milhão para 1,7 milhão, redução de 8,4% em relação a 2014. Já a rede pública permaneceu estável, com 500 mil alunos.
Para Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), as mudanças no Fies são o principal motivo para a redução de ingressantes. Depois de o governo federal oferecer 713 mil vagas em 2014, o número de contratos em 2015 caiu para 287 mil. Segundo ele, projeções da entidade mostram nova queda de ingressantes nas instituições particulares em 2016.
Os dados do censo revelam ainda que, do total de alunos matriculados, 44,4% tinham bolsa. No ano anterior, os beneficiados eram 46,1%. Além do Fies, também houve queda no número de bolsas concedidas pelas instituições privadas, de 35,7%, em 2014, para 32,7%.
Questionado se a queda de ingressantes na rede privada teria relação com as restrições ao Fies, o MEC afirmou apenas que diminuiu o ritmo de crescimento de alunos beneficiados pelo programa, mas que o número em si manteve-se estável. Para os gestores do ministério, o desenho do ensino superior brasileiro é “atrasado, engessado, errado e defasado”. Os dados mostram que, além das vagas ociosas, 49% dos ingressantes de 2010 desistiram do curso.
“Não há filosofia do ensino superior no Brasil. Não temos projetos, não sabemos quais os setores mais estratégicos, quais disciplinas são prioritárias”, disse o secretário de Educação Superior do MEC, Maurício Romão. Apesar das críticas, a pasta não informou o que vai fazer para reverter o quadro, mas defendeu o modelo previsto na MP do ensino médio: currículo comum na primeira metade e escolhas específicas depois.
Meta. Ainda que com a maior perda de novos alunos, a rede privada continua responsável pela matrícula de 81,7% de ingressantes na graduação. O dado mostra o quanto o País ainda está longe de alcançar uma das metas do Plano Nacional de Educação, que prevê que, até 2024, ao menos 40% das novas matrículas sejam feitas na rede pública. Romão admitiu que a meta é de “difícil alcance”. “Nos últimos anos, houve um crescimento expressivo da rede federal mas, pelas indicações que temos sobre orçamento e pactuações feitas pelo MEC até o início do ano, essa questão ainda está muito atrasada.”