
20 de julho de 2014 | 02h03
Formado em Administração Pública, Alex Bretas, de 23 anos, é um dos entusiastas da pós-graduação sem diploma. Ele pretende iniciar, no segundo semestre, um projeto de pesquisa sobre cinco modelos alternativos de aprendizagem entre adultos - inovadores como o próprio formato escolhido por ele para a investigação. "Sempre tive inquietações sobre os sistemas de ensino tradicionais, feitos na universidade. Quero seguir um caminho diferente, mais autodidata e interativo."
Para custear um livro, produto final do trabalho, Bretas recorreu ao crowdfunding - espécie de "vaquinha" online para projetos colaborativos. E teve sucesso: em 17 dias ele conseguiu os cerca de R$ 8,9 mil pedidos para o projeto. A verba também servirá, segundo ele, para custear atividades de campo.
No lugar de mestres e doutores de uma mesma linha de pesquisa, a orientação será múltipla. "É autônomo, mas não um voo solo. Posso contar com a ajuda de quem for, do Brasil e de fora. Minha tarefa é buscar e pedir essas colaborações", explica ele, que cogitou levar a ideia de pesquisa para uma universidade pública. "Desisti até para ser mais coerente com meu objeto de estudo", justifica.
Lições da experiência. O jornalista André Gravatá, de 24 anos, é um veterano no doutorado informal. Em julho de 2012, ele começou sua pesquisa independente. Seu produto final será um romance, em que discutirá relações estéticas, políticas e sociais. Essa não é a primeira incursão de Gravatá na educação "fora da caixa". Ele também é um dos autores do livro Volta ao Mundo em 13 Escolas, lançado em 2013, em que, junto com três amigos, relata experiências de visitas a centros de aprendizagem inovadores de nove países.
"Quando terminei minha graduação, pensei em fazer outro curso, como Filosofia ou Artes, mas optei por um projeto próprio", lembra o jovem, que montou um blog que serve tanto como registro da trajetória quanto de plataforma de acompanhamento do trabalho. "A abertura é fundamental. A academia é muito fechada, restrita a um grupo pequeno. E há bem menos diversidade de percursos."
Para contribuir com as pesquisas, a internet também foi aliada. Ele usou redes virtuais de tutores, que ajudaram a pedido de Gravatá ou espontaneamente, com indicações de leituras ou reflexões. Como nos doutorados acadêmicos, o relacionamento com orientadores é também um desafio. "De alguns, não tive resposta. Com outros, as conexões se enfraqueceram ao longo do tempo", relata ele, que também não dispensa encontros presenciais. "Já tive orientação até em uma viagem à Índia, com um mestre que discutia filosofia oriental", conta.
Outra aprendizagem do percurso independente, de acordo com ele, é manter a disciplina. "É preciso organizar os processos, criar um mapa de estudos para não se perder." Embora cogite fazer uma pós formal no futuro, Gravatá não faz questão do aval da universidade. "Não há necessidade de legitimação, mas seria interessante construir junto com a academia."
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