Na quarentena, colégios recorrem ao ensino a distância para manter atividades

Autoridades estaduais e federais de educação estudam liberar aulas a distância para o cálculo dos 200 dias letivos exigidos por lei

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Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - "Hoje é dia de coronavírus?", essa é a pergunta que Maya Ueki, de 3 anos, tem feito à mãe todos os dias pela manhã para saber se as aulas em sua escola continuam suspensas. Com a determinação do governador João Doria (PSDB), colégios públicos e particulares de São Paulo iniciaram nesta semana uma paralisação gradual por causa da pandemia de coronavírus e buscam alternativas para continuar a ofertar atividades que os alunos possam fazer em casa. 

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Escolas particulares com mensalidades mais altas conseguiram rapidamente se organizar para ofertar atividades a distância em todas as etapas, da educação infantil ao ensino médio. Enquanto colégios com menos recursos financeiros, especialmente os da rede pública, ainda não sabem como dar o suporte para aulas virtuais e - o mais difícil - garantir que todos os alunos possam ter acesso a eles de casa. 

Nesta quarta-feira, 18, o Conselho Estadual de Educação aprovou que as atividades escolares feitas em casa pelos estudantes durante o período de quarentena do coronavírus sejam contabilizadas para o cálculo dos 200 dias letivos exigidos por lei. A medida, que ainda precisa ser aprovada pelo secretário de educação, Rossieli Soares, vale para as redes pública e privada.

A publicitária Débora Urike, de 37 anos, disse ter se organizado para a suspensão das aulas no Centro Educacional Pioneiro, na Vila Clementino, zona sul da capital, onde Maya estuda. A menina vai ficar com a avó e uma babá durante o período em que deveria estar na escola e a família se esforça para manter a rotina com a qual ela está acostumada. "Mantivemos o horário de acordar, de tomar banho, refeições. A escola deu sugestões de atividades, de livros, mas ela já perguntou dos amiguinhos e até quando vai continuar sendo 'dia de coronavírus' e sem aula".

Os filhos de Adriana Tuono, de 11, 13 e 16 anos, estudam com recursos digitais Foto: Adriana Tuono/arquivo pessoal

O colégio Avenues, primeiro no País a ter suspendido as aulas depois da confirmação de coronavírus em um estudante, já está na segunda semana com aulas a distância. As atividades e a forma de comunicação entre alunos e professores ainda passa por ajustes já que se trata de um modelo novo. Uma das mudanças foi para proporcionar espaços virtuais em que as crianças pequenas (da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental) possam conversar com os colegas. 

“Preparamos atividades que os adultos pudessem ajudá-los a desenvolver, como vídeos dos professores contando histórias ou propondo atividades. Mas percebemos que os pequenos sentem falta dos amigos ainda que não expressem isso. Então, abrimos uma sessão de videoconferência mediada pelos professores para que eles possam conversar entre si e se ver”, contou Lia Muschellack, diretora de tecnologia da escola. 

No colégio Santa Cruz, na zona oeste da capital, também foram desenvolvidas atividades com a preocupação de reduzir os efeitos do isolamento e não apenas focando no conteúdo escolar. Para a educação infantil, os professores fizeram álbuns de figurinha com o rosto dos alunos. “Também disponibilizamos conteúdo online, com vídeos dos professores com contação de história, propostas de brincadeiras. Não é o ead clássico”, contou a diretora pedagógica Débora Vaz.

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Adaptações

Nesta quarta, no primeiro dia de aulas a distância no Santa Cruz, pela manhã alguns alunos tiveram dificuldade para acessar as atividades. Com muitas pessoas acessando o portal ao mesmo tempo, houve lentidão. “Rapidamente, os próprios estudantes se organizaram para resolver a situação. Um deles conseguiu acessar, baixar as atividades e o vídeo dos professores e compartilhou no Whatsapp com os colegas. Tenho certeza que eles vão se adaptar muito melhor e mais rápido do que imaginamos”, contou a arquiteta Adriana Tuono, mãe de três alunos da escola. 

Os filhos, de 16, 13 e 11 anos, já usam recursos digitais para estudar por isso ela acredita que a adaptação será mais fácil. O desafio, segundo ela, é manter uma rotina saudável sem as aulas presenciais. “Sentamos juntos e montamos uma agenda, estabelecemos a hora de acordar, de tomar café, de começar os estudos, das atividades de casa. É entender que não se trata de férias e que precisamos continuar com uma rotina, com as responsabilidades diárias”. 

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Foi a preocupação em monitorar a participação dos alunos nas atividades que fez o colégio Bandeirantes, na zona sul, decidir por diversificar os formatos de aulas. "Vamos ter vídeo, texto, lista de exercícios, podcast. O que se adaptar melhor à disciplina, ao conteúdo, à forma de aprendizado dos alunos. O importante não é só dar o conteúdo, mas garantir que os estudantes vão acompanhar o ritmo de estudo", disse a diretora Mayra Lora. 

Ela também defende que a adaptação dos alunos vai ser rápida por se tratar de um ambiente conhecido por eles. Ontem, pouco mais de uma hora depois de uma professora de Português ter publicado vídeo de uma aula 400 dos 500 alunos de 1º ano já tinham assistido o conteúdo. “Talvez a adaptação seja mais difícil para nós, educadores, e os pais. Mas, diante de uma situação tão atípica, vamos todos fazer um esforço para nos adaptar, não acredito que haverá resistência”

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