Largo de São Francisco lança projeto para biblioteca

No entanto, reitoria da USP afirma que já existe um processo de reforma em andamento

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Por Mariana Mandelli
Atualização:

A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) começou uma campanha de captação de verba privada para pagar um concurso de arquitetura que vai reformar o prédio da biblioteca. No entanto, a reitoria afirma que já existe um projeto em andamento e que, caso seja realizada uma seleção para a escolha de outro, isso acarretará desperdício de dinheiro público de cerca de R$ 300 mil.A campanha teve início nesta semana e é promovida pela Comissão de Bibliotecas da São Francisco e pelo XI de Agosto. A ideia é que o concurso fique a cargo do Instituto de Arquitetos do Brasil e o objetivo é chegar a um projeto que permita uma das melhores bibliotecas do mundo.O prédio foi adquirido pela USP em 2009 e, atualmente, só são utilizados quatro andares – que foram reformados, mas ainda não estão em condições ideais. A polêmica em torno da biblioteca do Largo São Francisco e a tensão entre a reitoria e a unidade não são novas. O problema começou em 2010, quando João Grandino Rodas, na época diretor da unidade, transferiu grande parte do acervo – 140 mil livros – para o prédio anexo.No entanto, a construção não tinha a infraestrutura necessária para abrigar os livros, que ficaram por meses em caixas. O novo diretor, Antonio Magalhães, pediu para que parte dos livros voltasse para o prédio original, mas algumas salas antes ocupadas por eles já haviam sido transformadas em ambientes de aula.As obras literárias foram então alocadas em algumas salas da construção histórica, de forma precária, enquanto o prédio adquirido não é reformado – especialmente entre o 5º e o 9º andar, que não são utilizados hoje.Virgílio Afonso da Silva, professor titular da faculdade e presidente da Comissão de Bibliotecas da unidade, afirma que as obras – a proposta do concurso e a que é tocada pela reitoria, para os andares– são complementares. “A reforma que pretendemos fazer não é para agora. Essa reforma da reitoria, do 5º ao 9º andar, é para deixá-los em condições mínimas de funcionamento – e isso não é desperdício de dinheiro”, afirma. “E nós queremos mais do que isso para médio e longo prazo.’O professor ainda destaca que não gostaria que a campanha fosse usada de forma política para manter a discórdia que existe entre a unidade e o reitor. “Não só não vejo incompatibilidade como não gostaria que isso fosse motivo para tensão”, disse.Procurado pela reportagem para comentar a iniciativa da faculdade, Rodas preferiu não se pronunciar. Em nota de esclarecimento da Superintendência de Espaço Físico, a USP afirma que em 6 de julho dp ano passado, “por solicitação da própria Faculdade de Direito”, foi aberto processo junto à superintendência para a reforma do 5º ao 9º andar, a ser feita com recursos do orçamento da universidade.A nota afirma, que, também “a pedido da faculdade, o projeto de reformulação desses andares deveria seguir o mesmo modelo empregado nos andares já reformados, pois trata-se de um prédio antigo, no qual não é possível realizar grandes intervenções arquitetônicas”. O texto ainda diz que o projeto foi aprovado pela faculdade e uma licitação foi feita. A empresa vencedora aguarda ordem para início da obra.Dessa forma, a superintendência ainda afirma que, caso a Faculdade de Direito “mude de ideia e resolva realizar concurso para novo projeto”, isso acarretará desperdício de dinheiro público já investido (da ordem de R$ 300 mil) e, portanto, maior tempo para que o prédio receba as benfeitorias necessárias.”Problemas. O Estado esteve em uma das salas que estão alojando “provisoriamente” os livros. As obras de três departamentos estão “espremidas” – antes cada um ocupava uma sala – em um pequeno ambiente, sem o espaço e a ventilação necessária. Hoje, somente alunos da unidade podem utilizar a biblioteca.Os alunos apoiam a campanha para arrecadação de dinheiro. “É a primeira vez em muito tempo que sentimos todos concordando com uma mesma proposta”, diz Alexandre Ferreira, diretor geral do XI de Agosto.“A faculdade tem potencial grande para arrecadar fundos. Tenho certeza que alunos e ex-aluno vão ajudar, afirma Eduardo Brandão, aluno do 5º ano.Para lembrar. No último dia como diretor da faculdade, antes de assumir a reitoria, Rodas transferiu a biblioteca dos departamentos para o prédio da Rua Senador Feijó. A faculdade administra três prédios ao redor do Largo São Francisco e tem a biblioteca mais antiga da cidade, de 1825. Em setembro, a Congregação da faculdade decidiu, de forma unânime, considerar Rodas persona non grata na escola. Foi encaminhada ao Ministério Público uma lista de medidas tomadas por Rodas – entre elas, o fechamento da biblioteca.

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