Jogos ajudam escola a ensinar matemática

Para tonar mais atraente o aprendizado, colégios privados de São Paulo utilizam tecnologia, música e até um tabuleiro gigante

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Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - Geometria, raiz quadrada, frações. Só de serem citados, os termos matemáticos podem provocar temor em muitos alunos. Uma das disciplinas com maior resistência entre os estudantes, a matemática está ganhando novos aliados em escolas particulares de São Paulo. As instituições estão usando tecnologia, jogos eletrônicos e de tabuleiros e música para tornar a disciplina mais atraente e menos assustadora. 

“Alguns alunos chegam bastante resistentes com a matéria, achando que é difícil e chata. O professor tem a dupla função: ensinar e desconstruir o preconceito”, disse Ana Claudia Fernandes, professora de matemática no colégio Santa Maria.

Alunos do colégio Pio XII aprendem matemática de uma forma diferente:com aulas de xadrez. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Para quebrar esse preconceito, Ana Claudia adotou no ano passado o uso de jogos de tabuleiro em sala de aula. Para isso, ela mudou a estrutura da aula, que já começa com os jogos e depois com a explicação do conceito matemático. “Eles brincam por um tempo para ter um primeiro contato com a matéria e só depois eu explico. Como eles já tiveram esse contato, fica mais fácil de entender”, contou a docente. 

Depois da explicação, os alunos voltam a jogar. “Não adianta só colocar o jogo para descontrair a aula, é preciso mudar o método de ensino para explorar toda a potencialidade da estratégia. Com o jogo, eles se sentem desafiados, ficam mais concentrados, elaboram estratégias e assim têm um aprendizado muito mais significativo”.

Para aumentar a concentração e estimular o pensamento lógico dos alunos, o professor de matemática Marco Malzone, do colégio Pio XII, desenvolveu um projeto para ensinar xadrez para o 6.º ano do fundamental. Os alunos podem jogar sozinhos em iPads, em duplas em tabuleiros e até em grupo na versão gigante do jogo. “Para jogar xadrez, eles precisam ficar atentos e montar uma estratégia. Essas habilidades são imprescindíveis para se aprender matemática”, disse.

Além disso, Malzone também passou a usar música em sala de aula. Depois de explicar o conteúdo previsto para a aula, ele passa os exercícios para que os alunos façam sozinhos, enquanto ouvem músicas que eles mesmos escolhem. “A maioria dos adolescentes já estuda ouvindo música, então é uma forma de se sentirem mais à vontade em sala. E pesquisas mostram que a música pode aumentar a concentração no estudo de matemática”, disse. 

Na Escola Internacional de Alphaville as aulas de geometria do 6.º ao 8.º ano do fundamental são dadas com o apoio de um software em iPad, que é de uso obrigatório, o Geogebra. “Dou os conceitos iniciais e com o software vamos aprofundando a explicação. O uso do software já toma quase 95% da aula. Os alunos adoram mexer com tecnologia e se sentem mais próximos da matemática”, disse Roney do Nascimento, professor da disciplina.

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Já no Marista da Glória, a proposta é que os próprios alunos do 7.º ano criem jogos matemáticos. “Com os conceitos que aprenderam, eles criaram os jogos. Assim, eles fizeram conexões com vários conceitos, fortaleceram as estruturas lógicas e o conhecimento foi mais profundo”, disse Kelly Sacardi, coordenadora de matemática.

Empatia dos Estudantes. Para os educadores, “conquistar” os alunos para a matemática no ensino fundamental é importante para não criar distanciamento e desinteresse que se arrastem até o ensino médio. “No início, os alunos ainda estão empolgados e curiosos. Mas no ensino médio há um grande desinteresse. Isso significa que há um problema no meio do caminho”, disse Aline dos Reis Matheus, educadora do Centro de Aperfeiçoamento do Ensino de Matemática da USP.

Para eles, é preciso que os pais se policiem para evitar perpetuar o preconceito com a disciplina. “Ao falarem que não querem ajudar a fazer a lição de matemática, repetirem que é difícil e evitarem fazer contas, os pais passam uma mensagem errada, criando um estigma”, disse Ana Claudia Fernandes, professora do colégio Santa Maria. 

Também é preciso que os pais deem autonomia para as crianças, já que a metodologia de ensino mudou nos últimos anos. Gisele Vitale, de 42 anos, ajuda a filha Ana Clara, de 10 anos, com os deveres, mas viu que muito do que aprendeu mudou. “Ela não entendia os termos que eu usava, porque não é mais ensinado assim. Ela pediu para que eu a deixasse fazer sozinha”, contou.

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