MEC nomeia professora ligada ao Escola sem Partido para coordenar área de livros didáticos

Sandra Ramos diz pesquisar ‘ideologia de gênero’ nos livros e já defendeu revisão de base curricular sob viés conservador cristão

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Por Julia Marques
Atualização:

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, nomeou uma professora ligada do movimento Escola sem Partido para a coordenação dos materiais didáticos. A nomeação de Sandra Ramos, que também é crítica da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - documento que indica os objetivos de aprendizagem -, foi publicada no Diário Oficial da União. Sandra Ramos é professora do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Ela é ligada ao movimento Escola Sem Partido, que afirma haver doutrinação política nos colégios. Também já fez críticas, sob a perspectiva conservadora cristã, à BNCC. Há nove meses, a professora participou de um vídeo ao vivo com Miguel Nagib, fundador do Escola sem Partido, para explicar seu posicionamento na UFPI. No vídeo, Sandra disse pesquisar a ideologia de gênero - termo que não é reconhecido na comunidade acadêmica - nos livros didáticos e diz que há uma “minoria ruidosa” que se mantém na posição de defesa de ideologias político-partidárias.

Milton Ribeiro, atual ministro da Educação Foto: Dida Sampaio/Estadão

Já em texto publicado no blog De olho no livro didático, Sandra Ramos analisa a BNCC por uma “perspectiva conservadora cristã”. Entre outros pontos, a publicação defende que as escolas discutam a diversidade das espécies com base também na teoria criacionista e sugere a retirada de menção às culturas africanas e indígenas no documento. A publicação no blog diz ainda que é preciso “retirar todas as ideias, premissas e estratégias pedagógicas da ideologia de gênero” na BNCC. Além de Sandra, o texto, de 2018, é assinado pela ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, Orley José da Silva, especialista em Ciências da Religião, e Viviane Petinelli, pós-doutora em Ciência Política. Sandra Ramos vai integrar a Diretoria de Articulação e Apoio às Redes de Educação Básica da Secretaria de Educação Básica do MEC. A nomeação foi criticada nesta quarta por entidades estudantis e especialistas em Educação. “Querem deturpar a história do Brasil e impedir que os estudantes tenham acesso ao conhecimento”, escreveu Rozana Barroso, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) no Twitter. “A nova coordenadora-geral dos livros didáticos no MEC é colaboradora do Escola Sem Partido, movimento que incentiva a perseguição a professores. A boiada está passando”, comentou Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação. O Estadão não conseguiu contato com a professora Sandra Ramos. Procurado, o MEC não se manifestou.

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