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Janela para o amanhã

As dúvidas causadas pela pandemia e o calendário do Enem desafiam alunos e professores e mexem com exames de admissão, aulas e rotinas nas universidades

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Por Daniela Saragiotto
Atualização:
5 min de leitura
Foto: Getty Images 

É improvável que viver o primeiro dia de aula pelo computador, sem pisar no câmpus universitário, seja o desejo de estudantes que há anos se preparam para o vestibular. Mas o enfrentamento do novo coronavírus impõe possibilidades como essa, que geram ansiedade e dúvida. A instabilidade – turbinada pelas incertezas ao redor do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – transforma também expectativas e rotinas de quem planeja e executa as provas nas redes públicas e privadas. Todas as decisões dependem da evolução da pandemia e elas podem ter de ser revistas e adaptadas a qualquer momento. 

“É tudo muito incerto e temos que trabalhar com vários cenários ao mesmo tempo”, diz Milton Pignatari, coordenador de vestibulares da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Por ora, a instituição mantém o foco no processo seletivo do meio deste ano. Pignatari explica que o plano A é aplicar as provas na primeira semana de julho e dar início ao ano letivo em agosto, tudo presencial. “Também consideramos fazer avaliações e, em último caso, as aulas, de forma virtual.” 

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Anos anteriores

Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o ingresso dos estudantes no vestibular de inverno vai considerar as notas do Enem dos dois últimos anos. A lista de aprovados em primeira chamada será divulgada no dia 3 de julho. “Temos diferentes planos de contingência para manter a universidade em funcionamento com a flexibilidade que o momento exige”, diz Alexandra Geraldini, pró-reitora de Graduação. Ela define a fase como desafiadora para alunos e professores e enxerga elementos positivos. “A valorização da autonomia e a da disciplina no processo educacional são aspectos muito favoráveis. Nossos jovens terão de rever conceitos e alargar a visão sobre formas de realizar atividades profissionais e dinâmicas de trabalho presencial ou online”, avalia Alexandra.

 Todas as decisões dependem da evolução da pandemia e elas podem ter de ser revistas e adaptadas a qualquer momento

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Ao tentar uma vaga na Fundação Instituto de Administração (FIA), o candidato também poderá apresentar notas do Enem dos últimos dois anos. As inscrições para 2021 já estão abertas e há outras novidades. A instituição pede aos candidatos que enviem um vídeo sobre como se enxergam como administradores no futuro, além de realizar online a entrevista – uma das etapas mais tradicionais do processo seletivo. “É uma maneira que encontramos de estimular os candidatos a usar novas formas de comunicação, como o momento exige”, diz Maurício Jucá de Queiroz, diretor acadêmico da FIA.

Tudo em casa

Na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), entidade vinculada à Universidade de São Paulo (USP), o vestibular de inverno será 100% online. Jhonatan Hoff, coordenador de Graduação da Fipecafi, conta que essa modalidade já existia, junto com a presencial, mas dependia da forma de ingresso do aluno. Definido o processo seletivo mais próximo, os esforços agora estão concentrados no planejamento das aulas. Aumentar o distanciamento físico entre alunos, formar turmas menores e mesclar aulas presenciais e remotas são algumas possibilidades. “É importante ter em mente que não basta transportar uma aula para o online; é preciso ter professores capacitados e usar outras estratégias de aprendizagem”, diz Hoff. O ensino a distância na Fipecafi existe desde 2016 e, segundo Hoff, faz muita diferença a modalidade já ter sido testada e aprovada.

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 Vestibular 100% online e notas de edições anteriores do Enem estão entre as soluções encontradas na instabilidade

Fuvest, Unesp, Unicamp

Responsável pela seleção de alunos para a USP, a Fuvest decidiu manter o calendário original das provas, mas admite que pode mudar, principalmente porque ainda não foram definidas as datas do Enem (ver destaque nesta página). “Nós também aguardamos esse desfecho para adotar com maior objetividade as medidas para a realização do vestibular 2021”, diz Belmira Oliveira Bueno, diretora executiva da Fuvest e professora titular da Faculdade de Educação da USP. Considerando o calendário original, as inscrições vão de 10 de agosto a 18 de setembro, com provas da primeira fase em 28 de novembro.

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O protocolo da Fuvest inclui ampliação do número de locais de realização das provas, com o objetivo de aumentar a distância entre os candidatos, e oferta de álcool em gel para estudantes e profissionais que atuam na aplicação do exame. Os inscritos serão orientados a usar máscara – ela só deverá ser retirada durante o reconhecimento facial. 

Na Unesp, as inscrições ocorrem entre 8 de setembro e 8 de outubro, com provas da primeira fase marcadas para 15 de novembro. “Por enquanto, o planejamento segue normalmente, com edital em preparação que será discutido nos colegiados da universidade em junho. Há possibilidade de alteração das datas, a depender do avanço da pandemia, mas isso ainda será discutido”, explica Gladis Massini-Cagliari, pró-reitora de Graduação da Unesp. Para ela, o desafio maior é manter o processo seletivo amplo e igualitário, dando acesso e oportunidades iguais a todos. “O lado bom, caso haja alteração nas datas, é a garantia de maior participação, uma vez que há dificuldades geradas tanto pelo atraso dos calendários das escolas de ensino médio quanto pela falta de acesso à internet, sobretudo entre os egressos da escola pública”, explica Gladis.

Avaliação diferente

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A Unicamp suspendeu, por enquanto, o calendário para 2021. A universidade aguarda orientações do Ministério da Educação (MEC) sobre as datas do Enem. “A primeira fase não ocorrerá antes de janeiro de 2021”, diz José Alves de Freitas Neto, diretor da Comissão de Vestibulares da Unicamp (Comvest). Do ponto de vista acadêmico, a instituição já tomou diversas decisões considerando que houve uma ruptura no processo de aprendizagem. “Temos clareza de que o terceiro ano não está sendo trabalhado por grande parte dos jovens. Diante disso, reduzimos o número de obras literárias obrigatórias de 12 para 7, considerando a falta de acesso às bibliotecas”, explica o professor. “E há uma orientação para que as bancas tenham foco nas competências, no raciocínio lógico e nos referenciais básicos do ensino médio.” A Unicamp também informa que tomará, na realização das provas, todas as medidas sanitárias, de logística e para evitar aglomerações.

A questão do Enem

No dia 20 de maio, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que faz parte do Ministério da Educação (MEC), informou por nota que o Enem foi adiado em “30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais” e que a definição sairá de uma consulta online com os inscritos – os critérios não foram divulgados. Procurado pela reportagem, o MEC não respondeu. O Enem é a porta de entrada para mais de 200 mil vagas em cerca de 130 instituições por meio do Sisu, o sistema eletrônico que seleciona os candidatos conforme suas notas. Em condições normais, o exame ocorre em novembro e as vagas são liberadas em janeiro. Se adiado por 60 dias da data dos editais, as aprovações sairão em março ou abril de 2021. Mais de 4 milhões de estudantes inscreveram-se neste ano.

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