Mais de 3 milhões de candidatos faltam ao segundo domingo de Enem

Após relatos de alunos barrados e salas cheias no 1º domingo, mais candidatos perderam prova; MEC vê aplicação ‘satisfatória’

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Por Redação
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Candidatos na Universidade Cruzeiro do Sul, na Av. Paulista. Foto: Felipe Rau/Estadão

O segundo domingo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) bateu novo recorde de abstenção – mais de 3 milhões de alunos faltaram às provas, número superior ao registrado na semana passada. Após encontrar escolas e ônibus cheios no primeiro domingo de testes e com medo do avanço da pandemia pelo País, mais estudantes deixaram de fazer o exame, principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil.

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Em Salvador, o auxiliar de escritório Rodrigo Santos, de 24 anos, preferiu não arriscar neste domingo. No primeiro domingo de testes, saiu inseguro em relação ao coronavírus. “Sem condições, fazia muito calor e não tinha corrente de ar. Tinha gente tossindo e isso tirava demais a concentração. Vou adiar meus planos.” A estudante Clara Novaes, de 17 anos, também desistiu, por medo, de prestar o Enem. “Passei a prova inteira, no domingo passado, bastante tensa, com medo e insegura, então não fazia sentido ir de novo. Me senti muito prejudicada porque sou asmática, fiquei nervosa, isso desestabiliza a gente”. 

No Rio, a auxiliar de departamento pessoal Thais Sousa, de 32 anos, deixou de fazer a segunda rodada de provas porque teve sintomas da covid-19. No sábado, foi parar até no hospital, com febre e cansaço. Agora, em isolamento, quer saber se conseguirá a reaplicação. “Me preparei em 2020, aproveitei a pandemia e realmente queria tentar uma vaga”, diz ela, que deseja cursar Pedagogia. 

Em Santarém, no interior do Pará, Yago Alexandre da Silva, de 16 anos, optou por não fazer o segundo dia de prova. O estudante do 2.º ano preferiu “preservar a saúde da família”. “Minha cidade está na segunda onda”, conta ele, que, no domingo passado, não conseguiu escapar das aglomerações no transporte público. “As paradas de ônibus estavam cheias e os ônibus, lotados, principalmente quando as provas terminaram”.

Apesar da alta abstenção, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Alexandre Lopes, disse neste domingo que a aplicação foi “satisfatória”. “Para 2,4 milhões que fizeram, foi importante a realização do Enem. Tivemos milhões de pessoas interessadas em fazer a prova e, por isso, vão concorrer às vagas do Sisu (Sistema de Seleção Unificado) no 1.º semestre de 2021.”

Lopes destacou que o número de ausentes foir maior do que o esperado. "Mas eu gosto de olhar para o copo meio cheio. Outros países não conseguiram fazer o exame. O Brasil com toda dificuldade logística e desigualdades, assegurar que 5 milhões e 600 mil pessoas pudessem fazer a prova e mais de 2 milhões e 400 mil fizessem, eu acho isso uma vitória. É uma vitória para o Brasil entregar essa oportunidade."

O exame deste domingo não teve episódios de estudantes barrados na porta das salas, como ocorreu na semana passada. Segundo Lopes, os números de candidatos impedidos ainda estão sendo apurados, mas os dados preliminares indicam que o problema ocorreu em 37 escolas de 11 municípios. O Estadão ouviu relatos em Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Santa Cruz do Sul (RS). 

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Alunos impedidos de fazer o exame podem solicitar a reaplicação do Enem, assim como aqueles que tiveram sintomas ou confirmação da covid-19 nas vésperas do exame. "Se ele fez a prova hoje, pede a reaplicação só do primeiro dia, em 23 de fevereiro", explicou Lopes. Uma aplicação também ocorrerá no Estado do Amazonas, onde o exame não foi realizado por causa do estado de calamidade pública. 

Segundo o Inep, foram deferidas mais de 13 mil solicitações para reaplicação do Enem por doenças infectocontagiosas, de um total de 18. 210 pedidos. 

Salas mais vazias e aglomerações na entrada

Quem participou do exame relatou salas mais vazias do que foi visto na semana passada, mas a alta abstenção não foi suficiente para conter aglomerações na entrada e saída nem garantir o distanciamento em algumas classes, segundo os estudantes. Por volta das 16 horas, uma chuva fina caía em São Paulo quando os candidatos começaram a sair da Unip Vergueiro, na zona sul, o que os obrigava a ficar debaixo da marquise do prédio. Às 16h30, já era grande a concentração de estudantes, alguns deles sem máscara, na porta da universidade. 

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Gustavo Cinquini, de 18 anos, não escondia o incômodo. “Acho que nem deveria ter tido essa prova.” Mesmo tendo feito o exame em uma sala com 15 pessoas, ele vê risco. “Muita gente fica sem máscara na sala. Tira, respira e fica cinco minutos sem”, reclama. “Me incomodo, moro com pessoa do grupo de risco e sei do perigo que é.”

Para Matheus Kauê, de 17 anos, nem mesmo as ausências garantiram o cumprimento dos protocolos. “Mesmo com muita gente faltando, não teve distanciamento, desde o acesso (ao local de provas) até o posicionamento em sala”, afirma o jovem, que fez a prova na Universidade Cruzeiro do Sul, na Avenida Paulista. “Numa sala que comportaria 40 pessoas, 20 se ausentaram e, ainda assim, achei que estávamos próximos”. Os estudantes resolveram questões de Matemática e Ciências da Natureza neste domingo. 

Ministro fala em economia para justificar planejamento de salas

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Antes da prova, em visita para fiscalizar a aplicação, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, citou a redução de gastos para justificar o planejamento das salas. Como o Estadão revelou, as classes foram planejadas com capacidade de até 80% – e não de 50%, como prometido à Justiça.

Indagado se o MEC contou com a abstenção de 30%, conforme relataram gestores estaduais e universidades, ele disse que “se houve pensamento de 30% (de abstenção), estávamos certos porque foi maior”. E completou: “Imagine se o Inep tivesse contratado tudo (salas para todos os inscritos)? O valor do dinheiro que haveríamos de usar.” Segundo o ministro, foram gastos R$ 700 milhões com o Enem. /JÚLIA MARQUES, VAGNER AQUINO, LUIZ CARLOS PAVÃO, ILANA CARDIAL, FÁBIO BISPO e TAILANE MUNIZ, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

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