Modelo de escolas ao ar livre surgiu há 100 anos, por causa da tuberculose

Instituições com a proposta começaram em países europeus, como Bélgica e Alemanha; movimento cresceu nas décadas seguintes, inclusive no Brasil

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Por Priscila Mengue
2 min de leitura

A partir de 1904, escolas ao ar livre começaram a ser fundadas em países europeus, como Bélgica e Alemanha, movimento que cresceu nos anos seguintes. Mais de duas décadas depois, o modelo começou a chegar ao Brasil, ainda que aos poucos, com iniciativas mais destacadas no Rio e em São Paulo

Esse tipo de instituição ganhou espaço por uma motivação sanitária, como forma de evitar a transmissão principalmente da tuberculose, como lembra Diana Gonçalves Vidal, professora de História da Educação na USP. A ideia era de que todas as atividades - ou a maior parte - fossem realizadas em espaços externos, até pela presença do sol.

“A escola é naturalmente um lugar de contágio, de aglomeração. E, no caso da tuberculose, não havia vacina (embora tenha sido criada em 1921, ela levou décadas para ter aplicação ampla).”

Escola de Aplicação ao Ar Livre tinha 700 alunos em 1946 Foto: Acervo Estadão - 15/11/1946

Além da questão sanitária, a professora comenta que havia, naquela época, um entendimento de que a natureza, em si, é educadora e benéfica para o desenvolvimento físico e intelectual. “A proposta de escola ao ar livre se associa à proposta de liberdade das crianças, de fuga da escola mais tradicional.”

Depois da 2.ª Guerra Mundial, a tendência se enfraqueceu, embora ainda contasse com exemplos em regiões como os Países Baixos, na década de 1950. “O revival foi a partir dos anos 1990, em países como a Alemanha, a Suécia, a Noruega, a Espanha e o Reino Unido”, destaca Diana. “Hoje, também há uma questão de educação ambiental, de maior conhecimento da natureza, de novas formas de se relacionar com o meio ambiente”, acrescenta. 

No Brasil, por exemplo, essas escolas surgiram na mesma época em que cresceu um movimento de “ruralismo pedagógico”, com hortas e animais em instituições de ensino. Em São Paulo, os parques infantis criados nos anos 1930, na época em que Mário de Andrade liderava o Departamento de Cultura na Prefeitura, recebiam crianças fora do horário de aula para atividades lúdicas ao ar livre. E são considerados os precursores das escolas municipais de ensino infantil da cidade, como a Emei Gabriel Prestes, localizada ao lado da antiga Chácara Lane, na Rua da Consolação.

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Outro caso é o da Escola de Aplicação ao Ar Livre, que funcionou no Parque da Água Branca, na zona oeste. Inaugurado em 1939, o espaço ficou ali por mais de dez anos, até ganhar um prédio originalmente adaptado à proposta.

“Os resultados obtidos pelos alunos são verdadeiramente extraordinários, não só no que se refere à alfabetização, como também à educação física, formando-se ali um bloco de crianças muito vivas e sadias”, descreve uma reportagem do Estadão de 1946, quando a instituição tinha 700 matriculados e era mantida pelos pais dos alunos.

Para Diana, de certa forma, pode-se até associar os Cieps, os CEUs e outras iniciativas de escolas como grandes equipamentos em turno integral como herdeiras dessa proposta, por também valorizarem o papel das atividades ao ar livre na formação dos estudantes. “Ainda que vá se ter outras várias vertentes pedagógicas, uma ideia permanece: a de que a criança aprende fazendo.”