‘Medida padronizada a pessoas com deficiência não faz sentido’
Para Aline Santos, coordenadora do projeto Diversa, inclusão depende, em primeiro lugar, de atitude
Entrevista com
Aline Santos
Entrevista com
Aline Santos
07 de novembro de 2017 | 03h00
A grande repercussão e o susto de muitos candidatos com o tema da Redação do Enem mostram como a inclusão de surdos na educação brasileira é pouca debatida, segundo Aline Santos, coordenadora do projeto Diversa, do Instituto Rodrigo Mendes, dedicado a promover ações de acessibilidade e inclusão.
O desconhecimento de instituições de ensino faz com que sejam ofertadas poucas formas de apoio a alunos com deficiência auditiva?
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Temos de ter em mente que há uma diversidade dentro do público com deficiência auditiva e, naturalmente, cada um precisa de recursos diferentes. É como a pessoa com deficiência física: nem todas usam cadeiras de rodas. Cada um tem uma necessidade específica. Nem todos os surdos usam Libras (Língua Brasileira de Sinais). Alguns usam a leitura labial e outros, implantes auditivos. Pensar em medidas padronizadas não faz sentido. Só com o convívio é que vamos entender qual tipo de apoio cada um precisa e quais cuidados precisamos ter. Para quem faz leitura labial, por exemplo, o professor não pode falar virado para a lousa e os alunos não devem ficar enfileirados de costas uns para os outros. Quando pensamos na diversidade de estratégias para uma educação inclusiva, mais alunos são beneficiados e não só os deficientes. O modelo de aula expositiva, com o professor falando sozinho por 50 minutos, deixa de fora muita gente. Um único estímulo exclui não só surdos ou cegos, mas vários outros alunos.
Como as instituições devem preparar-se para oferecer uma educação mais inclusiva?
A principal barreira é de atitude. Só com a mudança de atitude é que vamos conseguir enxergar as particularidades das pessoas. Por falta da convivência com pessoas deficientes na sociedade, há invisibilidade desse público. Isso suscita a ideia de que não sabemos conviver com eles e precisamos da ajuda de especialistas para essa interação. Esquecemos que é a convivência que ensina, como com qualquer pessoa que conhecemos.
No ensino superior, a inclusão é ainda mais difícil? Por quê?
O índice de pessoas com deficiência na educação básica é muito maior do que no ensino superior porque vamos aos poucos as desestimulando e excluindo. Isso faz com que as faculdades tenham de lidar pouco com essas situações. Nós precisamos de mais formação para os professores e de mais acessibilidade, não só de estrutura arquitetônica, mas de material didático, recursos diferentes para o ensino.
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