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Nas escolas tomadas no PR, uma guerra política

MBL e grupos ligados às ocupações passaram a disputar colégios ‘no braço’ na última semana

Por Pablo Pereira
Atualização:
Justiça havia determinado a reintegração de 25 escolas da capital Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

CURITIBA - O clima de radicalização política entre grupos favoráveis à ocupação de escolas por estudantes secundaristas do Paraná e militantes do Movimento Brasil Livre (MBL), contrário à tomada dos colégios, se agravou durante a semana passada em Curitiba. Os dois lados passaram a disputar espaço “no braço”. 

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Para o professor Hermes Silva Leão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), o acirramento das tensões políticas na área da Educação “é um reflexo do processo político polarizado que vivemos no País”. Segundo o sindicalista, “no Paraná isso está se agravando diante da tentativa de setores do governo de dar voz a grupos como o Desocupa Paraná, que quer criminalizar o movimento dos secundaristas”.

Para o MBL, que organiza o “Desocupa”, a conversa é outra. Nas mobilizações via Facebook e nas manifestações diante das escolas tomadas, integrantes gritam que o APP-Sindicato estaria “usando alunos como massa de manobra” para a sustentação da greve de professores, que começou no último dia 17 no Estado.

Estudantes controlam entrada no colégio contra o risco de invasão Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Nos cercos aos colégios, o ex-candidato a vereador pelo PSC Eder Borges, que obteve cerca de 4 mil votos, mas não se elegeu na última eleição, acusou os sindicalistas de promoverem as ocupações como apoio à greve. Os professores reivindicam reposição salarial e a retirada pelo governo do desconto e falta pelo dia 29 de abril, quando fizeram um protesto para marcar a data do confronto com a Polícia Militar que deixou dezenas de feridos, em 2015. 

‘Baderneiros’. Nesta semana, o Desocupa Paraná mirou principalmente as escolas mais centrais da capital, depois de terem se reunido com representantes do governo no final de semana para reclamar de “morosidade” do Palácio Iguaçu no caso.

Com pais contrários às ocupações convocados via rede social, o MBL percorreu os colégios com manifestantes gritando palavras de ordem contra o APP-Sindicato e acusando os estudantes de “baderneiros” e “comunistas”. Eles ainda defendiam a volta imediata às aulas. Um dos principais alvos do grupo foi o Colégio Estadual Pedro Macedo, no bairro Portão.

Tensão. Os nervos ficavam à flor da pele quando esses grupos passaram a “tocar o terror” durante a noite nas ocupações. A cada cerco, alunos e integrantes das invasões que dormiam nos colégios corriam para convocar, via WhatsApp, o apoio de pais, professores e de militantes de partidos de esquerda, além dos voluntários universitários e ativistas de diversas correntes políticas - entre eles, os anarquistas e outros grupos libertários -, que se dizem solidários ao protesto.

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“Agora eles estão ameaçando os meninos lá na frente do Pedro Macedo e do (Colégio Estadual) Lysímaco”, dizia um rapaz que se identificou como universitário e alertava colegas no pátio do Colégio Estadual do Paraná, o QG do movimento, já na chuvosa noite de segunda-feira.

À tarde, a notícia da morte do estudante Lucas Mota, de 16 anos, esfaqueado no interior da Escola Estadual Santa Felicidade, na zona norte da capital, chocara professores e lideranças dos estudantes e elevara a tensão e o medo dos confrontos e da convivência dos estudantes nas escolas fechadas.

A polícia disse que o crime, pelo qual foi detido um colega de Lucas, de 17 anos, não teria relação com o movimento dos secundaristas. Mas a afirmação do delegado Fabio Amaro, da Delegacia de Homicídios, de que a briga teria sido motivada por uso de drogas no interior da escola terminou por colocar ainda mais lenha na fogueira. Um professor, que estava no local acalmando os alunos, considerou “absurdo” o cerco às escolas. “A mobilização é um avanço dos estudantes do Paraná”, disse.

Na correria, o grupo de apoio às invasões se deslocou para o Colégio Lysímaco. Dois dias depois, o mesmo local voltaria a ser alvo do MBL. Lá, estudantes se preparavam para tentar resistir a uma eventual tentativa de entrada dos contrários.

Na rua, grupo pede a volta às aulas Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Confronto. O clima de confronto vinha se agravando desde o começo da semana também na periferia. Uma tentativa de retirada forçada de alunos da Escola Guido Arzua, no bairro Sítio Cercado, zona sul da capital, já anunciava a mudança no comportamento dos pais que querem a volta das aulas, pressionados pela proximidade do Enem. Convocados por carro de som que circulou na vila no domingo, eles foram à escola dispostos a abrir o colégio na marra. O portão foi arrombado e eles chegaram a dominar o pátio da escola por algumas horas, mas decidiram sair na madrugada, após a intervenção do Ministério Público e de representantes do Conselho Tutelar. No dia seguinte, grupos de universitários adultos foram enviados pelo “comando da paralisação” para ajudar na segurança da escola ocupada. “A gente vem aqui ajudar os secundaristas contra essas tentativas desocupação”, disse, na quarta-feira, uma estudante de Filosofia integrante da comissão de voluntários, sempre pronta para correr, a fim de reforçar a segurança do movimento.