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Novas Educações na sociedade em rede

Por Agencia Estado
Atualização:

Pollyana Notargiacomo Mustaro * O informacionalismo decorrente do crescimento da capacidade humana para o processamento de informações, juntamente com as revoluções nas áreas da genética e da microeletrônica, instituiu o que se denomina atualmente de ?sociedade em rede?. Uma sociedade caracterizada por redes de informação interligadas através de tecnologias digitais que utilizam e exploram as possibilidades comunicacionais e simbólicas do ciberespaço. Nesta nova dimensão virtualizada, desterritorializada e atemporal surgem novas perspectivas educacionais que transcendem o processo de escolarização tradicional de replicação de conhecimentos lineares e estáticos e instituem conhecimentos complexos, mutáveis, dinâmicos e flexíveis. Para compreender este panorama é necessário conhecer o funcionamento e os mecanismos de interação humana no ciberespaço. A interação síncrona utiliza ferramentas como o IRC (Internet Relay Chat), o Áudio ou a Videoconferência para a comunicação em tempo real, independentemente da localização geográfica dos participantes (docentes e discentes). Já na interação assíncrona, tanto alunos quanto professores podem ? através de E-mail, Lista de Discussão, Fórum e Newsgroup ? participar de discussões, interagir e construir conhecimentos em tempos e espaços distintos, determinados pelos ritmos e interesses individuais e coletivos. Uma terceira forma de interação, denominada de comunicação instantânea, apresenta elementos comunicacionais híbridos (síncronos e assíncronos) integrados em programas como o ICQ, MSN Messenger, YahooI Messenger e outros. Contudo, a vantagem da comunicação instantânea para o uso educacional está vinculada à restrição de troca de mensagens às pessoas autorizadas numa lista pessoal, que indica quais se encontram conectadas à Internet. Este recurso, aliado à possibilidade de troca de arquivos, permite que um determinado grupo realize encontros virtuais espontâneos ou que alunos interajam com professores ou colegas durante a conexão. No caso específico de propostas educacionais, as interações síncronas, assíncronas e híbridas constituem vetores para a democratização do acesso ao conhecimento, instituição de caminhos personalizados de aprendizagem e formação de comunidades virtuais que cooperam para a resolução de problemas e construção de conhecimentos. O uso de tecnologias de comunicação digital para a formação de grupos, troca de conhecimentos, estabelecimento de amizades virtuais e resolução conjunta de problemas é marcado, também, por um processo dialético que funciona como uma ?alavanca propulsora? de aprimoramento pessoal e comunitário e instituição de uma relação positiva com o saber. A dialética deste processo é marcada pela simultaneidade dos papéis de mestres e aprendizes, pelo aspecto lúdico e pela motivação intrínseca durante o trabalho, que resultam em uma aprendizagem extremamente significativa. Tais propostas convergem, ainda, para o que Manuel Castells chama de ?Academia em Rede?. Esta utiliza os recursos do ciberespaço para a divulgação de trabalhos para teste, desenvolvimento, utilização e crítica, tendo em vista o avanço da comunidade científica em geral. Como exemplos de academias em rede podem ser citados o Projeto Genoma Humano e o Sistema Operacional Linux ? ícone do movimento de Softwares Livres e Código Aberto. Este sistema é aperfeiçoado por milhares de programadores ao redor do mundo que discutem, aprendem, trabalham e se divertem para disponibilizar gratuitamente os avanços alcançados. O trabalho paralelo realizado neste tipo de iniciativa também viabiliza a aceleração das pesquisas e obtenção de resultados confiáveis em tempo reduzido, instituindo universos educacionais múltiplos que extrapolam o ambiente educacional formal. Na sociedade em rede, as novas educações colaboram para que as pessoas adquiram condições de aprender ao longo da vida através do estabelecimento de laços sociais, do respeito às diferenças e do rompimento da visão sistêmica de escolarização voltada para a homogeneização. Estas novas educações em rede, enfim, apresentam inúmeras potencialidades para que os alunos tornem-se pessoas autônomas, questionadoras e criativas capazes de realizar pesquisas, construir conhecimentos e promover avanços científicos em uma sociedade marcada pela velocidade das mudanças tecnológicas. * Doutora em Educação pela USP e professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie - e-mail: polly@mackenzie.com.br

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