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'MEC e reitores devem criar debates sobre o tema'

Para especialista, é 'ingenuidade' achar que não há preconceito

Por Mariana Lenharo
Atualização:

Frei Davi R. Dos Santos, fundador da ONG Educafro, rede de pré-vestibulares comunitários, fala sobre os preconceitos que os bolsistas do Prouni sofrem,

 

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O senhor recebe relatos de bolsistas que sofrem preconceito?

 

Sim, eles têm dado retorno. Os casos de racismo não são maiores do que aqueles que já ocorriam antes e os negros tinham a tendência de não gritar por seus direitos. O fato novo é este: a população negra está entrando nas universidades via ProUni, via cotas e outros métodos de inclusão. Entraram mais negros nos últimos cinco anos do que nos 100 anos anteriores. Com isso, os casos de racismo vão ter tratamento mais profissional por parte das vítimas. O comum era ficar envergonhado e chorar num canto. Agora, todo mundo que sofre tende a buscar os direitos. Quem ganha é a sociedade.

 

O que explica esse tipo de comportamento racista?

 

É importante que nós, brasileiros, entendamos que é impossível para qualquer país do mundo deixar um grupo da sociedade por 388 anos escravizado e, depois, incluir esse grupo sem problemas. Nunca se fez um trabalho sério de inclusão das vítimas da escravidão. Agora, quando, o povo negro começa a conquistar espaço, é profundamente normal, no nosso entendimento, que pessoas que não foram preparadas pela sociedade para viver na igualdade e diversidade criem situações de discriminação contra o negro, contra o nordestino, ou contra outros grupos.

 

É papel das instituições ligadas ao ProUni criar programas de combate ao preconceito?

 

Faz-se necessário que o MEC, os reitores das universidades e os líderes pedagógicos usem esses incidentes para criar seminários, debates e pesquisas sobre o assunto. É uma grande ingenuidade achar que não existe preconceito ou achar que essas situações vão se resolver sozinhas. O aluno universitário que pratica o preconceito contra um jovem negro, nordestino ou de outra classe social também é vítima de uma sociedade que não o preparou para conviver com as diferenças.

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