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Jovens do ensino público sonham menos, constata Unesco

Essa conclusão está no livro Ensino Médio: Múltiplas Vozes, coordenado por Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro

Por Agencia Estado
Atualização:

Pesquisa da Unesco em 13 capitais brasileiras mostra que a diferença social também "marca e divide" os sonhos dos alunos do ensino médio. Enquanto alunos da escola privada estão preocupados com o vestibular, os da pública se ocupam em arrumar emprego, ao terminar o ensino médio. A carência de bagagem cultural começa em casa. Mães com nível superior representam 10% do total nas escolas pública. Já nas privadas, o porcentual é de 45%. Na maioria dos casos, os alunos das públicas estão em desvantagem em relação aos das privadas em termos de acesso a inclusão digital, laboratórios e atividades extra-curriculares. Em São Paulo, por exemplo, 76% dos alunos das escolas públicas não usam computador em sala de aula, porcentual que cai a 14% nas privadas. A diferença aumenta se houver comparação entre os alunos que não possuem computador em casa e estudam na rede pública (62%) e os da particular (18%). Essas diferenças podem ser maiores entre as capitais. As conclusões estão no livro Ensino Médio: Múltiplas Vozes, coordenado pelas pesquisadoras da Unesco Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro, lançado nesta terça-feira no Ministério da Educação. O livro traz retrato do ensino médio a partir de entrevistas feitas com mais de sete mil professores e 50.740 alunos de 673 escolas públicas e privadas, em 2001. Pela pesquisa, 66% dos alunos das escolas públicas não têm aulas de ciências em laboratórios, mas o porcentual varia por capitais entre 92% (Macapá) a 42% (São Paulo). Nas privadas, o porcentual médio é de 32%, com uma variação entre 86% (Rio Branco) a 9% (Curitiba). Esclusão docente A falta de familiaridade com computador atinge também mais professores da rede pública do que os das particulares, quando ambos deveriam usá-lo como instrumento de trabalho: 31% dos professores das públicas não têm computador em casa contra 15% dos professores de privadas. As pesquisadoras constataram que os alunos tendem a se culpar pelo fracasso na escola. Para Miriam, este comportamento denota falta de auto-estima. Também os professores atribuem ao "desinteresse" do aluno os maus resultados. Em São Paulo, os professores disseram que 71% dos problemas da escola são os alunos desinteressados. A maioria dos alunos (57%) também concorda. Para os professores a repetência está ligada a causas externas à escola, como família e condições socioeconômicas. "Direciona-se somente para os alunos uma análise que poderia estar orientada para o sistema escolar", observa Miriam, que na análise considera também problemas institucional e estrutural. A má qualidade do ensino e o desinteresse faz com que metade dos alunos já tenha sido reprovada pelo menos uma vez nas escolas públicas, enquanto que nas privadas o porcentual se limita a 25%. A reprovação, em que o aluno ainda tem chance de recuperação, é maior entre os estudantes do período noturno (65%) do que no diurno (40%). A distância também é grande entre os que repetiram de ano, ou seja, ficaram retidos na mesma série que cursavam: 43% nas públicas e 19% nas privadas. Infra-estrutura As desigualdades entre escolas públicas e privadas são nítidas ainda em relação à infra-estrutura. A pesquisa mostra que as prioridades dos alunos para a escola pública são, por ordem, centro de informática, laboratórios, mais computadores. Já, nas privadas, pede-se mais liberdade, mais atividades extra-classe e mais esporte, o que reflete falta de espaço além das salas de aulas. Numa escla de 0 a 10, os alunos das escolas públicas deram notas entre 4,7 e 6,3 para as salas de aulas. Já os das particulares; entre 6,4 e 7,8. Os banheiros foram a instalações que mais receberam notas zero dos alunos. "Como aprender, desenvolver o gosto e o prazer pelo trabalho em locais esteticamente feios que algumas vezes parecem prisões?", questiona Miriam. De acordo com ela, muitos professores e diretores de escolas públicas "aceitam o mínimo (de infra-estrutura) como privilégio, alguns se contentam porque o teto não cai".

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