57% no 3º ano não fazem conta; Janine fala em 'vergonha'

Dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) mostram que maioria dos alunos de 8 anos não consegue fazer cálculos complexos; além disso, 1 em cada 5 chega a essa idade sem conseguir ler um texto. ‘Números são alarmantes’, diz educadora

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Por Isadora Peron , Isabela Palhares e Victor Vieira
Atualização:

Atualizada às 21h52

SÃO PAULO - Quase seis em cada dez alunos (57%) de 8 anos no Brasil não dão conta de resolver problemas simples de Matemática. Entre as crianças dessa idade, 22% terminam o 3.º ano do ensino fundamental sem conseguir ler um texto. Isso é o que mostram os resultados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) 2014, divulgada nesta quinta-feira, 17, pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo o ministro Renato Janine Ribeiro, essa realidade “envergonha” o País.  

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A prova foi realizada no ano passado por 2,3 milhões de alunos em 49 mil escolas públicas. Em Escrita, outra competência medida pela ANA, 34,5% dos estudantes estavam em patamares inadequados, segundo critérios do próprio MEC. 

Sem esconder a preocupação, Janine Ribeiro disse que os dados dão a dimensão do problema. “Nós não só queremos que todos saibam do tamanho do drama como queremos denunciá-lo. Tudo isso é inaceitável em termos sociais”, admitiu.

No caso de Leitura e Matemática, o desempenho é medido em uma escala de quatro níveis. Já em Escrita, são cinco. Em leitura, o MEC considera inadequado o aluno estar no nível 1, em que não consegue encontrar informações em textos curtos ou entender uma história em quadrinhos.

Em Matemática, o Ministério classifica como “inadequado” o aluno que está nos níveis 1 e 2. Nessas faixas, a criança não lê as horas no relógio analógico nem identifica frequências iguais em um gráfico de colunas. 

Neste ano, MEC cancelou a Avaliação Nacional de Alfabetização Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Em Escrita, de acordo com o MEC, estão inadequados alunos nos três primeiros níveis. Nesse grupo, eles ainda escrevem de forma incipiente e apresentam grande número de erros ortográficos. 

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A ANA foi criada com o Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), lançado pela presidente Dilma Rousseff em 2012. Esse programa, que abrange todos os Estados e 98% dos municípios, envolve formação de alfabetizadores, supervisionada por universidades. 

Os resultados da primeira edição, de 2013, não haviam sido divulgados oficialmente pelo MEC. A edição deste ano foi cancelada por falta de verbas. 

Os números também expõem desigualdades regionais. Em Leitura, por exemplo, as Regiões Norte e Nordeste têm 35,06% e 35,56% dos alunos no pior nível. Já no Sudeste e no Sul, essas taxas são de 13,05% e 11,94%. Ao comparar os resultados, segundo o MEC, é necessário levar em conta o contexto socioeconômico dos alunos. 

Apesar do quadro problemático, os resultados mostram ligeiro avanço em relação à ANA 2013. A taxa nacional de estudantes no pior nível de Leitura caiu de 24% para 22%. No patamar quatro, o melhor, subiu de 10% para 11%. 

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Em Escrita, a maioria dos alunos - 55% - está no nível 4, quando a criança consegue escrever, mas com uma série de erros ortográficos e de concordância. Apesar de o ministro considerar isso como um nível adequado, Janine Ribeiro afirma que essa não é a situação ideal.

Em Matemática, 57% dos alunos de 8 anos estão nos níveis 1 e 2 - o que configura um baixo desempenho, dominando apenas a primeira das operações - a adição. 

Já no ciclo de alfabetização, a falta de interpretação de texto impede que os alunos avancem no domínio dos cálculos. Esses problemas, dizem especialistas, acompanham o aluno em toda a trajetória escolar. Nos anos seguintes, as crianças terão problemas para aprender Ciências ou Geografia por falta dessas habilidades básicas. 

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Alerta. Para Cláudia Gontijo, presidente da Associação Brasileia de Alfabetização, os resultados indicam a necessidade de se investir no setor. “Há uma melhoria, se compararmos com décadas passadas, em que a maioria dessas crianças terminava o ciclo sem ler. Mas os números ainda são alarmantes”, diz ela, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

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Geralmente responsáveis pelas classes de alfabetização, as redes municipais têm mais dificuldades técnicas e financeiras. “Por isso, a ajuda da União é ainda mais importante.” Para Cláudia, porém, os dados não indicam um fracasso do Pnaic. “Ainda é cedo para avaliar”, diz. “Não pode haver descontinuidade de políticas.”

Segundo Ricardo Falzetta, gerente de Conteúdo do Movimento Todos pela Educação, a alfabetização precária limita as possibilidades da criança no futuro. “No fundamental 2 (5.º ao 9.º ano), esse problema se aprofunda. No ensino médio, torna-se insustentável, resultando nos altos índices de evasão, aprovação automática e desinteresse dos jovens.

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