Brasil tem queda de 190 mil novos alunos em cursos de graduação

O número de ingressantes nos cursos de graduação caiu 6,1% em 2015 e a rede privada foi a que mais perdeu novos alunos

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Por Isabela Palhares e Luísa Martins
Atualização:
Na rede pública, a queda foi de 2,6%, com a perda de 14.181 alunos Foto: Estadão

Pela primeira vez desde 2009, o número de ingressantes no ensino superior caiu no Brasil. Em 2015, entraram nos cursos presenciais de graduação 2,2 milhões de alunos – 6,6% a menos do que em 2014. Com a queda, 42,1% das 6,1 milhões de vagas para aquele ano foram preenchidas. Os dados são do Censo da Educação Superior 2015, divulgados nesta quinta-feira, 6, pelo Ministério da Educação (MEC). 

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A redução de ingressantes aconteceu ao mesmo tempo que o governo restringiu o acesso ao Financiamento Estudantil (Fies), colocando como regras, por exemplo, a exigência de nota mínima de 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os dados do censo mostram que 9,9% dos alunos, que ingressaram no ensino superior em 2015, não atingiram a pontuação mínima. 

A rede privada, que concentra a maioria das matrículas, foi proporcionalmente a que mais perdeu novos alunos: de 1,9 milhão para 1,7 milhão, redução de 8,4% em relação a 2014. Já a rede pública permaneceu estável, com 500 mil alunos.

Para Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), as mudanças no Fies são o principal motivo para a redução de ingressantes. Depois de o governo federal oferecer 713 mil vagas em 2014, o número de contratos em 2015 caiu para 287 mil. Segundo ele, projeções da entidade mostram nova queda de ingressantes nas instituições particulares em 2016. 

  Foto: Inforgráfico| Estadão

Os dados do censo revelam ainda que, do total de alunos matriculados, 44,4% tinham bolsa. No ano anterior, os beneficiados eram 46,1%. Além do Fies, também houve queda no número de bolsas concedidas pelas instituições privadas, de 35,7%, em 2014, para 32,7%. 

Questionado se a queda de ingressantes na rede privada teria relação com as restrições ao Fies, o MEC afirmou apenas que diminuiu o ritmo de crescimento de alunos beneficiados pelo programa, mas que o número em si manteve-se estável. Para os gestores do ministério, o desenho do ensino superior brasileiro é “atrasado, engessado, errado e defasado”. Os dados mostram que, além das vagas ociosas, 49% dos ingressantes de 2010 desistiram do curso. 

“Não há filosofia do ensino superior no Brasil. Não temos projetos, não sabemos quais os setores mais estratégicos, quais disciplinas são prioritárias”, disse o secretário de Educação Superior do MEC, Maurício Romão. Apesar das críticas, a pasta não informou o que vai fazer para reverter o quadro, mas defendeu o modelo previsto na MP do ensino médio: currículo comum na primeira metade e escolhas específicas depois.

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Meta. Ainda que com a maior perda de novos alunos, a rede privada continua responsável pela matrícula de 81,7% de ingressantes na graduação. O dado mostra o quanto o País ainda está longe de alcançar uma das metas do Plano Nacional de Educação, que prevê que, até 2024, ao menos 40% das novas matrículas sejam feitas na rede pública. Romão admitiu que a meta é de “difícil alcance”. “Nos últimos anos, houve um crescimento expressivo da rede federal mas, pelas indicações que temos sobre orçamento e pactuações feitas pelo MEC até o início do ano, essa questão ainda está muito atrasada.”