Juíza considera que fechamento de salas pode indicar reforma
Ela deu prazo até quarta para o Estado de São Paulo explicar o fim de 1.100 turmas; no ano passado, plano de Alckmin foi barrado
Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:
SÃO PAULO - A juíza Carmen Cristina Fernandez Teijeiro e Oliveira, do Foro Central da Fazenda Pública, afirmou, em decisão de sexta-feira, que existe o fechamento de salas de aula em São Paulo e isso “remete a uma provável reforma mais ampla” da rede de ensino. Ela intimou a Procuradoria-Geral do Estado a se manifestar a respeito até esta quarta-feira, 15, sob pena de multa.
Conforme revelou o Estado há duas semanas, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu à Justiça ter deixado de abrir séries iniciais, as chamadas séries de “entrada” (1.º e 6.º anos do ensino fundamental e 1.º ano do ensino médio) em 158 escolas, sob alegações que incluem falta de demanda, ampliação do ensino médio diurno e municipalização. A pasta deixou de esclarecer, no entanto, o número de alunos remanejados e as escolas para as quais foram realocados, informações que estavam entre as solicitadas. Também não foram informados quais são os colégios afetados.
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A decisão da magistrada considerou que os esclarecimentos prestados pela Secretaria de Estado da Educação não foram suficientes e a pasta “se limitou a apresentar uma ínfima parte dos dados que lhe foram requisitados”. A Procuradoria-Geral do Estado (PGE), em nota, afirmou que as informações foram prestadas, mas está verificando com a Secretaria da Educação “se há algum dado complementar a ser informado”. Disse ainda que, antes que se encerre o prazo, lançará nova manifestação nos autos.
O levantamento havia sido feito depois de a juíza exigir esclarecimentos sobre uma suposta reorganização “gradual” na rede. No ano passado, a pasta anunciou o fechamento de 93 colégios para criar unidades de ciclo único, movimento que ficou conhecido como “reorganização da rede”, mas Alckmin adiou o projeto para 2017.
Da mobilização nas ruas à ocupação de escolas
1 / 31Da mobilização nas ruas à ocupação de escolas
De volta às ruas
Estudantes voltam às ruas em 29 de outubro contra a reorganização anunciada por Alckmin Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
Escola na Vila Jaguará
Mobilização na Escola Estadual Professor Pio Telles Peixoto, na VilaJaguará, na zona oeste da capital paulista Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Escola na Vila Inah
Escola Ana Rosa de Araújo Dona, na Vila Inah, zona oeste Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Escola na Vila Inah
Na Escola Ana Rosa de Araújo Dona também houve protesto contra a reorganização da rede Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Escola na Chácara Santo Antônio
Estudantes penduram faixa "Matriculas Abertas"na Escola Estadual Saboia de Medeiros, no bairro Chácara Santo Antônio, na zona sul Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
Escola em Cidade Tiradentes
Escola Estadual Cohab Inácio Monteiro, em Cidade Tiradentes, na zona leste, foi ocupada por estudantes e por integrantes do Movimento dos Trabalhadore... Foto: PETER LEONE/FUTURA PRESSMais
Vandalismo em escola ocupada na Grande São Paulo
Móveis foram destruídos e espalhados em sala na Escola Estadual Coronel Antônio Paiva de Sampaio, em Osasco, na Grande São Paulo, alvo de vandalismo Foto: Secretaria de Educação/Divulgação
Protesto de estudantes na 9 de julho
É a quarta manifestação que eles fazem nos últimos dois dias que bloqueia vias importantes da capital. Os alunos também ocupam 191 escolas contra a me... Foto: ALEX SILVA/ESTADÃOMais
Mobilização após anúncio
Estudantes se mobilizam contra a reorganização e o fechamento de escolas estaduais, anunciados pelogovernador Geraldo Alckmin (PSDB) em 9 de outubro. ... Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADÃOMais
Mobilização nas ruas
Estudantes caminharam até a Praça da República, onde fica a Secretaria Estadual da Educação Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADÃO
Estudantes nas ruas
Alunos da rede pública paulista protestam na Avenida Paulista Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
De volta às ruas
Alunos carregam cartazes contra reorganização da rede estadual de ensino Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
Escola em Pinheiros
Em 12 de novembro, estudantes ocupavam, pelo quarto dia seguido, aEscola Estadual Fernão Dias Leme, em Pinheiros, na zona oeste Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADÃO
Escola em Pinheiros
Aluno encara policial em frente à Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, na zona oeste Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADãO
Escola em Pinheiros
Policiais em frente à Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
Escola em Pinheiros
Adolescente passa mal após inalar spray de pimenta em frente à Escola EstadualFernão Dias Paes, no bairro de Pinheiros, no dia 11 de novembro Foto: ANDRÉ LUCAS ALMEIDA/FUTURA PRESS
Escola em Pinheiros
Movimentação em frente à Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, na manhã do dia 13 de novembro Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADÃO
Escola na Vila Mazzei
Contra o fechamento de escolas estaduais paulistas, estudantes ocupam aEscola Estadual Castro Alves, na zona norte da capital Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
Escola na Vila Mazzei
Durante ocupação, alunos se reúnem na quadra, na Escola Estadual Castro Alves, na Vila Mazzei,zona norte de São Paulo Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
Escola na Vila Mazzei
Alunos colocam faixa em frente à Escola Estadual Castro Alves, na Vila Mazzei,zona norte Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
Escola na Vila Mazzei
Alunos observam faixa naEscola Estadual Castro Alves Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
Escola na Chácara Santo Antônio
Estudante controla chaves das dependências da EscolaEstadual Saboia de Medeiros, no bairro Chácara Santo Antônio, na zona sul de São Paulo Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
Escola na Chácara Santo Antônio
Alunos pintam fachada da Escola Estadual Saboia de Medeiros, no bairro Chácara Santo Antônio, na zona sul Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
Escola em José Bonifácio
Estudantes também ocupam aEscola Estadual Salvador Allende, no bairro José Bonifácio, na zona leste Foto: ALE VIANNA/ELEVEN
Escola na Vila Jaraguá
Alunos protestam na Escola Estadual Professor Pio Telles Peixoto, na Vila Jaraguá, zona oeste Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Escola em Campinas
Estudante protestam na Escola EstadualCarlos Gomes, na cidade de Campinas, interior de São Paulo Foto: DENNY CESARE/CÓDIGO19/PAGOS
Escola em Guarulhos
A E.E.Conselheiro Crispiniano, na Vila Progresso, em Guarulhos, foi ocupada por alunos em 23 de novembro em protesto contra a reorganização da unidade... Foto: Felipe Cordeiro/EstadãoMais
Contra reorganização escolar
Alunos da Escola Fernão Dias Paes inteditam cruzamento contra o fechamento de escolas da gestão Alckmin (PSDB). Foto: Werther Santana/Estadão
Protesto de estudantes na 9 de julho
Os policiais jogaram spray de pimenta e bombas de efeito moral contra os manifestantes. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO
PM e estudantes entram em confronto em protesto na Dr. Arnaldo
Jovem é dominado por policiais militares e encaminhado a delegacia após protesto na Avenida Doutor Arnaldo, na zona oeste da capital paulista Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press
Ferido em protesto na Avenida Doutor Arnaldo
Estudante de 16 anos foi ferido no ombro; ele diz que foi agredidos pelos PMs Foto: Luiz Fernando Toledo/Estadão
A informação do grande número de fechamento de salas neste ano foi vista pelo maior sindicato dos professores do Estado (Apeoesp), pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público como tentativa de levar o projeto adiante. “Com efeito, imprescindível confirmar a informação trazida pelos autores, no sentido de que mais de 1.100 salas de aula foram fechadas neste ano de 2016, porquanto a grandeza do número referido aparentemente não se coaduna com as medidas ordinárias de simples administração – salvo a existência de justificativa plausível –, e remete a questão a uma provável reforma mais ampla”, diz a juíza.
“A partir do momento em que a secretaria aumenta o número de alunos por sala com uma resolução e, com isso, consegue fechar algumas turmas, isso parece uma estratégia para justificar o fechamento de salas. É um indício, ao menos”, diz a defensora pública Mara Ferreira.
Para a pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) Lilian L'Abbate Kelian, pesquisadora do Cenpec, a decisão judicial favorece a discussão da reorganização. "Parece que há um movimento de reorganização, mas diferente daquele proposto no ano passado e rechaçado pelos estudantes e pela sociedade civil. Há notícias de que aumento do número de alunos por sala. Para que essa ou qualquer medida seja tomada, há necessidade de discussão com a sociedade", disse.
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De acordo com ela, faltam dados para investigar a fundo o que ocorre na rede estadual e entender por que as salas estão sendo fechadas. "É muito difícil acessar os dados da rede estadual, o governo não consegue apresentá-los para a sociedade. E para analisarmos a nova proposta, só conhecendo os dados . Precisa de reorganização? Se sim, vai haver uma economia de recursos. Para onde iriam?", questiona.
A escola que queremos. A decisão da magistrada ainda aponta “ausência de medidas concretas e efetivas” sobre o cronograma da realização da reorganização proposta pelo Estado para 2017. Desde a posse do secretário José Renato Nalini, neste ano, a pasta tem apostado em uma série de encontros com os estudantes, que chamou de “A Escola que Queremos”, para dialogar com os alunos.
Procurada, a Secretaria da Educação do Estado voltou a dizer que não há “reorganização velada” em curso na rede estadual de ensino. “Todas os esclarecimentos têm sido prestados à Justiça. A rotina de atendimento da rede pública já prevê uma variação de demanda. Em 2015, no primeiro dia de aula, foram 18 mil pedidos de matrículas e 36 mil de transferência. Com isso, é natural a abertura de salas onde há maior procura.”